Um tipo diferente de acessório tem feito sucesso entre os candidatos a prefeito na Grande Vitória: as máscaras transparentes feitas de acrílico ou vinil. De diferentes tamanhos e modelos, elas permitem que os concorrentes ao pleito mostrem o sorriso no rosto em meio à pandemia de Covid-19, mas, segundo profissionais de saúde ligados às áreas de infectologia e epidemiologia consultados por A Gazeta, pecam em um ponto crucial: a proteção.
O uso de máscaras é uma das principais formas de reduzir a transmissão do novo coronavírus, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso porque elas formam uma espécie de barreira, dificultando a passagem de partículas que podem estar contaminadas.
Mas para que essa proteção seja efetiva o equipamento precisa estar adaptado ao rosto da pessoa, sem aberturas, como explicam o médico infectologista Carlos Urbano e a doutora em Epidemiologia e professora da Ufes Ethel Maciel.
"A principal função da máscara é reduzir a chance de contágio, protegendo as mucosas da entrada do vírus. Por isso elas precisam estar adaptadas ao rosto, sem aberturas", reforça Ethel.
Esse, contudo, não é o caso dos equipamentos que vêm sendo utilizados por diferentes candidatos a prefeito nas quatro principais cidades da Grande Vitória. Apesar de a maioria deles ainda usar, com mais frequência, o modelo convencional, de pano, a máscara transparente de acrílico ou de vinil também foi incorporada ao dia a dia das campanhas.
Arnaldinho Borgo (Podemos), por exemplo, que concorre ao pleito em Vila Velha, já foi fotografado com uma máscara de vinil transparente, que é aberta na parte superior, deixando o nariz parcialmente descoberto.
Modelo semelhante também é usado por Bruno Lamas (PSB) na Serra, Saulo Andreon (PSB) em Cariacica, e Fabrício Gandini (Cidadania), em Vitória. Todos eles fizeram uso do equipamento em caminhadas pelas ruas das cidades.
Há também quem faça uso do modelo que, apesar de cobrir o nariz, possui abertura no queixo ou nas laterais. Recentemente, esse tipo de máscara foi usado pelo candidato a prefeito de Vila Velha Neucimar Fraga (PSD) na gravação de um vídeo. Na Capital, João Coser (PT), e na Serra, Fábio Duarte (Rede), também utilizam esse equipamento em fotos nas redes sociais.
De acordo com a médica infectologista Rúbia Miossi, as máscaras transparentes protegem menos do que as comuns, de pano, usadas pela maioria da população. Elas podem até servir para conter partículas grandes, como gotículas disseminadas quando a pessoa fala, mas deixam a pessoa exposta à entrada do vírus.
As face shields, citadas pela infectologista, são proteções faciais transparentes, geralmente utilizadas por médicos e também por pessoas que trabalham com o público, como em supermercados. Elas funcionam como uma proteção extra para os olhos, não dispensam o uso de máscaras convencionais e são diferentes dos equipamentos usados pelos candidatos.
Alguns candidatos adotaram as máscaras transparentes desde o início da campanha, como é o caso do candidato a prefeito da Capital Lorenzo Pazolini (Republicanos). Nas redes sociais, o deputado estadual aparece com diferentes modelos, alguns abertos nas laterais outros no nariz. Nenhum, contudo, completamente fechado.
Pazolini já foi diagnosticado com Covid-19, mas, segundo infectologistas, isso não garante que ele está livre de ser contaminado novamente.
Muitos candidatos argumentam usar as máscaras transparentes por serem mais inclusivas, o que, de fato, são. Elas permitem que pessoas com deficiências auditivas façam leituras labiais. A doutora em Epidemiologia Ethel Maciel, contudo, garante que é possível ser inclusivo preservando a proteção nas máscaras.
"Eu mesma faço uso de máscaras que são transparentes na parte da boca, permitindo a leitura labial, mas que possuem pano em volta, fechando qualquer abertura. Há equipamentos específicos para isso e que são indicados", declarou.
Modelo semelhante ao que Ethel cita já foi, inclusive, utilizado pela vice de Pazolini, Capitã Estéfane (Republicanos). Ao contrário do cabeça de chapa, ela fez uso de uma máscara sem aberturas, colada ao rosto, mas com uma parte transparente. Um tipo de equipamento que é aprovado por especialistas.
