Repórter / vzagoto@redegazeta.com.br
Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 14:36
O major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli, morador de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, denunciado com Jair Bolsonaro (PL) e outras 32 pessoas pela Procuradoria Geral da República (PGR) por tentativa de golpe de Estado, levantou conteúdos para uma live com informações falsas sobre urnas eletrônicas e participou da reunião de elaboração de um relatório usado para pedir a anulação de votos das eleições de 2022.
A informação sobre a live já havia sido dada pela colunista Letícia Gonçalves em fevereiro de 2024 e consta na denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira (18).
Na denúncia, é citado que, com o intuito de disseminar conteúdos de fraude e assim enfraquecer o sentido de legitimidade do processo democrático, a organização criminosa preparou materiais para divulgação pelo influenciador argentino Fernando Cerimedo.
Durante uma transmissão ao vivo (live) no YouTube, realizada em 4 de novembro de 2022, Cerimedo apresentou um dossiê, publicado no seu canal La Derecha Diario36, com informações falsas sobre o sistema de votação brasileiro. Na transmissão, que contou com mais de 415 mil visualizações simultâneas, o argentino apontou disparidade entre a distribuição de votos computados em urnas novas, fabricadas em 2020, e antigas, fabricadas em 2009, 2010, 2011, 2013 e 2015.
"Segundo o documento apócrifo (sem autenticidade) apresentado na ocasião, cinco modelos de urnas, todos fabricados antes de 2020, não teriam sido submetidos a procedimentos de auditoria e fiscalização e teriam gerado 'uma anomalia' com o registro, 'estatisticamente impossível de justificar', de mais votos ao candidato opositor de Jair Bolsonaro", destaca Paulo Gonet na denúncia.
De acordo com a PGR, a preparação do material divulgado contou com a relevante contribuição de Denicoli, que fazia o elo do grupo criminoso com Cerimedo. "Identificou-se que uma pasta no serviço de nuvem Google Drive, disponibilizada pelo argentino, fora alimentada com arquivo de autoria de Denicoli", afirma Paulo Gonet. O fato foi divulgado em 12 de dezembro de 2022, por um usuário no X (antigo Twitter) e, depois, pela mídia nacional.
A ligação de Denicoli com Cerimedo foi confirmada pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, que afirmou em delação premiada que o major se empenhava em buscar fraudes nas urnas eletrônicas.
As informações falsas divulgadas por Cerimedo e Denicoli embasaram um pedido do Partido Liberal (PL) para anular votos de cerca de 280 mil urnas eletrônicas usadas no segundo turno das eleições.
Na denúncia, é apontado ainda que Denicoli participou da reunião de elaboração de um relatório feito pelo Instituto Voto Legal (IVL), contratado pelo PL, em que se disse haver “desconformidades irreparáveis de mau funcionamento” nas urnas fabricadas antes de 2020. O documento alegava, falsamente, que cinco modelos de urnas “apontaram a repetição de um mesmo número de identificação, quando, na verdade, deveriam apresentar um número individualizado no campo do código de identificação da urna”.
O entendimento da PGR é que o grupo tentava passar a ideia de que com o esgotamento das vias jurisdicionais, seria inevitável tomar medidas extraordinárias. "Mesmo que não obtivessem êxito, estaria dada a mensagem de estarem esgotadas as vias jurisdicionais para questionar o processo eleitoral", pontua Paulo Gonet.
No dia 22 de novembro de 2022, o grupo aliado a Bolsonaro decidiu entrar com uma ação judicial para transmitir aos seus apoiadores a mensagem de que havia surgido prova da inidoneidade de diversas urnas eletrônicas.
De acordo com acusação, Bolsonaro liderou organização que tentou golpe de Estado após perder eleição para Lula em 2022
Tamanho de arquivo: 2mb
O Partido Liberal (PL), o ex-presidente Jair Bolsonaro e Braga Netto então protocolaram no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a “Representação Eleitoral para Verificação Extraordinária”, em que pediam a invalidação dos votos decorrentes das urnas dos modelos UE2009, UE2010, UE2011, UE2013 e UE2015.
A representação baseava-se no laudo de auditoria feito pelo IVL e sustentava, assim, a conformidade dos votos computados apenas nas urnas do modelo UE2020, que correspondiam a 40,82% do total dos equipamentos eletrônicos utilizados no segundo turno. Com base nos dados falsos, os denunciados contestaram o resultado das eleições presidenciais e defenderam que Bolsonaro seria o vencedor das eleições 2022, uma vez que teria obtido 51,05% dos votos nas urnas “válidas”.
Ainda segundo a denúncia, a organização criminosa sabia do falseamento de dados, ainda que, até o momento, não se haja estabelecido que o presidente do PL também o soubesse. "A representação funcionou também como a forma de se comunicar à população que o presidente da República não aceitava o resultado das eleições e que havia fundamento para a insurgência civil.", afirma.
As penas somadas podem ultrapassar 28 anos de prisão em caso de condenação. A denúncia foi fatiada. A peça apresentada na terça (18) atinge a “cúpula” do plano golpista. Além de Bolsonaro, outras 33 pessoas foram denunciadas. São eles:
A reportagem de A Gazeta tenta contato com a defesa de Angelo Martins Denicoli.
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