Alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal (PF) na última quinta-feira (15), o senador capixaba Marcos do Val (Podemos) ganhou notoriedade em nível nacional no início deste ano ao relatar que teria sido convidado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a participar de um plano de golpe para evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O parlamentar desmentiu a suposta trama horas depois e deu várias versões distintas para os fatos ocorridos, os quais visavam a prejudicar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que foi quem expediu as decisões cumpridas pela PF contra o senador.
A operação foi revelada pela colunista Bela Megale e foi realizada em endereços ligados ao senador em Brasília e em Vitória, conforme nota divulgada pela Polícia Federal.
O senador ganhou espaço no noticiário nacional a partir do dia 2 de fevereiro, quando iniciou o dia falando sobre a conversa ocorrida em dezembro do ano passado com Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) ainda na madrugada, em live em suas redes sociais. Na ocasião, chegou a anunciar que deixaria a política, mas no início da tarde daquele dia recuou e garantiu que não sairia do cargo.
A partir de então, ele concedeu entrevistas a diversos veículos e fez declarações em suas redes sociais, pronunciamentos no Congresso Nacional que evidenciavam contradições e davam novas versões aos fatos narrados inicialmente à revista Veja. Na entrevista à revista, detalhou a reunião que participou com Bolsonaro e Silveira, em dezembro de 2022, e disse que no encontro teria sido convidado para participar de um plano para gravar uma conversa com Alexandre de Moraes, que além de ministro do STF é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e tentar usá-la para impedir que Lula tomasse posse no cargo de presidente da República.
Inicialmente, o senador disse que não teria aceitado participar do plano e, por isso, teria denunciado prontamente ao ministro, apesar das investidas de Daniel Silveira. Na primeira versão, o parlamentar alegou ter sofrido coação do ex-presidente Bolsonaro para se aliar a ele em um golpe de Estado. Contudo, mudou de versões várias vezes e na última delas afirmou que teria manipulado o noticiário com informações desencontradas de forma proposital.
Depois das diversas versões desencontradas do senador, Alexandre de Moraes abriu uma investigação para apurar as declarações do parlamentar, incluindo possíveis crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação. O ministro definiu a suposta tentativa de golpe como um episódio 'ridículo', tentativa de 'operação Tabajara'.
Em um primeiro momento, Marcos do Val afirmou que teria sido recebido por Bolsonaro numa reunião no Palácio da Alvorada e o então chefe do Executivo teria sugerido que o parlamentar gravasse Alexandre de Moraes. Segundo essa versão, Bolsonaro chamou Do Val à residência presidencial para dar a ele essa missão.
Depois de receber ligações do clã Bolsonaro, Do Val mudou o relato. Disse que a ideia não partiu de Bolsonaro, mas do ex-deputado Daniel Silveira.
Em depoimento prestado à Polícia Federal em fevereiro, Do Val não usou a palavra golpe. Ele afirmou que Silveira teria proposto uma "missão importantíssima" que "entraria para a história": que ele fizesse uma gravação clandestina do ministro Alexandre de Moraes e "conduzisse a conversa" na tentativa de induzi-lo a falar "algo no sentido de ultrapassar as quatro linhas da Constituição". O objetivo seria anular o resultado da eleição.
Do Val chegou a alegar que alertou sobre a ilegalidade do grampo e que Daniel Silveira teria respondido que "daria um jeito para tornar a gravação legal", sem especificar como. De acordo com essa versão do senador, Bolsonaro ficou calado durante toda a conversa, mas em nenhum momento "negou o plano ou mostrou contrariedade". "A sensação era que o ex-presidente não sabia do assunto e que Daniel Silveira buscava obter o consentimento", narrou à PF, em fevereiro.
Após a citação, em março, o ministro Alexandre de Moraes autorizou a abertura de inquérito para investigar suposto envolvimento de Silveira com os atos golpistas de 8 de janeiro.
Na quinta-feira, por esse suposto plano de golpe e ainda por postagens antidemocráticas, Marcos do Val se tornou alvo da PF. Os agentes cumpriram mandados no gabinete do senador em Brasília e também em endereços dele em Vitória. Ele teve dois celulares apreendidos, de acordo com informações da Globonews. Juntamente com outros materiais recolhidos, como computadores, todos foram lacrados e enviados para a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção (Dicor) da PF, em Brasília, onde vão passar por perícia.
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