Renovação do cenário político. Este é um anseio da população brasileira que se transformou em um fenômeno, observado principalmente nas últimas eleições. Em 2018, a Câmara dos Deputados teve a maior mudança desde a redemocratização na década de 1980, com um total de 243 parlamentares de primeiro mandato.
Ingressar no sistema, porém, não é tarefa fácil. E justamente ao observar essa demanda é que os movimentos de renovação política começaram a ocupar o espaço de formação de quem quer mudar o cenário brasileiro, muitas vezes, também monitorando a ética e a prática dos valores dos líderes formados por eles.
A nove meses das eleições municipais 2020, A Gazeta conversou com quatro dos principais grupos, que já estão preparando lideranças para disputar o pleito de outubro e esperam uma renovação ainda maior. A expectativa é ter cerca de 110 candidatos só no Espírito Santo tanto para os cargos de prefeitos, quanto para as cadeiras de vereador.
Com foco nas eleições municipais deste ano, o RenovaBR já realizou um primeiro curso, no qual 50 alunos eram capixabas. Em termos absolutos eu tenho certeza que é um aumento. Para ter uma ideia, em 2018, haviam sido selecionados 130 pessoas, ao todo, comentou o diretor de formação Erick Jaques, que não soube precisar se todos irão para a disputa.
Já o Acredito espera ter de 30 a 50 líderes se candidatando no próximo pleito, tanto ao Legislativo, quando ao Executivo. O número, no entanto, ainda é uma estimativa, já que o período para inscrições para o processo de formação ainda não terminou. Esse aumento da mobilização também reflete na volta do núcleo estadual, que ficou inativo por quase 18 meses.
Nessa crescida do engajamento político brasileiro, o movimento Livres viu o número de capixabas interessados no curso para pré-candidatos saltar de apenas um em 2018 para dez, neste ano. Devemos ter líderes para vereador e também para a prefeitura das cidades de Vitória, Cariacica e Domingos Martins, adiantou Mano Ferreira, diretor de comunicação e um dos fundadores.
Por meio da assessoria, a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) afirmou que já tem 11 lideranças políticas dois atualmente sem filiação partidária e que cinco delas já manifestaram interesse no pleito de outubro. Por respeito à soberania dos partidos, o grupo preferiu não passar mais informações a respeito dessas cinco pessoas.
Sem exceção, todos têm uma rigorosa etapa de pré-seleção que faz o número de 7 mil inscritos cair para 98 selecionados, como no caso do programa da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps). "Há questionários de alinhamento, entrevistas e ampla avaliação das trajetórias profissional e política", explicou a organização por meio de nota.
Depois de passarem por um crivo não menos rigoroso, a principal escola de política do Brasil formou 1.170 alunos no ano passado, já de olho para as eleições municipais. Foram 90 horas de dedicação, trabalhando três principais pilares: educação política, desafio dos municípios e lideranças políticas, detalhou Erick Jaques, do RenovaBR.
O preparo desses futuros políticos, por parte dos movimentos, acontece de diversas formas: por meio de workshops, de cursos à distância (EAD) e de aulas e encontros presenciais. Por causa das eleições, todos estão com inscrições abertas ou que ainda serão para cursos neste ano, com términos anteriores ao início do segundo semestre.
Durante o processo, os movimentos também estabelecem acordos formais ou não com os alunos. No caso do Livres, existe a assinatura de um código de ética e de dez compromissos relacionados aos costumes e à economia. Qualquer associado pode ser expulso caso fira esses pontos, explicou Mano Ferreira.
Se objetivo é propor a renovação política, é natural que os alunos apareçam como candidatos a cargos eletivos embora não seja uma certeza. Para isso, no entanto, não basta querer, já que a Constituição Federal prevê a filiação partidária como uma das exigências da elegibilidade. Ou seja, é preciso ter um partido para disputar as eleições no Brasil.
Pregando liberdade de escolha e diversidade, os grupos não interferem na escolha de qual sigla deve ser escolhida. A última turma do RenovaBR, por exemplo, teve alunos de 30 diferentes partidos, de acordo com a própria organização. O Livres também não sinaliza restrição, mas comentou que partidos extremistas não têm afinidade com o movimento.
No entanto, a relação dos grupos de renovação política e dos partidos não termina aí. Na verdade, o principal debate recai sobre a disputa de espaço entre as partes no que diz respeito à atuação na campanha, no processo de formação e, principalmente, no amparo em relação a valores e ideologias.
Líder estadual do Acredito, Julietty Quinupe enxerga um crescimento na procura por tais auxílios fornecidos pelos movimentos. Vejo uma crescente de pessoas que buscam um espaço para aprender e para ter apoio que não seja do partido, porque às vezes elas não se sentem representadas 100% pela sigla, analisou.
Diante do que já foi feito e do que está sendo feito, há uma unanimidade para os movimentos a respeito do cenário político brasileiro: a renovação é um processo longo, que já começou e que deve crescer ainda mais inclusive já nestas próximas eleições em outubro. Tudo graças ao maior engajamento da sociedade.
Essa mudança tem dois lados: o do eleitor, que não se sentia representado e quer votar em pessoas diferentes; e o de quem quer fazer diferente, ser agente dessa transformação e que se candidata com esse intuito. São tendências que devem seguir aumentando pelo menos até 2022, apontou Erick Jaques (RenovaBR).
O reflexo desse desejo de renovação já pode ser visto na política, de acordo com os movimentos. Acho que o processo já conseguiu contribuir ativamente em pautas muito importantes para o país, como a educação e o saneamento básico. Essas pessoas eleitas em 2018 conseguiram aumentar o nível do debate, analisou Mano Ferreira (Livres).
Agora, com as eleições municipais como foco, os grupos também apontam uma singularidade. Nas cidades, o impacto de uma transformação é sentida mais rápida, porque estamos lidando com problemas do dia a dia. Já no âmbito federal, o impacto é maior, mas também mais lenta. Vai fazer diferença daqui 10 ou 20 anos, comentou Julietty Quinupe (Acredito).
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