No ano em que as candidaturas negras representaram, pela primeira vez, a maioria no país, e os recursos de campanha foram distribuídos de forma proporcional às raças, pretos e pardos tiveram um avanço nas urnas. Comparado às eleições municipais de 2016, o Espírito Santo viu um aumento de 11,3% de negros eleitos, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ao todo, 12.537 candidatos disputaram o pleito em 2020, sendo 6.606 negros.
Dos 937 candidatos que se elegeram no Estado (prefeitos, vice-prefeitos e vereadores), 359 se autodeclararam pretos ou pardos, que juntos formam os negros, de acordo com a classificação do IBGE. Em relação ao último pleito, quando 348 foram eleitos, houve um aumento de 11 pessoas negras.
A diferença numérica pode parecer pequena, mas é importante destacar que houve uma redução no número de vagas disponíveis para as Câmaras Municipais no Estado, o que interfere no número de candidatos eleitos este ano. Em 2016, 1.010 candidatos foram eleitos e, em 2020, foram 937. Ou seja, uma redução de 73 vagas no geral.
Levando isso em conta, a variação percentual de negros em relação as duas eleições é de um crescimento de 11,3%.
Apesar disso, o resultado está longe de refletir o retrato da população capixaba, em que os negros representam 62%. Na política, eles continuam sendo minoria: corresponderão a 38,3%, enquanto os brancos serão 58,6% a partir de 2021, com o resultado das eleições deste ano.
Nas prefeituras, o crescimento no número de negros eleitos foi significativamente maior. Dos 77 prefeitos que se elegeram neste ano, 19 se declararam nesse grupo da população.
Esse número é 72,7% maior do que em 2016, quando pretos e pardos ocuparam 11 prefeituras. Em 2020, contudo, todos os prefeitos eleitos são pardos, nenhum é preto.
"É inegável que esse aumento é significativo no campo da representação política, principalmente em relação aos cargos majoritários, em que os negros encontram mais dificuldade de acesso, por exigir mais recurso financeiro e uma colocação dentro dos partidos", afirma o cientista social e pesquisador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Ufes João Victor da Penha Santos.
"Mas a gente precisa ser crítico sobre a ausência de pretos eleitos. O negro retinto, mais melaninado, ainda encontra barreiras para se eleger. E isso nos chama atenção para um outro ponto: será que, de fato, esses 19 pardos se reconhecem como negros ou há uma confusão na identificação racial e eles na verdade são brancos?", questiona.
Mesmo com mais negros nas prefeituras do Espírito Santo, eles ainda estão sub-representados. Os 19 prefeitos que se elegeram representam apenas 24,6% do total dos eleitos no Estado; os brancos são 74%.
Em Boa Esperança o resultado da eleição está em aberto, por isso a contabilização foi feita baseando-se em 77 prefeituras.
O avanço foi mais tímido nas Câmaras, apesar de esse espaço, historicamente, ter maior número de negros. Em 2016, dos 856 vereadores eleitos, 324 eram pretos ou pardos, o que representou 37,8% das cadeiras ocupadas. Em 2020, os negros são 317 dos 785 eleitos para o Legislativo, ou seja, 40%.
Apesar de o número absoluto ser menor, percentualmente houve um aumento de 5,8%, já que há menos cadeiras disponíveis nas Câmaras municipais agora em relação a 2016 passou de 856 para 785. Essa mudança do número de vagas pode ser feita durante as legislaturas.
Apesar disso, pretos e pardos continuam sendo minoria. Dos vereadores que se elegeram em 2020, 56% se autodeclaram brancos.
"A gente já observa há algum tempo mais representatividade negra em cargos para vereador, que são menos competitivos. Mas isso também é resultado do debate que tem sido promovido pelo movimento negro, das políticas de ações afirmativas e, neste ano, pela resolução do TSE, que determinou a distribuição de recursos de forma proporcional. Ainda assim, temos muito a avançar, visto que os negros são mais da metade da população", analisa João Victor.
Em 2020, 74 das 78 cidades vão ter pelo menos um negro na Câmara. Apenas quatro Casas não elegeram vereadores pretos ou pardos: Alfredo Chaves, Ibatiba, Irupi e Vargem Alta.
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