Após anunciar que não seria candidato à reeleição nem que se candidataria mais a nenhum cargo eletivo, o governador Paulo Hartung (MDB) participou de uma entrevista à Rádio CBN Vitória na manhã desta terça-feira (17). Na conversa, falou da prática política no país, dos riscos de pedir uma intervenção militar e das eleições deste ano, onde revelou a tentativa de um nome para substituí-lo na disputa pelo Anchieta: o ex-secretário Eugênio Ricas.
> "Há um congestionamento de candidatos da base", diz Hartung
Obras que não foram entregues durante o mandato e a polêmica sobre a compensação da ferrovia Vitória-Minas, além da sua desfiliação do MDB, fizeram parte do bate-papo. Confira os pontos principais e ouça a entrevista completa ao programa CBN Vitória:
"SACUDIR O ESPÍRITO SANTO"
Perguntado sobre uma frase dita no início do mandato de que iria sacudir o Espírito Santo, o governador respondeu que acha que sim. " No sentido objetivo da palavra, sacudimos o Espírito Santo. Você vê o que aconteceu com o Brasil nesse período. Quando eu disputei a eleição em 2014, falei que o Brasil estava indo para uma direção ruim. Para um caminho ruim que vai trazer muito sofrimento aos brasileiros... Dizia que o Espírito Santo estava igual passarinho que acompanha morcego e, se continuar desse jeito, vai acordar de cabeça para baixo. Isso é um ditado lá da roça. Porque o ES estava assumindo despesas superiores à capacidade de financiá-las, a partir da receita do Estado. Eu vim sacudir o Estado. Coloquei em cima do trilho de novo. Organizei as contas".
> Hartung: "Vivemos um surto grave de populismo no Brasil"
INTERVENÇÃO MILITAR
"Eu sou um democrata. Eu acredito na democracia. Quando eu vi na greve dos caminhoneiros aquelas faixinhas pedindo intervenção militar, eu fique arrepiado com aquilo. Aquilo não é caminho para o país. Aquilo é descaminho. Precisamos conversar com a juventude, para que saiba que no período do regime militar, nem aquelas faixas podiam ser estendidas, porque não tinha direito de manifestação e expressão."
CAIS DAS ARTES
O governador garantiu que, na última semana, o entrave na Justiça que impedia o andamento da obra do Cais das Artes, em Vitória, acabou. De acordo com ele, em breve o Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo (Iopes) e Secretaria de Estado dos Transportes e Obras Públicas (Setop) irão licitar a empresa que retomará a construção que já se arrasta desde abril de 2010, último ano do segundo mandato do emedebista como governador, naquela época.
NOMES NA DISPUTA
Em uma parte da entrevista que cita nomes possíveis para o governo do ES, Hartung acrescentou à lista o professor Aridelmo Teixeira. "Interessante. No momento em que você está com a política no Brasil em crise, a política está no chão, literalmente no chão. A política, não a ferramenta civilizatória, a prática política no Brasil está no chão. Está sem credibilidade junto à população. Você vê uma pessoa bem-sucedida como o Aridelmo se colocar à disposição de um processo desse, eu dou muito valor a isso. Eu tô falando isso porque não sei o que vai ficar de pé, o que vai ser articulado. Mas se você ver a trajetória profissional de Aridelmo, eu tentei até levá-lo para o governo recentemente. Uma trajetória lindíssima do Aridelmo. A Fucape no Brasil é um case. É um belo administrador. Acho que é isso que eu preciso incentivar: novos nomes, novos ares e assim por diante".
E continuou: "O César é um extraordinário vice-governador que nós temos. Pessoa experiente, treinada. Eu tenho muito respeito pela trajetória do César, pela capacidade de trabalho dele, já assumiu muitas funções na vida pública. Aonde assumiu não deixou a peteca cair. Mas eu quero fazer uma ressalva: essa construção não é da minha competência... Essa construção tem que ser feita pelos líderes partidários. Eu não sou liderança partidária. E a construção que sair, aí sim, eu vou me debruçar sobre ela e ver qual é o passo que eu devo dar. Casa coisa ao seu tempo. Está muito pertinho dessas decisões serem tomadas... A partir dos registros das candidaturas, o Paulo Hartung toma uma posição".
EUGÊNIO RICAS
Questionado se não poderia ter saído um nome da equipe dele para disputar a eleição, o governador disse que tentou. "Eu tinha um nome, vou fazer uma confissão aqui. Um nome que eu via muito potencial. Pela capacidade de oratória, fala muito bem, uma liderança precisa se comunicar muito bem. O líder precisa ter a capacidade de conversar, de explicar as coisas. Essa pessoa que eu pensei que poderia assumir essa função escreve muito bem e é um ótimo gestor. Trabalhou no governo que me antecedeu, eu via o talento dele. Quando eu me elegi, eu chamei ele para ficar na equipe. Ele é policial federal, foi o segundo homem da Polícia Federal durante um tempo lá em Brasília, que é o Eugênio Ricas. Mas o que eu o Eugênio me disse, que a sua reflexão de vida pessoal, familiar, levava para um outro caminho. Ele vai ser adido em Washington. Ele está seguindo um caminho, e eu respeito as opções pessoais. E tem um nome que foi trabalhado o tempo inteiro dentro do governo dando oportunidade para se apresentar à sociedade, que é o vice-governador. Um nome fora da política foi trabalhado e um nome que já tem experiência na vida pública, que é o César Colnago".
ANDAMENTO DE OBRAS
"Quando você chega no governo, assume a responsabilidade de governar e o dinheiro está encolhendo e foi o que aconteceu. Já estava com uma crise em curso desde o ano anterior ao que eu cheguei ao governo. Você precisa ter senso de responsabilidade. Tem hora que você tem que escolher. Começa a estrada lá em São Mateus ou mantém os hospitais funcionando? A decisão é manter os hospitais funcionando... Nós priorizamos na nossa visão o que era essencial para a vida da população."
Rodovia Leste-Oeste
"Lá não foi falta de dinheiro. Não foi a questão da priorização. É um problema da empresa que executa. A empresa tem problemas. Um empresário tradicional no nosso Estado, teve problemas, foi para a recuperação judicial a empresa dele. Quando a empresa vai para a recuperação judicial, fica meio engessada, porque ninguém quer vender para ela a prazo, porque tem medo de não receber. Ela só pode comprar asfalto à vista. Só pode comprar serviços complementares à vista. É isso que atrasou. Agora, a Leste-Oeste está chegando ao ponto da gente dar passagem lá."
Avenida Leitão da Silva
"É outro tipo de problema. Nós pegamos um projeto que não era de boa qualidade., porque ele não tinha a estrutura de drenagem compatível com aquela região. Nós tivemos que usar o contrato que estava em vigor para uma parte da obra e relicitar um outro contrato para complementar a obra."
SAÍDA DO MDB
"Em algum momento vou me desfiliar do partido. Posso ter filiação partidária no futuro. Acho importante ter filiação partidária, mas precisa reorganizar esse quadro partidário do Brasil. Ele está uma esculhambação".
SITUAÇÃO DA FERROVIA
"O governo federal ainda não respondeu sobre a antecipação da concessão. Estão fazendo cara de paisagem. Mas nós sabíamos que isso podia acontecer e demos entrada na Justiça. Queria dar a boa notícia que o processo já andou na Justiça. Já foi despachado para ouvir a própria Vale, ouvir o Ministério Público Federal. A procuradoria me informou disso ontem. Eu tô muito esperançoso na posição do Ministério Público Federal, porque o valor dessa concessão está subestimado. São duas ferrovias rentáveis, a Vitória-Minas transporta 110 milhões de toneladas de minério de ferro por ano e a Carajás transporta 150 milhões. Quatro bilhões de reais para renovar por mais 30 anos está claro que está subestimado. Eu acho que na hora que o Ministério Público pedir ao governo federal qual é a matriz de cálculo desse valor vai entender que está errado e acho que isso vai ser motivo para suspender. Suspendendo, nós vamos para o diálogo."
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta