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MDB encolhe no ES após disputas internas e debandada de prefeitos

MDB encolhe no ES após disputas internas e debandada de prefeitos

O partido elegeu, em 2020, oito nomes para comandar municípios no Estado. Em 2016 foram 17. Na Grande Vitória,  sigla não terá nem um vereador a partir de 2021

Publicado em 9 de dezembro de 2020 às 05:30

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Delegado Pazolini (Republicanos) comemora vitória na Capital
Ex-deputado federal Lelo Coimbra (MDB), de máscara branca, em meio ao público, cumprimenta Lorenzo Pazolini (Republicanos) após o resultado da eleição em Vitória. (Vitor Jubini)

Se em 2016 o MDB elegeu 17 prefeitos em todo o Espírito Santo, em 2020 o resultado que surgiu das urnas foi bem diferente. A legenda viu a vitória de apenas oito filiados. Na Grande Vitória, a partir do ano que vem, a sigla não terá um representante sequer, nem nas prefeituras, nem nas câmaras municipais. Os números têm como pano de fundo as disputas internas pelo comando do MDB estadual e a debandada de prefeitos após a saída do ex-governador Paulo Hartung, que deixou o partido em 2018.

Ao todo, em 2020, a legenda lançou 502 candidatos para ocupar prefeituras e câmaras municipais no Estado. Desses, 19 disputaram cadeiras de prefeito, considerando dois que se registraram na Justiça Eleitoral de forma independente, ou seja, sem ter o aval do próprio partido: Fabio Louzada, em Vitória, e Delegado Federal Márcio, na Serra. Eles tiveram as candidaturas barradas pela Justiça Eleitoral, mas, por meio de recursos, conseguiram aparecer nas urnas.

Dos oito prefeitos que se elegeram, cinco já ocupavam prefeituras e foram reeleitos: Guerino Zanon, em Linhares; Edmilson Meireles, em Irupi; Borel, em Alto Rio Novo; Josafá Storch, em Laranja da Terra; e Hermínio Hespanhol, em Mantenópolis.

Outros três eram figuras conhecidas da população por terem administrado as cidades em anos anteriores: Atanael, em Mucurici, foi prefeito por dois mandatos (2005 a 2012); Elieser Rabelo, em Vargem Alta, prefeito também por dois mandatos (2005 a 2012) e Edmilson Eliziario, em Rio Bananal, que já havia sido prefeito, eleito em 2012.

O fato de já serem conhecidos dos eleitores, de eleições passadas, pode indicar que mesmo nas cidades em que o partido venceu, o resultado pode ter sido pela liderança e carisma dos candidatos e não tanto por um esforço partidário. "O MDB não conseguiu ter uma estratégia partidária, não conseguiu se comportar como grupo devido às disputas internas. O mais provável é que esses eleitos tenham surgido a partir das lideranças dos próprios prefeitos", aponta o cientista político João Gualberto Vasconcellos.

O cenário no partido mudou entre as duas eleições municipais. Em 2016, quando elegeu mais prefeitos, o MDB tinha como liderança o então governador Paulo Hartung. Em 2018,  Hartung decidiu não disputar a reeleição e, logo depois, anunciou sua saída do partido. Ele segue sem filiação.

Renato Casagrande (PSB) venceu o pleito e assumiu como chefe do Executivo estadual em 2019. Desde então, houve uma debandada de prefeitos, que deixaram o MDB. Alguns migraram para o partido de Casagrande. O contexto de disputas internas e o atrativo de estar mais próximo ao governador podem explicar as baixas.

Dos 17 prefeitos eleitos pelo MDB em 2016, nove mudaram de partido em quatro anos. Desses, cinco foram reeleitos em 2020. Deixaram a legenda e foram reeleitos Hilário Roepke Gatinha (PSB), em Santa Maria de Jetibá; Fabrício Petri (PSB), em Anchieta; Christiano Spadetto (Cidadania), em Conceição do Castelo; Eleardo Brasil (PSB), em Divino de São Lourenço e Lucano Pingo (Republicanos), em Ibatiba.

Deixaram o MDB e não concorreram em 2020: Sérgio Meneguelli (Republicanos), em Colatina; Reginaldo de Souza (PSB), em Ibitirama e Darly Dettmann (PSB), em Itaguaçu. José Carlos de Almeida (DEM) concorreu à reeleição em São José do Calçado, mas não venceu.

Com a ausência de uma liderança com capital político suficiente para dar mais peso às candidaturas, o partido ficou atrás, em número de prefeitos eleitos, do PSB, do Republicanos e do Cidadania. O PSB lidera o ranking com 13 prefeitos eleitos, o Republicanos, que tem como principal liderança Erick Musso, presidente da Assembleia Legislativa, elegeu 10 e o Cidadania, que contou com a articulação do deputado federal Josias Da Vitória, vai ocupar nove prefeituras a partir do ano que vem.

Na Grande Vitória, o MDB não elegeu nem um vereador. Para a prefeitura, lançou (com aval da diretoria nacional), apenas o candidato Ivan Bastos, em Cariacica, em uma chapa puro-sangue que alcançou 1,01% dos votos válidos.

Na Capital, no entanto, a sigla esteve, desde as convenções partidárias, em agosto, ao lado de Lorenzo Pazolini (Republicanos), que venceu a disputa.

SAÍDA DE HARTUNG RESULTOU EM DISPUTAS INTERNAS

Em 2018, além da perda do comando do Palácio Anchieta, o MDB viu a derrota de dois de seus principais nomes: Lelo Coimbra, que disputava a reeleição como deputado federal, e Luzia Toledo, que tentava se manter na Assembleia Legislativa.

Foi em 2018, também, que a senadora Rose de Freitas (agora sem partido), saiu da legenda para integrar o Podemos, para viabilizar sua candidatura ao governo do Estado. Rose saiu porque a sigla se mobilizava para lançar Hartung à reeleição, o que acabou não acontecendo. Rose ficou no Podemos até setembro deste ano, quando foi afastada da sigla por apoiar a reeleição do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e, em seguida, anunciou sua saída.

Hoje, o MDB não tem nenhum representante na bancada capixaba no Congresso Nacional. Na Assembleia Legislativa, Doutor Hércules está em seu quarto mandato consecutivo e José Esmeraldo no quinto como deputados estaduais. Esse, inclusive, faz parte do grupo liderado por Marcelino Fraga, que rivaliza com Lelo Coimbra na disputa pelo diretório estadual da sigla.

Os dois grupos surgiram do racha que atingiu o partido após a saída Hartung. Lelo e Marcelino disputaram a liderança estadual da sigla em 2019, mas a eleição interna foi parar na Justiça e o diretório estadual esteve sob intervenção da Executiva nacional desde março deste ano. O interventor era o prefeito de Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, Washington Reis.

Toda essa competição desmobilizou as forças para as eleições municipais, o que fez com que a legenda não tivesse nomes fortes para lançar nas principais cidades e não elegesse nenhum representante na Grande Vitória.

Procurado pela reportagem, José Esmeraldo preferiu não falar sobre os desentendimentos que existem na sigla. Afirmou, no entanto, que a "única saída" para a legenda no Estado é trazer Rose de volta como presidente do diretório estadual. 

"O meu pensamento é que a Rose viesse para o MDB, ela seria a ressurreição da legenda no Estado. Não esse grupo, não sei se posso chamar de grupo, que está hoje. Ela criaria um ambiente de paz e poderia até compor com todos os lados", pontua. A reportagem tentou contato com a senadora, mas não conseguiu respostas até a publicação deste texto.

PARTIDO QUER SE ORGANIZAR PARA 2022

A intervenção, que tinha conclusão prevista para junho, só terminou no último dia 30 de novembro. Desde então, o partido é comandado por uma comissão provisória, presidida por Lelo Coimbra. O ex-deputado lamenta a situação do partido, que resultou no encolhimento da legenda em prefeituras no Estado.

