Em um pronunciamento realizado nesta sexta-feira (24), o ministro Sergio Moro anunciou a própria demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública. De acordo com ele, a saída acontece devido à interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no comando da Polícia Federal (PF), que tinha Maurício Valeixo como diretor-geral.
Ex-juiz federal com 22 anos de magistratura, Moro ficou famoso pela condução da Operação Lava Jato, em Curitiba (PR). Ele abandonou a toga para assumir a pasta no governo federal. Na declaração da manhã desta sexta, ele relembrou o caso, falou sobre interferência política em investigações e fraude na publicação da exoneração de Valeixo.
Com duração de aproximadamente 40 minutos, o ex-ministro começou o pronunciamento citando o atual contexto conturbado por causa da pandemia do novo coronavírus e lamentou a necessidade de o fazer. Bem como adiantou o clima tenso entre ele e o presidente Bolsonaro, sentindo-se obrigado a deixar o cargo.
Logo depois, ele mencionou os 22 anos em que atuou como juiz federal e relembrou o principal caso da carreira: a Operação Lava Jato, que investigou um esquema milionário de corrupção no Brasil, incluindo atos que teriam sido praticados por diversos políticos, entre eles o ex-presidente Lula.
Apesar de assumir o temor que existiu no governo passado, de Dilma Rousseff (PT), Moro afirmou que ele nunca se concretizou e que a Polícia Federal teve autonomia para seguir com as investigações necessárias, apesar de terem como alvo diversos integrantes do próprio PT.
O cenário em relação à independência da PF, no entanto, teria mudado em 2019, quando Bolsonaro ainda estava no primeiro ano de mandato e no qual o próprio ex-juiz federal já atuava como ministro da Justiça e Segurança Pública.
O tamanho do incômodo gerado por essa tentativa de interferência foi explicada por Moro em seguida:
Diante das insistências, o ex-ministro afirmou que o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) admitiu que era, de fato, uma tentativa de intervir politicamente no trabalho realizado pela Polícia Federal.
Em conversas entre os dois a respeito dessa possível troca, Moro teria dito a Bolsonaro que não via por que mudar a direção da Polícia Federal e que, sendo necessária a mudança, o substituto deveria ser alguém técnico e capacitado para desempenhar a função. Do outro lado, o presidente também teria revelado preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e reforçado a defesa da troca.
Em tom bastante crítico, Moro destacou a gravidade desse desejo no pronunciamento, usando como exemplo uma hipotética tentativa de intervenção do ex-presidente Lula na Lava Jato e o quanto isso seria danoso ao processo.
Em discordância com a troca na Polícia Federal, diante da ausência de justificativa para tirar Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral, Moro garantiu que não assinou a exoneração e que esta não teria sido feita "a pedido", como consta no texto.
A junção dos fatos desagradou o ex-ministro e resultou em uma acusação de fraude.
Já na parte final do pronunciamento desta sexta-feira (24), Moro resumiu o que o motivou a deixar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, que assumiu no ano passado.
No final, ele disse que irá "descansar um pouco" e deixou o futuro em aberto, enquanto ressaltou que espera que os indicados para diretor-geral da Polícia Federal e para o próprio cargo que deixou "possam realizar um trabalho autônomo".
Por meio das redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou uma coletiva para às 17h desta sexta-feira (24) a fim de "restabelecer a verdade sobre a demissão a pedido do Sr. Valeixo, bem como do Sr. Sergio Moro".
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta