Mais de 750 beneficiários do auxílio emergencial no Espírito Santo fizeram doações para candidatos nas eleições municipais de 2020. Ao todo, essas pessoas contribuíram com R$ 881.630 para as campanhas eleitorais. O auxílio foi criado para socorrer trabalhadores informais, microempreendedores individuais e desempregados durante a crise financeira provocada pelo novo coronavírus.
As doações feitas em dinheiro seja através de depósito, transferência bancária ou cheque somam R$ 291 mil. O restante R$ 589 mil são as doações estimadas, quando alguém cede um veículo ou presta um serviço para um candidato, por exemplo. Nesse caso, o valor declarado é uma estimativa de quanto valeria aquele produto ou serviço caso fosse contratado.
Considerando apenas os recursos financeiros, a mediana dos valores doados é de R$ 500. Isso significa que metade dos doadores fez aportes maiores que esse valor e a outra metade, menores.
Essas doações representam 4,6% do montante fornecido por pessoas físicas aos políticos do Estado, que totaliza R$ 6,2 milhões. Os dados são públicos e referentes ao dia 25 de outubro.
Os dados foram extraídos do repositório de dados disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Dataprev, empresa pública brasileira vinculada ao Ministério da Economia.
Não é ilegal que beneficiários do auxílio emergencial doem dinheiro para campanhas políticas. Contudo, esse valor é limitado a 10% da renda bruta anual do doador declarada à Receita Federal no ano anterior ao pleito.
A prestação de contas mostra que 270 candidatos no Estado que também são beneficiários do auxílio emergencial fizeram doações para a própria campanha.
Um deles é o candidato a prefeito em Ecoporanga pelo PSDB Jefson Ferreira Almeida, conhecido como Jefim da Sondagem. Segundo informações da Dataprev, ele recebeu duas parcelas de R$ 600 do auxílio até agosto. Contudo, fez doação para si mesmo de R$ 7 mil. O investimento ocorreu em duas transferências bancárias, uma de R$ 3 mil e outra de R$ 4 mil.
Segundo a Receita Federal, Jefson é sócio de uma empresa de sondagem de granito. A Gazeta tentou contato por telefone com a direção municipal do partido e por rede social com o próprio candidato, mas não recebeu resposta.
Quem também consta na lista de beneficiários do auxílio é o candidato a prefeito de Cachoeiro de Itapemirim pelo PRTB Jovelino Schiavo. Ele declarou doação de R$ 500 para a própria campanha.
A candidatura de Schiavo foi indeferida pela Justiça Eleitoral no último dia 20 de outubro. O juiz eleitoral Murilo Ribeiro Ferreira seguiu o entendimento do Ministério Público e constatou que Schiavo, por ter sido condenado por abuso de poder por uso indevido dos meios de comunicação social, ficou inelegível por oito anos a partir das eleições de 2016.
Ao ser procurado pela reportagem, na última quarta-feira (28), ele confirmou o recebimento do auxílio, mas disse que não é mais candidato.
Já entre os candidatos a vereador, a maior doação feita para si mesmo foi de R$ 11 mil. Ela teve como origem e destino a candidatura do Gabriel Gomes Lírio do PSD de Anchieta. Procurado, ele informou que trabalha no ramo do turismo e que, por isso, está desde março sem renda. Lírio disse ainda que não utilizou o recurso do auxílio para financiar a campanha. O dinheiro da campanha já estava separado. E nós não recebemos nenhum recurso pecuniário do partido, justificou.
O maior beneficiado com doações estimadas foi o candidato a vereador do PV da Serra Ozéias Agostinho dos Santos. Ele recebeu dois carros, um Corsa ano 2000 e um Onix 2012, de duas beneficiárias do auxílio. A doação estimada totaliza R$ 31,2 mil.
Considerando as doações financeiras, quem recebeu mais dinheiro foi a candidata a prefeita pelo PT de Itapemirim Mônica Pereira Conceição, conhecida como Mônica Quinha. Ela obteve R$ 13 mil de pessoas que receberam o auxílio em depósitos de R$ 1 mil cada. Um deles partiu da própria candidata.
A Gazeta tentou contato por telefone com a direção municipal do PT e por rede social com a candidata, mas não obteve retorno.
Entre todos os 754 doadores, 522 não estão no CadUnico, o cadastro nacional de pessoas em situação de pobreza. Isso significa que eles se inscreveram para receber o benefício. Ou talvez alguém tenha usado os dados deles para requerer irregularmente o benefício.
Ainda há quem possa ter obtido o recurso por uma falha do governo federal, que depositou o auxílio para todos os cadastrados, mesmo aqueles que não teriam direito segundo as regras do programa.
Os eleitores podem consultar os dados sobre a doação de pessoas físicas a candidatos pelo site da Justiça Eleitoral (clique aqui).
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