Ao contrário do que dizem os especialistas entrevistados por A Gazeta, alguns concorrentes ao pleito afirmaram que não há contra indicação em relação às máscaras utilizadas por eles. Outros disseram que o equipamento está ajustado ao rosto e não possui aberturas, diferentemente do que mostram as fotos nas redes sociais analisadas pela reportagem e pelos profissionais de saúde. Houve ainda quem se limitasse a dizer que as máscaras são certificadas.
Arnaldinho Borgo (Podemos): A máscara convencional é utilizada por Arnaldinho em suas atividades, o que pode ser comprovado em suas redes sociais. No entanto, por ter algumas restrições alérgicas que o incomodam em alguns dias, a máscara de vinil tem sido utilizada, esporadicamente. O material é de fácil higienização, protege a projeção de gotículas de saliva, como recomendado por órgãos de saúde pública. O material, diferente do tradicional de pano, não fica úmido e tem vida útil maior. Médicos ouvidos pela equipe de campanha recomendaram a utilização em curto período de tempo, como é o caso.
Neucimar Fraga (PSD): O candidato optou pela utilização das máscaras de acrílico por facilitar a comunicação, principalmente com deficientes auditivos, que utilizam o recurso de leitura labial. Além disso, o material é reutilizável, de fácil higienização, cumprindo importante papel de sustentabilidade.
Mazinho (PSD): A democracia exige interação com a comunidade. Tenho feito isso de maneira responsável. Meu vice, o João Salles, é deficiente visual e estamos sempre atentos à inclusão de todos. A máscara transparente que uso é um pedido das pessoas que leem lábios, os surdos oralizado. Infelizmente não há máscara completamente eficaz contra o coronavírus, um vírus sobre o qual ainda pairam muitas dúvidas. Esse tipo de máscara que adotei não esconde minhas expressões e me protege contra o vírus. Duas qualidades indispensáveis. Ela tem sido eficaz. Faço exames regulares, jamais fui infectado.
Fabrício Gandini (Cidadania): A assessoria do candidato a prefeito de Vitória pelo Cidadania, deputado estadual Fabrício Gandini, informou que a máscara que ele utiliza é vendida em todas as farmácias, com certificado.
Lorenzo Pazolini (Republicanos): O modelo de máscara utilizada pelo candidato foi escolhido por ser seguro e inclusivo. Conforme a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não há normas técnicas ou recomendações de fabricação e eficiência para o modelo de máscaras inclusivas. A Agência reconhece importância desse tipo de equipamento e orienta que eles sejam fabricados de modo que fiquem ajustados ao rosto, sem espaços nas laterais ou nas margens, como é a do Pazolini.
João Coser (PT): No dia a dia da campanha, nas caminhadas, nos eventos que participo tenho utilizado máscaras de tecido. Somente durante algumas entrevistas para televisão, ou aquelas em vídeo, tenho utilizado a máscara transparente.
Saulo Andreon (PSB): A decisão pelo uso da máscara transparente pelo candidato Saulo Andreon foi amparada pela opinião de epidemiologistas que destacam a eficiência do produto, especialmente pela sua fácil higienização. Lembrando ainda que o uso desse tipo de máscara facilita a comunicação inclusive com pessoas surdas que fazem leitura labial.
Dr. Helcio (PP): Diferente da face shield, que não protege, a máscara utilizada pelo candidato Dr. Helcio é colada ao rosto. Sobre o modelo usado por ele, não há nenhuma especificação junto à OMS e especialistas recomendando o não uso. Dr. Helcio, como médico há 43 anos, tem total consciência das medidas de segurança que precisam ser adotadas, como por exemplo, o distanciamento social, que vem sendo respeitado durante os eventos de campanha. O tipo de máscara usada pelo candidato tem como objetivo facilitar a comunicação com o eleitor, a quem ele deve se reportar.
Fábio Duarte (Rede): A máscara transparente permite que pessoas surdas e deficientes auditivas se comuniquem. Além disso, são muito úteis para autistas e portadores de dificuldades de aprendizagem, que podem ter medo de máscaras ou precisam ser capazes de ver expressões faciais. Com ela, é possível ver os sorrisos um do outro, o que é muito importante no momento desafiador em que estamos vivendo.
Bruno Lamas (PSB): A máscara cobre todo meu rosto. Inclusive comprei ao observar um farmacêutico usando. Aumentei o tamanho do acrílico para aumentar a proteção.
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