Se depender dos planos de governo dos candidatos a prefeito da Grande Vitória, as cidades terão um exército de guardas municipais, câmeras espalhadas para todos os lados, cercos inteligentes para identificar carros com restrição de furto e até reconhecimento facial nas ruas. Mas será que uma sociedade mais vigiada é suficiente para reduzir os índices de violência e o medo das pessoas ao sair de casa?
Para especialistas, essas propostas são, sim, importantes para diminuir a criminalidade, mas sozinhas não vão impedir que crimes continuem acontecendo nos municípios.
Entre os 48 candidatos a prefeito de Serra, Vitória, Cariacica e Vila Velha, as palavras mais usadas nos planos de governo são "guarda", com 55 ocorrências; "municipal" (43); e "segurança" (41). As palavras "cerco" relacionada ao cerco inteligente de segurança, já testado em Vitória e "câmeras", a respeito do videomonitoramento, aparecem 18 e 17 vezes respectivamente.
Nos campos dos planos de governo voltados à segurança pública, as palavras associadas à prevenção, ou às ações para evitar que o tráfico continue assediando adolescentes para o crime, só aparecem a partir da 18ª posição. "Prevenção" foi encontrada 10 vezes entre os 48 planos analisados; "social" (10); "comunidade" (8); "direitos" (4); "escolas" (4) e "juventude" (4).
Em uma eleição, muitas vezes as propostas que trazem uma sensação de segurança, como colocar guardas em cada esquina e câmeras em cada poste podem ser mais palatáveis para a maior parte da população.
Contudo, o policial federal e mestre em segurança pública Fabrício Sabaini destaca que tão importante quanto a repressão, a prevenção de crimes é essencial. Além disso, ele destaca que é neste quesito em que o município, entre os entes federados, tem maior alcance para agir, uma vez que estão mais próximos das necessidades do cidadão.
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Questionamos os especialistas quais as propostas na área de segurança pública são as mais importantes ao analisar nos planos dos candidatos. Para Pablo Lira, uma das práticas que têm feito mais sucesso em lugares que conseguiram reduzir níveis elevados de criminalidade é o diálogo, trazendo uma maior participação da comunidade ao se planejar a cidade.
"Em lugares como Nova York (EUA), Medellín (COL) e Bogotá (BOL), os gestores conseguiram diminuir significativamente os índices de violência ao fazer um diálogo de verdade com as lideranças comunitárias, colocando-as no centro das decisões. É o morador que conhece onde os jovens costumam ficar e o que querem fazer, onde as pessoas sentem maior medo e o que pode ser feito para melhorar a vida em comunidade. Uma iluminação em uma praça, um incentivo ao esporte em uma quadra, um terreno baldio que é ocupado e deixa de se tornar uma boca de fumo: isso faz diferença. O município tem papel-chave na segurança pública e isso vai muito além de aumentar a Guarda", analisa Pablo Lira.
Fabrício Sabaini aponta para a educação e o preparo de jovens para o mercado de trabalho como um dos principais fatores para que a criminalidade não se torne o caminho mais viável de renda em locais de maior vulnerabilidade social. Neste sentido, entre o papel dos municípios está o de fornecer ensino infantil e fundamental para seus estudantes. Além de que também está ao alcance das prefeituras fornecer cursos profissionalizantes.
"A maioria absoluta de nossos presidiários não tem ensino médio. O grande percentual de crimes letais dos quais são vitimas também pessoas sem ensino médio nos traz a hipótese que a falta de qualificação pode ter correlação com a mortandade juvenil. Investir em formação para gerar emprego e renda é mostrar um caminho mais claro para uma parcela da população imatura", afirma.
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