Um relatório da Polícia Federal (PF), o qual teve acesso a colunista de O Globo Bela Megale, revela mensagens enviadas pelo senador Marcos Do Val (Podemos-ES) ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao ex-deputado federal Daniel Silveira e em grupos em aplicativos de mensagens. Nas conversas, o senador disse ter o destino de dois presidentes na mão, atribuiu a si a ida de Bolsonaro aos Estados Unidos e ainda alegou estar se reportando à "inteligência americana".
Nota enviada pelo gabinete e pela assessoria de imprensa de Marcos do Val afirma que publicações causaram surpresa e que "as notícias veiculadas descontextualizam trechos de extensas conversas, distorcendo os fatos e atribuindo ao senador uma responsabilidade que não é dele" (veja o texto completo no final desta matéria).
As mensagens foram extraídas do aparelho entregue por Do Val em fevereiro, não do aparelho apreendido em operação de busca da PF no mês passado, em Vitória. O objetivo da investigação é apurar detalhes de uma possível reunião onde participaram o senador, Silveira e Bolsonaro com a finalidade de, supostamente, elaborar um plano para gravar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Mesmo que Silveira tratasse o tema com sigilo, Do Val foi a grupos em aplicativos de mensagens comentar a suposta trama. Lá, o senador capixaba também externou a visão que tinha de si mesmo sobre a própria participação no, até então, momento político do Brasil. As mensagens foram compartilhadas nos grupos "Chefias" e "Amigas para a eternidade". Ainda de acordo com a coluna, Do Val orientava os participantes a apagar as mensagens depois de visualizá-las.
Em um dos grupos, o "Chefias", faziam parte dois assessores do gabinete do senador. Nele, Do Val falou sobre as conversas com Silveira, descrevendo-as como "missão que entrará para história do Brasil/mundo".
Mas, de acordo com uma das colunas publicadas por Megale, foi no grupo "Amigas para a eternidade" que o capixaba se sentiu mais à vontade para falar. Nos diálogos, participantes comemoravam a possibilidade de um golpe. Do Val, por sua vez, alegava ter material que podia comprometer tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quando Jair Bolsonaro (PL). "Estou com a bomba da (sic) mão para destruir Bolsonaro e outra para destruir o Lula", dizia uma mensagem.
Em outro momento, Marcos Do Val afirma que Bolsonaro teria fugido para os Estados Unidos devido uma denúncia feita por ele. "Eu fui convidado por ele (Bolsonaro) para fazer essa ação. Como integrante da CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência), fui dando corda para ver até onde ele iria. Na eminência (sic) de fato acontecer eu passei para ele que estaria cometendo um crime gravíssimo contra a democracia e de lá reportei para o órgão responsável. Foi diante disse que ele fugiu para os EUA."
No relatório também constam conversas diretamente com o ex-presidente em dois momentos. Após a reunião na noite de 8 de dezembro, Bolsonaro enviou para o senador capixaba uma lista com nomes que poderiam ser cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), incluindo ele próprio. Do Val, então, pergunta ao ex-chefe do executivo: "Não acredito!!! Qual foi o argumento?". Bolsonaro responde: "Atos antidemocráticos".
Do Val, já na manhã do dia seguinte, retomou a conversa agradecendo pelo encontro com Bolsonaro e dizendo que não havia se aproximado do ex-presidente nos últimos quatro anos para não sufocá-lo e trazer mais trabalho. Bolsonaro respondeu apenas com "um abraço".
Um segundo diálogo teria acontecido no dia 10 de fevereiro de 2023. O senador conta ao presidente que teria sido procurado pela revista Veja para comentar a reunião que ambos tiveram — com participação do ex-parlamentar Daniel Silveira. Do Val afirmou acreditar que o ministro da Justiça, Flávio Dino, era o responsável por vazar informações sobre a reunião.
O senador compartilha, então, prints de mensagens trocadas com Silveira e a conversa com o ministro Alexandre de Moraes, em que relata o plano do ex-deputado, dizendo "importante você ter ciência" para Bolsonaro. O ex-presidente responde: "Coisa de maluco", seguido pela concordância do senador: "Exatamente".
Já em mensagem a Daniel Silveira, Marcos do Val afirma estar se reportando à "inteligência americana" e que agentes estrangeiros estariam cientes do plano de gravar Alexandre de Moraes. Ele diz a Silveira que foi necessário relatar às autoridades americanas por causa da "outra função" que exercia. Vale lembrar que Marcos do Val afirma ter sido instrutor da Swat. A Polícia Federal, de acordo com um trecho do relatório, acredita se tratar apenas de um "blefe" do senador.
O gabinete do senador Marcos Do Val enviou uma nota à imprensa. No texto, a equipe alega ter sido surpreendida com as publicações e diz que as matérias atribuem ao senador "responsabilidade por condutas que não são aparadas pelos fatos contidos nos autos da investigação conduzida pela Polícia Federal a respeito dos acontecimentos em torno do 8 de janeiro passado".
A Policia Federal também foi procurada pela reportagem e se limitou a dizer que "não se manifesta sobre eventuais investigações".
1. Fomos surpreendidos nesta quarta-feira (12) com a publicação de matérias jornalísticas que atribuem ao senador Marcos do Val a responsabilidade por condutas que não são aparadas pelos fatos contidos nos autos da investigação conduzida pela Polícia Federal a respeito dos acontecimentos em torno do 8 de janeiro passado.
2. A biografia do senador Marcos do Val é pontuada pelo seu apreço pela democracia e repúdio a quaisquer aventuras antidemocráticas. Em toda a sua trajetória pública, antes mesmo de ingressar na arena política, Marcos do Val jamais endossou quaisquer discursos que pregassem a ruptura democrática, nem deu apoio a quaisquer movimentos nesse sentido.
3. Esse seu posicionamento está cristalizado nos depoimentos que deu à Polícia Federal, que apura os fatos em investigação sigilosa, bem como na íntegra das mensagens que foram criminosamente divulgadas nas matérias publicadas hoje.
4. As notícias veiculadas hoje envolvendo o nome do senador Marcos do Val descontextualizam trechos de extensas conversas, distorcendo os fatos e atribuindo ao senador uma responsabilidade que não é dele. Ao se analisar o inteiro teor da troca de mensagens citada nas reportagens, percebe-se o quanto a narrativa apresentada hoje pela imprensa não se sustenta.
5. Por fim, causa-nos espécie e indignação ver que elementos de uma investigação sigilosa que está sendo conduzida pela Polícia Federal tenham sido entregues à imprensa e divulgados ao público sem qualquer respeito à veracidade dos fatos, com o claro intuito de antecipar o julgamento pela opinião pública e manchar o nome do senador Marcos do Val.
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