O senador capixaba Marcos do Val (Podemos) compartilhou em seu perfil do Facebook um vídeo no último sábado (26), o qual bolsonaristas admitiram ser fake, em que três supostos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chamam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de "comandante" e conclamam por uma luta armada contra líderes de direita, entre eles o presidente Jair Bolsonaro (PSL).
O vídeo também foi publicado no Twitter do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que disse desconhecer "veracidade" das imagens. Depois, foi compartilhado pelo perfil do presidente brasileiro e posteriormente apagado. A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) também publicou o vídeo em sua conta pessoal no Twitter no sábado, mas retirou a postagem em seguida e afirmou que apagou por "não compactuar com a mentira".
O deputado Daniel Silveira é o mesmo que quebrou a placa de rua com o nome de Marielle Franco - vereadora carioca assassinada a tiros em março de 2018 - durante a campanha eleitoral. Foi também ele que gravou a reunião do PSL em que o deputado federal Delegado Waldir afirma que iria "implodir" o presidente Bolsonaro, há 11 dias. A deputada Bia Kicis é uma das congressistas mais próximas de Bolsonaro, com livre trânsito nos palácios do Planalto e da Alvorada. Ex-procuradora do Distrito Federal e ativista de direita nas redes sociais, foi ela quem apresentou a Bolsonaro o economista Paulo Guedes.
No vídeo, há três pessoas vestidas com roupas militares, uma delas segura o que parece ser uma arma. O narrador diz que seguirão na luta armada para defender quem são seus verdadeiros comandantes. Ele cita como "comandante" Lula e outros políticos de centro-esquerda como o ex-presidente do Equador, Rafael Correia, o presidente boliviano, Evo Morales, e o presidente eleito na Argentina, Alberto Fernández. Afirma ainda que estará "à disposição do povo argentino que disse 'não' a Mauricio Macri e a Jair Bolsonaro no Brasil".
O site de checagem de desinformação Boatos.org analisou o vídeo e afirmou que ele se trata de uma fake news. Segundo o site, há informações inconsistentes, como a utilização da bandeira do Equador ao fundo, sendo que é anunciado que o local da gravação seriam montanhas da Colômbia. Outro erro seria que a indumentária das pessoas do vídeo não condiz com as utilizadas por membros das Farc.
Na postagem, Marcos do Val afirma que como integrante da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional já está em contato com generais e autoridades da inteligência brasileira a respeito das informações do vídeo. Mesmo com questionamentos dos internautas sobre a veracidade das imagens, o senador manteve a publicação.
"Prezados, não seria irresponsável em divulgar algo falso. Como disse, sou vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, portanto junto com as instituições de Defesa Nacional, informo a todos os Brasileiros que há SIM uma ameaça ao Estado Democrático de Direito", disse. O post teve 6,4 mil visualizações, cerca de 3 mil comentários e 2,4 mil compartilhamentos.
A reportagem procurou o senador para que explicasse porque acredita na veracidade do vídeo. Segundo ele, antes de publicá-lo, consultou um setor de inteligência, sem especificar de qual órgão seria. "Eu mandei o vídeo para o setor, que não posso dizer de onde, para que verificassem a autenticidade e se realmente há alguma ameaça ao país. Me retornaram com um dossiê, que está em minha posse, e que afirma que a democracia brasileira está em risco", disse Do Val, sem disponibilizar o documento.
O senador minimizou o fato de o perfil do presidente Bolsonaro e da deputada Bia Kicis terem deletado o post. "Só é possível ter certeza se quem gravou assumir a autoria. Enquanto isso, há muita especulação, as pessoas ficam receosas e acabam preferindo retirar. Eu tenho segurança das afirmações. Nessa áerea, tenho informações mais detalhadas e aprofundadas do que o próprio presidente", afirmou.
Do Val frisou que vai manter o post no ar. "A gente tem que tornar público o que acontece, senão as pessoas não vão se mobilizar para ajudar o país. O brasileiro só se preocupa depois que acontece a tragédia, enquanto isso fica achando que tudo é mentira", disse.
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