A "visita surpresa" feita por cinco deputados estaduais ao hospital Dório Silva na última sexta-feira (12) virou motivo de discussão acalorada, com troca de acusações e ameaças na sessão virtual da Assembleia Legislativa do Espírito Santo desta segunda-feira (15).
O bate-boca ocorreu mesmo após o governo ter convocado uma reunião com os parlamentares e alguns secretários pela manhã, horas antes da sessão, oficialmente com o objetivo de "tratar das estratégias de combate ao Covid-19", mas também como uma tentativa de esfriar o assunto. Os deputados da oposição não participaram e afirmam não ter sido convidados.
Com isso, a repercussão à visita dos deputados ao Dório Silva dominou a sessão virtual, à tarde, que ficou marcada por brigas e trocas de acusações. Em discurso, o deputado Capitão Assumção (Patriota) criticou as falas do secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes (PCdoB), sobre a ação dos deputados, fez ofensas e acusações a ele, e cobrou dos colegas que a Casa fiscalize o Executivo. A Secretaria classificou o ato dos deputados como um desrespeito aos familiares dos pacientes.
Na sequência, a discussão se tornou generalizada quando Enivaldo dos Anjos (PSD), que iniciou a fala com tom moderado, pedindo compreensão para o momento de crise, finalizou seu discurso afirmando que se fosse o secretário, solicitaria seguranças para se proteger. Após interrupções de Assumção, Enivaldo esbravejou que o parlamentar "é uma pessoa que não tem respeito por ninguém" e que teria "problemas impublicáveis." Os dois chegaram a trocar ameaças de briga física.
Outros deputados que estiveram no hospital também pediram a palavra para se defender. Vandinho Leite (PSDB) fez provocações ao secretário da Saúde. "Eu vi o desespero do secretário e do governo com a nossa visita. Ele tentou falar em guerra ideológica, mas vamos aos fatos: você transformou Dório Silva em hospital somente para atender Covid sem falar com a sociedade, secretário? Por que não fez um hospital de campanha?", questionou.
O tucano também acusou o secretário de trabalhar em cima de "fake news" e, sem citar nomes, chamou de "cara de pau" o deputado que teria comentado o caso em nome da Comissão de Saúde. "Cara de pau falar que não recebeu denúncias. A Comissão não lê o jornal?", provocou.
Hércules Silveira (MDB), que é presidente da Comissão de Saúde, respondeu às provocações pedindo respeito. "Ninguém está impedindo de fiscalizar, eu tenho ido, não na pandemia, mas vou e levo MPES comigo, não a imprensa, e vou em dia útil, na hora do expediente para encontrar a diretoria do hospital que é quem pode responder pela instituição. Se quiser ser prefeito da Serra, dessa forma você não vai chegar lá não", criticou.
Os deputados Torino Marques e Danilo Bahiense, ambos do PSL, se juntaram à Vandinho Leite nos questionamentos e reforçaram seus argumentos de que não se tratou de uma invasão e que os protocolos de saúde foram cumpridos. Iriny Lopes (PT) e Bruno Lamas (PSB) saíram em defesa do secretário Nésio e lamentaram a discussão. "O que houve aqui hoje foi quebra de decoro e quando há quebra de decoro não há motivo para a sociedade respeitar o parlamento. Quero ver as pessoas sentarem na cadeira do Executivo e responder a todas as demandas. Responda com propostas!", declarou a petista.
Embora não tenha sido citada durante a sessão, horas antes, na manhã desta segunda-feira o governo convidou a maioria dos deputados da Assembleia Legislativa para uma reunião, da qual participaram os secretários da Saúde, Nésio Fernandes, da Casa Civil, Davi Diniz, e do Planejamento, Álvaro Duboc. O encontro buscava acalmar os ânimos entre os deputados e o governo, a respeito dos dados e medidas tomadas na pandemia. No entanto, a estratégia parece não ter funcionado na sessão do mesmo dia.
De acordo com fontes ouvidas por A Gazeta, foram convidados somente parlamentares da base do governo e neutros. Ao todo, participaram do evento cerca de 17 deputados. Durante o encontro, de acordo com os deputados presentes, o secretário esclareceu dúvidas sobre o avanço da pandemia no Estado, o uso da cloroquina e a questão dos hospitais de campanha. O líder do governo na Casa, Dary Pagung (PSB) disse que "a preocupação era falar para os deputados da base sobre o planejamento do Estado, o legado que vai ficar após a pandemia".
Sobre a visita dos parlamentares ao hospital, Pagung disse que não houve "qualquer repercussão na reunião". A informação apurada por outras fontes palacianas, no entanto, é de que durante a reunião, que durou cerca de 3 horas, o governo falou em "não alimentar a polarização" e que esperava que o assunto esfrie na Assembleia até quarta-feira. Durante a discussão que ocorreu na sessão desta segunda, a atitude de pedir calma pôde ser vista na fala de alguns deputados que estiveram na encontro, como Bruno Lamas e Janete de Sá (PMN).
Nesta segunda-feira, o governo também apresentou uma notícia-crime ao Ministério Público, acusando os cinco deputados que realizaram a inspeção de ter cometido crime contra a saúde pública. O MPES foi procurado para se manifestar sobre a abertura de investigação e em nota informou que "recebeu representação da Procuradoria-Geral do Estado (PGE-ES), com referência ao caso em tela" e esclareceu que "a representação está sob sua análise para definir a medida jurídica mais pertinente a ser adotada nesse momento."
Deputados que fizeram a "blitz" no hospital, Carlos Von (Avante), Lorenzo Pazolini (Republicanos) e Torino Marques (PSL) afirmaram que não receberam qualquer convite para a reunião com o governo. Torino se manifestou em nota. "Interessante que eu, assim como outros deputados, só ficamos sabendo hoje, depois de ocorrido. Este tipo de 'reunião' é uma forma de atacar o Poder Legislativo, porque reunir-se com outros deputados sem dar ciência ao grupo dos independentes é notória articulação", afirmou.
O parlamentar disse, ainda que "o interesse público não pode ser tratado às escuras" e cobrou que o secretário da Saúde justifique o motivo da reunião. Carlos Von disse que "nenhum deputado independente foi convidado".
A Secretaria de Saúde foi procurada pela reportagem, às 14h38 desta segunda-feira, para responder sobre o teor da reunião, se todos deputados foram convidados e quais estiveram presentes, mas até o fechamento da matéria não recebeu respostas.
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