Lançada em novembro de 2019 com a promessa de ser a legenda de Jair Bolsonaro (sem partido), a Aliança pelo Brasil ainda não saiu do papel. E é improvável que isso aconteça a tempo de abrigar o presidente da República para as eleições de 2022.
Para ter o registro reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Aliança pelo Brasil precisa de cerca de 492 mil assinaturas validadas. Hoje, o site do TSE mostra que apenas 57.034 estão aptas, sendo 1.809 no Espírito Santo. Ou seja, o partido tem 11,5% da quantidade de assinaturas necessárias para ser reconhecido.
Caso o presidente queira concorrer em 2022 pela Aliança pelo Brasil, o registro tem que ser aprovado até seis meses antes do pleito. Em condições normais, com a disputa acontecendo em outubro, tudo teria que estar pronto até abril de 2022.
Bolsonaro está há 14 meses sem partido, mas não pode disputar uma eleição sem filiação. Diante da dificuldade de formalização da Aliança pelo Brasil, ele mesmo falou sobre a possibilidade de procurar outra sigla já em março deste ano.
Apoiadores da Aliança pelo Brasil no Espírito Santo admitem que o processo para validação de assinaturas está lento, o que pode, de fato, inviabilizar a filiação de Bolsonaro. O ex-deputado federal Carlos Manato (sem partido), por exemplo, que tem auxiliado no processo, não demonstra muito otimismo.
"Esta fase de recolher assinaturas é difícil, estamos correndo atrás. Mas o presidente não pode ficar dependendo disso, ele precisa de um partido para se filiar", avaliou.
Contudo, Manato garante que o partido vai ser criado, com ou sem a liderança de Bolsonaro, para ser uma sigla auxiliar. Para especialistas, a chance de isso acontecer é remota.
"Acho improvável que a aliança saia sem ele. É inexpressiva a quantidade de assinaturas até hoje. E, sem Bolsonaro, que é o garoto propaganda, fica ainda mais difícil, o partido perde força e sua própria cara", afirma o cientista político Humberto Dantas.
A Aliança pelo Brasil foi lançada em novembro de 2019, com a presença de Jair Bolsonaro, após o rompimento do presidente com com o PSL, partido pelo qual foi eleito em 2018 e o oitavo de sua carreira política.
A sigla trazia um forte apelo ao discurso de cunho religioso e à defesa do porte de armas e foi criado para ser a casa de Bolsonaro. O nome dele, inclusive, está cadastrado na Justiça Eleitoral como presidente do partido.
Em janeiro do ano passado, as articulações para a criação da legenda estavam a todo vapor. No Espírito Santo, alguns parlamentares manifestaram interesse em mudar para sigla, entre eles os deputados estaduais Capitão Assumção (Patriota), Torino Marques (PSL) e Danilo Bahiense (sem partido).
A promessa era que o partido já estivesse consolidado para disputar as eleições municipais de 2020, mas a quantidade de assinaturas validadas para criação da Aliança pelo Brasil não foi suficiente. Em março de 2020, por exemplo, o TSE identificou a assinatura de sete eleitores mortos na lista assinada e apresentada pelo Aliança pelo Brasil.
“Daria para ter feito? Sim, gente com menos força e poder já conseguiu. Mas a coalizão é frágil e a forma de agir de Bolsonaro não permitiu que o partido existisse”, destacou Dantas.
Cientistas políticos apontam que o problema na viabilização do partido tem nome: Jair Bolsonaro. Para eles, o próprio presidente não se preocupou em articular apoiadores para que a sigla que ele mesmo encampou em 2019 saísse do papel.
“Um fato inegável é a falta de vontade do próprio presidente, da ausência de liderança dele nesse processo. Bolsonaro, que no início se mostrou animado com a criação do partido, não se preocupou em usar o capital político que tinha para transformar a Aliança pelo Brasil em um partido viável”, analisa o professor da Faculdade Mackenzie e cientista político Rodrigo Prando.
Prando também aponta a pandemia de Covid-19 como um complicador, apesar de não ter sido o fator crucial que interferiu no recolhimento de assinaturas. "Já seria difícil criar um partido em condições normais e a pandemia dificultou bastante. Os cartórios ficaram fechados, existe muita burocracia”, lembrou.
Os apoiadores da Aliança pelo Brasil têm culpado a pandemia pelo fato do partido não ter sido criado. De acordo com Dárcio Bracarense, um dos operadores da sigla no Estado, a validação das assinaturas parou durante a maior parte do ano passado. Isso acabou atrasando o processo.
"A pandemia acabou nos prejudicando, mas vamos continuar trabalhando para recolher assinaturas e até o fim do primeiro semestre vai estar tudo pronto. Não tem motivo para o presidente procurar outro partido, não precisa de plano B", garantiu.
Apesar da afirmação, não é isso que tem sinalizado Bolsonaro. Em novembro de 2020, ele afirmou a possibilidade de recorrer a uma “nova opção” de partido. Há flerte com algumas siglas, entre elas o PP, o PTB de Roberto Jefferson e o Patriota.
Este último chegou a se preparar para receber Bolsonaro em 2018. Na época, o capitão era deputado federal e chegou a assinar uma ficha fictícia de filiação, mas a aliança não foi para frente.
Outro partido que pode acabar abrigando o presidente é o Republicanos, em que dois dos três filhos dele se encontram. Tanto o senador Flávio Bolsonaro quanto o vereador Carlos Bolsonaro foram abrigados pela sigla após saírem do PSL e PSC, respectivamente.
Na análise de Prando, as movimentações que Bolsonaro tem feito enterram o partido. De acordo com ele, tem se mostrado cada vez mais inviável a criação do Aliança pelo Brasil.
"A origem do Aliança pelo Brasil é do núcleo bolsonarista, que sugeriu criar o próprio partido de Bolsonaro quando ele rompeu com o PSL. Sem a inspiração desse núcleo e com a pouca adesão que a gente tem visto, vejo muita dificuldade de tirar isso do papel", declarou.
O Brasil tem 33 partidos registrados. Outros 77 tentam ganhar vida, de acordo com a lista de partidos em formação no site do TSE.
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