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Lula mira voto útil; Bolsonaro, Ciro e Tebet criticam tática que pode definir eleição

Lula mira voto útil; Bolsonaro, Ciro e Tebet criticam tática que pode definir eleição

Estratégia é quando um eleitor vota em um candidato que não é necessariamente a sua primeira opção, a fim de determinar os resultados eleitorais, como a definição do pleito no 1º turno

Publicado em 30 de setembro de 2022 às 15:04

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Os candidatos a presidente de partidos que cumpriram meta de desempenho se apresentaram hoje na propaganda eleitoral na TV
Os candidatos a presidente de partidos que cumpriram meta de desempenho se apresentaram hoje na propaganda eleitoral na TV. (Montagem/Geraldo Neto)
Atilio Esperandio*
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]

Diante de uma disputa presidencial polarizada, o voto útil ganha ainda mais força às vésperas da ida às urnas, neste domingo (2), já que a tática pode definir o rumo das eleições 2022. Pelo lado do PT, a tentativa é intensificar o que Luiz Inácio Lula da Silva chama de “voto necessário”, para tentar garantir uma possível vitória já no 1º turno. “Se a gente puder fazer as coisas agora, vamos fazer, não vamos deixar pra depois o que a gente pode fazer hoje”, disse, em entrevista à Rádio Itatiaia, na última terça-feira (27). 

Os demais candidatos condenam a tática, especialmente o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta à reeleição e é o principal adversário de Lula em caso de 2º turno. Numa tentativa de mobilização, ele pediu que os eleitores evitem anular ou votar em branco.  "O 1º turno existe para, exatamente, você votar naquela pessoa que você acha que deve votar. E, no 2º turno, você tem que ter uma opção, e sempre tem o melhor ou o menos ruim”, destacou, em transmissão nas redes sociais, também nesta terça. 

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Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), que se dizem mais afetados pelo movimento, criticam a estratégia e tentam evitar a perda de seus eleitores. Ciro declarou, em seu Manifesto à Nação, na última segunda-feira (26), que, “com essa pregação, querem eliminar a liberdade das pessoas de votarem”. Para Tebet, essa eleição deve ser decidida em dois turnos e que ela é o “voto útil”.

O voto útil, ou estratégico, é aquele dado não ao candidato com o qual o eleitor mais de identifica, mas a quem possa evitar a vitória do adversário, considerado uma alternativa ainda pior. Nesses casos, a rejeição a um perfil têm mais peso na decisão do que a afinidade com um postulante ao cargo.

A cientista política e professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Marta Zorzal destacou, em entrevista dada para A Gazeta em agosto, que o voto de um eleitor é definido a partir de inúmeras e diferentes variáveis. Entre elas, estão contexto social, concepção ideológica, o grau de credibilidade dado às instituições, pesquisas eleitorais e interesses próprios. Com o voto útil, não são esses fatores que mais pesam na hora da escolha.

O QUE É VOTO ÚTIL?

  • “O chamado voto útil é estratégico. Um eleitor pode votar em um candidato ou partido a fim de evitar outro que ele detesta muito, mesmo que ele prefira o partido A ou candidato A, ele sente que estará desperdiçando seu voto, porque entende que esse candidato não tem chance de vencer. Então ele vai votar em B ou C, optando pelo que considera ‘menos pior’. Ele pode não gostar de nenhum dos dois, mas vai escolher o que detesta menos.”

Ela observou que a prática, que não ocorre apenas no Brasil, é mais comum no segundo turno das eleições, quando as opções são reduzidas a dois candidatos. Na primeira fase do pleito, muitos ainda tentam eleger o candidato com quem mais se identificam. Ainda assim, dado o cenário de polarização exagerada nas eleições 2022, essa estratégia poderia mudar.

De acordo com nova pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (29), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a disputa ao Palácio do Planalto com 50% dos votos válidos. O presidente Jair Bolsonaro tem 36%. Eles são seguidos por Ciro Gomes, com 6%, e Simone Tebet, com 5%. Soraya Thronicke (União Brasil) aparece com 1%. Os demais candidatos não pontuaram

É na alta rejeição a Jair Bolsonaro (PL), de 52%, que o petista tem mirado para tentar aumentar a vantagem, já que ele tem chance de sair triunfante ainda no primeiro turno. Para isso, ele precisa da metade mais um de todos os votos válidos, que excluem quem votou branco, nulo ou não foi votar.

A cientista política frisou que, na realidade, o que os candidatos tentam é capturar aqueles eleitores dispersos, que depositariam 2%, 5%, 8% dos votos em outros nomes. “Com essa polarização tão forte, muitos já querem usar esse voto estratégico no primeiro turno. Já tentam fazer com que os eleitores do Ciro, por exemplo, usem o voto (em Lula), para não ter que ver Bolsonaro em um segundo turno.”

Já a professora de Direito Constitucional e Processo Legislativo da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio Ana Luiza Couto ponderou, também na entrevista dada em agosto, que, a dois dias do primeiro turno das eleições, é difícil que um terceiro candidato consiga elevar significativamente seu percentual de votos para disputar de forma competitiva.

Mas, por si só, isso não é determinante. Segundo a especialista, outros fatores também devem ser considerados, pois podem impactar os resultados, como o pacote de benesses criado recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro.

“No atual momento, as pesquisas não apontam ainda um ganho real por causa dessas benesses que o governo federal vem oferecendo para tentar se fortalecer. Nosso país, historicamente, tem muito voto de gratidão”, disse, à época.

Outro tipo de voto que deve ser considerado, de acordo com a jurista, é o chamado “voto de devoção”, resultante do que considera ser uma “aproximação inquietante e indevida” entre política e religião, fortalecida durante o governo atual.

“É um voto que parece que se mantém estável. Mas, no fim, parece que também teremos que cogitar a escolha difícil. No nosso país, as pessoas não votam em partidos, não votam em projetos, votam em pessoas criadas por projetos articulados.”

Com informações de Caroline Freitas

*Atilio Esperandio é aluno do 25º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo teve a supervisão das editoras Gisele Arantes e Fernanda Dalmacio.

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