"Nós tínhamos prefeitos [eleitos em 2016], a maioria com chance de reeleição, mas estávamos em um processo interno de disputa e acabou se tornando um ambiente de insegurança, além disso, teve a ação do próprio governador, que chegou a ligar pessoalmente para prefeitos nossos, estimulando para que o MDB pudesse ficar menor", afirma.

De acordo com Lelo, a prioridade da legenda, agora,  é se reestruturar para lançar chapas para o governo estadual, Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados em 2022. 

O ex-deputado admite que a saída de alguns nomes do partido se deu pela instabilidade provocada pela crise interna na legenda. "Dos 13 prefeitos eleitos pelo PSB, três saíram do MDB. Frutos da crise, se não fosse isso não teriam saído", avalia.

Além disso, o partido poderia ter eleito um prefeito em Vila Velha. Arnaldinho Borgo (agora no Podemos), que venceu no município canela-verde, era do MDB, mas deixou o partido para concretizar sua candidatura. O MDB havia decidido lançar Doutor Hércules à prefeitura, a pedido do próprio parlamentar. Hércules, no entanto, desistiu da candidatura e apoiou Neucimar Fraga (PSD), que ficou em terceiro lugar na disputa. 

"Nos pegou completamente de surpresa. Nós íamos respeitar a vontade do Doutor Hércules, por ser deputado estadual e o nome dele era competitivo. Foi uma perda que não estava na nossa conta", admite Luzia Toledo, que preside a sigla no município de Vitória.

Na Capital, o partido esteve na coligação de Lorenzo Pazolini (Republicanos), que foi eleito. Para Lelo, a vitória de Pazolini é uma vitória do MDB. "Tivemos uma grande vitória na Capital. Ele [Pazolini] é um nome que nos fortalece no desenho partidário", destaca.

O balanço do pleito, portanto, seria positivo aos olhos do ex-deputado federal. "Eu considero que nessa circunstância, nós fomos vitoriosos. Pelo número de candidatos que tivemos e nas circunstâncias que nós tivemos, saímos vitoriosos."

GUERINO ZANON É APOSTA

Embora o MDB tenha passado por uma desidratação, a legenda ainda tem uma aposta para recuperar o fôlego da sigla no jogo político: uma possível candidatura de Guerino Zanon, reeleito para o quinto mandato como prefeito de Linhares, a governador do Estado em 2022.

"Se for fazer análise só estatística, a conclusão é que esse partido praticamente acabou. Só que houve o definhamento, mas qualitativamente, pelo papel que o MDB tem em termos de articulação, só o fato do Zanon poder entrar na corrida pra sucessor já mostra o MDB maior que a aparência. Ele é um polo de poder muito proeminente no processo de sucessão", avalia o cientista político Fernando Pignaton.

Zanon foi reeleito com 54,44% dos votos em uma cidade que é uma das principais forças econômicas do Estado. Pesquisa Ibope realizada no município a pedido da Rede Gazeta, em outubro, mostrou que a administração municipal é considerada boa ou ótima por 56% dos entrevistados.

Lelo confirma a intenção do partido. "Eu, pessoalmente, acho que Guerino está pronto para ser candidato a governador, ele é um nome que pode ser colocado, acho até que deve ser colocado. Podemos ter nele uma figura importante neste momento. Ainda não sentei para conversar com ele, mas torço muito para que ele se anime com a possibilidade de se candidatar", afirma.

Além de apostar em Guerino, o MDB tem se aproximado do grupo político que tem crescido no Estado, nascido das articulações feitas por Roberto Carneiro, presidente estadual do Republicanos. 

O Republicanos elegeu apenas três prefeitos a menos que o PSB, o que mostra a formação de um novo polo de poder no Estado. A aproximação do MDB desse grupo, com a possibilidade de articular uma candidatura de Zanon, poderia, portanto, sinalizar o surgimento uma coalizão disputando o governo com Casagrande em 2022.

Outro nome cotado para disputar o governo em 2022, no entanto, é o do deputado federal Amaro Neto, do próprio Republicanos.

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