O irmão da senadora Rose de Freitas, Edward Dickson de Freitas, e Ricardo Saiter, primo da parlamentar, foram os alvos dos dois mandados de prisão cumpridos nesta quarta-feira (12) durante a Operação Corsários, da Polícia Federal, que investiga uma organização criminosa que atuava na Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa). Edward trabalhou no órgão como coordenador de Serviços Gerais, enquanto Ricardo era coordenador de Tecnologia da Informação. Os dois foram exonerados em 2019, quando a empresa pública trocou de comando.
Ricardo Saiter é, desde a exoneração na Codesa, secretário parlamentar do gabinete de Rose, com salário de R$ 17.992,56.
Escoltados por policiais federais, Edward e Ricardo passaram por exame de corpo de delito no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória. A operação também fez buscas e recolheu documentos e computadores na casa da senadora, em Vitória, e no apartamento funcional dela, em Brasília.
Na residência em Vitória estava apenas um funcionário que realizava a limpeza. Os mandados de prisão temporária e busca e apreensão foram expedidos pelo ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), já que há o indício de envolvimento da senadora, que tem prerrogativa de foro.
Além dos dois familiares de Rose, uma terceira pessoa foi presa em flagrante Brasília, por porte ilegal de arma, durante a operação. Ela foi liberada após pagar fiança. O valor não foi divulgado.
Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão em residências e empresas nos municípios de Vitória, Cariacica e Serra, no Espírito Santo, e em Brasília, no Distrito Federal, além do sequestro de bens e valores dos investigados.
A operação teve início a partir de uma denúncia de exigência de vantagens ilícitas por servidores da Codesa em um contrato de locação de veículos. De acordo com a Polícia Federal, os crimes teriam acontecido entre os anos de 2015 e 2018, com direcionamento de certames e desvio de recursos públicos dos contratos firmados com as prestadoras de serviços.
A investigação contou com a colaboração da atual gestão da Codesa, que, em auditoria realizada, estima que somente em dois dos contratos auditados a organização criminosa pode ter desviado cerca de R$ 9 milhões.
Segundo a PF, a apuração revelou a existência de uma organização criminosa na estatal, formada a partir de pessoas de confiança do grupo para atuar em postos-chave, permitindo a interferência nas licitações, o superfaturamento e o desvio de dinheiro público.
Para receber os recursos desviados, o grupo investigado utilizava um escritório de advocacia, responsável por simular a prestação de serviços advocatícios para lastrear a movimentação dos valores. As investigações revelaram ainda que a lavagem do dinheiro ilegal também acontecia por meio da compra de imóveis de luxo e do pagamento de despesas pessoais dos envolvidos.
A operação contou com a participação de 44 policiais federais. São investigados o cometimento de crimes de concussão, corrupção passiva, corrupção ativa, organização criminosa, fraude a licitações e lavagem de capitais.
Por meio de nota, a senadora Rose de Freitas (MDB) afirmou que nunca cometeu "nenhum ato ilícito ao longo dos oito mandatos exercidos na vida pública". A parlamentar disse ter sido surpreendida pelos mandados de busca e apreensão e pelas prisões.
Confira a nota completa enviada pela senadora:
Fui surpreendida hoje, às 9h, pelo mandado de busca e apreensão expedido pelo ministro Nunes Marques, do STF, no meu apartamento funcional onde resido, em Brasília. Desconheço, até o momento, as razões do mandado e reafirmo não ter cometido qualquer ato ilícito ao longo dos oito mandatos exercidos na vida pública. Fui igualmente surpreendida pelas prisões de meu irmão e de meu assessor, realizadas no estado do Espírito Santo.
Confio no reestabelecimento da verdade e na apuração das possíveis motivações que ensejaram tamanha agressão. Identifico claramente uma tentativa de desabonar minha honra e dignidade. Não cederei a pressões de qualquer natureza, venham de onde vierem. Providências legais cabíveis estão sendo tomadas para que os fatos sejam devidamente esclarecidos e apurados. Sempre exerci com coragem, ética e dedicado trabalho os mandatos que honradamente recebi do povo do Espírito Santo. Todos os demais esclarecimentos serão prestados pelos nossos advogados, que se pronunciarão oportunamente.
A Codesa também foi demanda para se posicionar sobre a operação, mas disse que as informações ficam a cargo da Polícia Federal.
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