De um lado, o prefeito da Serra, Audifax Barcelos (Rede), pede escolta policial ao governo e diz publicamente que o crime organizado quer apeá-lo do poder, em ataque direto ao presidente da Câmara. Do outro, Rodrigo Caldeira (Rede), o chefe do Legislativo, reage e sugere que o crime pode estar organizado é na prefeitura. Em virtude do teor das acusações trocadas, o mais recente conflito político da cidade, deflagrado na terça-feira, é mais crítico que as brigas paroquiais até então travadas por vereadores.
Em entrevistas à reportagem, lideranças políticas e representantes da sociedade civil manifestaram preocupação com o desfecho da crise que não é nova, mas ganhou contorno preocupante. Exatamente por isso veio à tona a lembrança de um período em que a classe política da Serra protagonizou brigas que escaparam do debate de ideias e descambaram até para acerto de contas à bala.
Não trata-se da longa disputa entre Audifax e Sérgio Vidigal (PDT), ex-prefeito e hoje deputado federal, que, antes amigos e agora rivais, revezam-se no comando da cidade há 24 anos.
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O caso mais emblemático de violência misturada à disputa de poder na cidade data de 8 junho de 1990. O então prefeito da Serra, José Maria Feu Rosa, foi assassinado, em Itabela, cidade do Sul da Bahia, com tiros à queima-roupa. Entre os acusados, justamente o então vice-prefeito, Adalto Martinelli. Ele chegou a ser condenado e recorreu da decisão. O processo acabou arquivado em 2014 pelo Judiciário baiano e Adalto não chegou a ser punido.
Ao menos nove pessoas supostamente envolvidas com o assassinato acabaram também sendo mortas pelo caminho. Embora seja o caso mais conhecido, e que chocou o Estado, este não foi o único com assassinato de político na Serra.
Em junho de 1997, o então vereador Jorge Caçulo estava em um bar, no bairro Vista da Serra, tomando cerveja com o dono do estabelecimento, de quem era amigo. Dois homens em uma moto pararam em frente ao comércio e abriram fogo. Na época, pairavam sobre Caçulo suspeitas de ser o mandante do assassinato de um advogado sindical.
Outro caso de destaque foi o de Geraldo Oliveira, um antigo líder
comunitário de Central Carapina. Em abril de 1996, ele era considerado um forte pré-candidato a vereador e sofreu um atentado exatamente quando chegava para uma reunião que trataria da preparação de sua candidatura à Câmara. Ele tomou dois tiros, mas não morreu.
DESENVOLVIMENTO
A instabilidade política na Serra dos anos 1990 contrastava com o desenvolvimento da cidade. A partir dos anos 1970 e 1980, com instalação e início das atividades da CST (hoje ArcelorMittal), uma série de investimentos são atraídos para o município. Junto com a movimentação econômica, o crescimento populacional e os consequentes desafios sociais. Em 1980, eram cerca de 82,5 mil moradores. Hoje, são 507 mil, um aumento de quase sete vezes.
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O cientista político Fernando Pignaton frisa que a modernização da Serra começou na gestão anterior à de José Maria Feu Rosa, com João Baptista Mota, eleito em 1982.
"A Serra era uma roça. O Mota também teve muito atrito, mas a modernidade começou com ele, com grandes projetos. Foi ele que fez o plano viário, com o Civit. No final, atrasou salários do funcionalismo e caiu em desgraça", disse.
O historiador Rafael Simões destaca que o desenvolvimento da Serra deu-se apesar da prefeitura. "Era um crescimento que vinha de fora, muito por conta da instalação da CST, que foi decisão do governo estadual articulado com o federal. O município simplesmente absorveu. A Serra era um município retardatário no desenvolvimento. A partir de então, deslanchou", destaca.
COLARINHO BRANCO
Ao pedir reforço na segurança e lançar suspeitas de atuação de crime organizado, Audifax fez os holofotes dos órgãos de fiscalização voltaram-se para a Câmara municipal. O orçamento de R$ 34,1 milhões supera o de algumas prefeituras.
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As consequências da rixa podem ser imprevisíveis e remetem ao passado conflituoso. "Começar a violência no plano institucional é extremamente negativo para a Serra. Se as coisas ficarem piores e a crise institucional voltar à pauta, isso é negativo para cidade e para a autoestima da população", resumiu o cientista político Fernando Pignaton.
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