O senador do Espírito Santo Marcos do Val (Podemos) declarou à revista Veja que em reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e com o ex-deputado Daniel Silveira foi apresentado um plano para gravar uma conversa com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, e tentar usá-la para anular o resultado das eleições. A informação foi confirmada pelo parlamentar em entrevista coletiva (veja acima).
De acordo com Do Val, o plano articulado pelo ex-deputado Daniel Silveira, preso nesta quinta-feira (2), era tentar captar um diálogo comprometedor com o ministro para prendê-lo e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na entrevista no Senado, na manhã desta quinta-feira (2), no entanto, ele negou que o ex-presidente tenha o coagido, embora tenha afirmado que houve coação em live no Instagram na madrugada desta quinta-feira (2).
Ao falar em seu gabinete, Do Val agora diz que o plano, na verdade, foi do ex-deputado Daniel Silveira, que foi preso nesta quinta-feira por ordem do Supremo Tribunal Federal por violação de decisão judicial.
"Pode até ser que o presidente tava (sic) ali também para escutar, para, de repente, denunciar o Daniel. Porque como eu estava lá e eles também não sabiam que eu ia reportar ao ministro, pode ser que ele (Bolsonaro) também estava lá, via GSI, para reportar ao GSI essa proposta."
À Veja, do Val relatou, anteriormente, que Bolsonaro teria dito que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) daria o suporte técnico à operação, fornecendo os equipamentos de espionagem necessários, e que já estava tudo acertado.
Depois, no início da tarde desta quinta (2), em entrevista ao Estúdio I, da Globo News, disse que pode ter se equivocado e que apenas entendeu que o GSI daria o suporte, mas que não necessariamente seria o caso.
“Na hora, eu disse que aquilo era ilegal. Que gravações sem autorização judicial poderiam configurar crime. Nunca compactuei com atos radicais ou extremistas. Sou um democrata, sempre vou lutar para que a democracia permaneça inabalável. Uma operação como a que estava sendo articulado colocaria o Brasil em isolamento mundial, provocaria uma grave crise econômica, traria mais miséria e pobreza. As consequências seriam imprevisíveis”, declarou o senador à Veja.
Embora a gravação pudesse configurar um crime, ainda não implicava em golpe. Segundo do Val, a ideia era conseguir que o ministro declarasse que agia sem observar necessariamente a Constituição. “Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República. Fiquei muito assustado com o que ouvi”, destacou.
A reunião com Silveira e Bolsonaro teria acontecido no dia 9 de dezembro, com duração de cerca de 40 minutos. Horas antes, Jair Bolsonaro quebrou o silêncio após mais de um mês de uma reclusão voluntária, depois da derrota nas urnas.
O então presidente fez um breve pronunciamento, se desculpando por eventuais erros, disse que seu futuro dependia dos apoiadores (que ainda ocupavam a frente dos quartéis do Exército) e exaltou sua ligação com as Forças Armadas. Não reconheceu a derrota. Lula ainda não havia sido diplomado e Bolsonaro acreditava em uma virada.
Do Val declarou que acredita que o ex-mandatário tenha sido influenciado por Silveira a dar um golpe de estado.
“O presidente (Bolsonaro) nunca mostrou qualquer intenção em atuar fora das quatro linhas. A relação dele com o deputado Daniel acabou ficando muito próxima, principalmente depois que o presidente concedeu a ele a anistia pela condenação naquele processo do Supremo. Sei que o Daniel troca muita informação com o presidente, e talvez isso tenha influenciado de alguma maneira o que aconteceu. O Daniel disse que eu ia salvar o Brasil e o presidente repetiu.”
O senador do Espírito Santo, que, após as declarações, informou que pretende se afastar do cargo e deixar a vida política, disse acreditar que a escolha dele para participar da operação se devia à proximidade com o ministro do Supremo.
“Muita gente sabe que tenho uma ligação com o ministro Alexandre de Moraes. Quando ele foi secretário de Segurança de São Paulo e o Geraldo Alckmin era governador, fui contratado para dar treinamento para a polícia paulista. Não somos íntimos, mas temos um excelente relacionamento. Por isso — e também por dever cívico e de consciência —, relatei a ele o que estava acontecendo. Era a coisa certa a ser feita.”
Do Val disse que pediu um tempo para pensar sobre a proposta e então relatou a Moraes sobre o que tinha acontecido. Em 12 de dezembro, três dias após a reunião, enviou uma mensagem ao ministro solicitando um encontro presencial, de acordo com a Veja.
Na manhã daquele dia, Lula havia sido diplomado pelo TSE. À tarde, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal no DF para resgatar um preso, resultando em um confronto com a polícia e atos de vandalismo pela cidade.
Do Val justificou a urgência em encontrar o ministro: “Precisava falar como foi o encontro com o PR e o DS”. PR era o presidente da República. DS era o deputado Daniel Silveira.
Segundo informações da revista Veja, o senador relatou que os dois haviam lhe convidado para participar do que ele definiu como “uma ação esdrúxula, imoral e até criminal”. Moraes, que já teria sido alertado sobre uma tentativa anterior de abordagem de Silveira ao senador, agendou o encontro pessoal para dali a dois dias.
Silveira, preso nesta quinta (2), é investigado em um inquérito sigiloso conduzido por Alexandre de Moraes, e já foi condenado e preso por ameaça ao estado democrático de direito, tendo recebido indulto de Bolsonaro. Ele ocuparia um cargo no gabinete do senador Magno Malta (PL-ES), que assumiu o cargo na quarta-feira (1º).
Por mensagens de texto, ele teria pressionado do Val por uma resposta: “Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação”. Silveira teria ficado sem resposta até que o senador se encontrasse com Moraes, que teria soltado um “Não acredito”, em tom de espanto, ao ouvir sobre o plano. Horas mais tarde, do Val teria respondido ao contato de Silveira, dizendo que iria “declinar da missão”.
No dia 15 de dezembro, após o encontro entre do Val e o ministro Alexandre de Moraes, Daniel Silveira foi multado em R$ 2,6 milhões. Ele teria desrespeitado as medidas cautelares que é obrigado a cumprir, entre elas, o impedimento de dar entrevistas, a proibição de uso das redes sociais. Além disso, não podia comparecer a eventos públicos, precisava manter distância de outros investigados e era obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
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