Jair Renan, filho 04 do presidente Jair Bolsonaro (PL), não apareceu para depor nesta sexta-feira (17) no inquérito que investiga os negócios de sua empresa e o pagamento de suposta propina por empresários, entre eles do grupo capixaba Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, em troca de aproximação com o governo federal.
O advogado Frederick Wassef, que representa Jair Renan, disse que não comentaria atos da investigação em razão do sigilo, mas argumentou que filho do presidente foi acometido por uma gripe.
"Jair está de cama, sob forte medicação, acometido dessa virose que se espalhou pelo Rio de Janeiro e São Paulo. Juntei petição com atestado médico e os remédios que ele está tomando", disse Wassef.
O inquérito sobre Jair Renan tramita na PF do Distrito Federal. Os investigadores responsáveis pelo caso pediram recentemente informações do inquérito das milícias digitais para usar no caso. Caberá ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, decidir se autoriza ou não o compartilhamento.
O motivo do pedido é a citação ao empresário Allan Lucena nos dois casos, que seria parceiro comercial de Jair Renan e no caso das milícias digitais aparece em conversas com o jornalista bolsonarista Oswaldo Eustáquio.
Jair Renan é investigado por possível tráfico de influência. Segundo denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) em março deste ano, o filho do presidente estaria atuando "para abrir as portas do governo federal" para empresários.
A investigação tramita na Superintendência da Polícia Federal do Distrito Federal. De acordo com O Globo, o inquérito aponta que houve associação de Jair Renan com outras pessoas "no recebimento de vantagens de empresários com interesses, vínculos e contratos com a Administração Pública Federal e Distrital sem aparente contraprestação justificável dos atos de graciosidade".
As suspeitas sobre o filho 04 do presidente envolvem a utilização da empresa de eventos dele, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, para promover articulações entre a Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
O grupo empresarial atua nos setores de mineração e construção e presentou Jair Renan e o empresário Allan Lucena, um dos parceiros comerciais do filho do presidente, com um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil. Um mês após a doação, em outubro do ano passado, representantes da Gramazini Granitos e Mármores Thomazini se reuniram com Marinho.
Segundo o ministério, o encontro, que também teve a participação de Jair Renan, foi marcado a pedido de um assessor especial da Presidência.
A reunião no Planalto aconteceu após uma visita de Jair Renan ao Espírito Santo, em setembro de 2020. Na ocasião, ele se reuniu com representantes da empresa de granitos e foi até a sede da empresa em Cachoeiro de Itapemirim.
O empresário capixaba Wellington Leite, do grupo WK, que atua no ramo de linha de crédito imobiliário e automotivo, divulgou o encontro em um vídeo nas redes sociais. Leite também se reuniu com o filho do presidente, e, posteriormente, esteve no Planalto. No vídeo, o empresário fala de um projeto que "estava a caminho de se desenvolver".
"Tenho certeza que esse projeto vai ser um divisor de águas na vida de muita gente[...] Renan, seu pai [o presidente Bolsonaro], que está à frente desse governo, ele vai diretamente aprovar e agradecer por essa iniciativa e com certeza proporcionar uma vida mais digna para o povo brasileiro", disse, em vídeo publicado no dia 26 de setembro.
Segundo informações divulgadas pela revista Veja, as duas empresas apresentaram um protótipo de construção de casas populares de pedra ao filho do presidente.
Semanas depois da visita de Renan, as duas empresas capixabas tiveram as logomarcas impressas na decoração da parede de entrada do escritório de Renan, junto com outras que apoiaram o empreendimento, conforme divulgado pelo jornal Folha de São Paulo. Na ocasião, os empresários doaram um carro elétrico, no valor de R$ 90 mil, para o projeto MOB, do sócio de Renan, Allan Lucena.
Em novembro, um representante da Gramazini conseguiu um espaço na agenda do ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, para falar sobre um projeto de construção de casas populares. Marinho é responsável pelo programa Minha Casa Minha Vida. O encontro aconteceu no Palácio do Planalto e teria sido intermediado por Renan Bolsonaro.
Após o episódio, a Polícia Federal decidiu abrir um inquérito para investigar se Renan teria atuado para facilitar o acesso de empresários do grupo ao governo federal.
Procurada pela reportagem, a empresa Gramazini informou que "sempre se pautou pelos princípios da ética, da transparência e da legalidade, contribuindo com a arrecadação de tributos e a geração de empregos" e que estava à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos.
"A direção da companhia está à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos, desde já informando que não são verdadeiras as suspeitas lançadas contra a empresa, o que ficará provado no seu devido tempo e pelos meios próprios", destacou por meio de nota.
A Gazeta não conseguiu contato com Wellington Leite. Em abril deste ano, em entrevista para a Folha de São Paulo, o empresário disse que não se recordava quando se encontrou com Bolsonaro e nem quem o levou até ele.
"Visitei o Palácio do Planalto e tive a sorte de tirar uma foto com o presidente. Foi tudo muito rápido", disse, afirmando que tiveram apenas um encontro.
O empresário também disse à Folha que foi ele quem trouxe Allan e Renan ao Espírito Santo para a troca de ideias sobre projetos que poderiam ser tocados. Contudo, a parceria não se concretizou. “O Allan que trouxe o Renan, que veio falar sobre o projeto social do MOB e do JB, porém acabou que não foi adiante”, disse Wellington.
Sem fornecer valores, o empresário afirmou que arcou com as despesas da viagem do filho do presidente e de seu parceiro comercial. “Como eu convidei, mais do que justo arcar [com as despesas]”, disse. “Sobre o valor, eu não sei nem o que gastei ontem, vou saber o que gastei há quase oito meses?”, disse à Folha.
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