Entre os 735 nomes que se candidataram à disputa pelas 30 vagas de deputado estadual e para as 10 vagas de deputado federal no Espírito Santo, 69 não chegaram a computar 100 votos cada um. Nessa lista dos menos votados no Estado, 40 são pessoas negras (57%) e 38 são mulheres (55%).
Os quatro menos votados não chegaram a receber 10 votos. Matilde Marinato (PMB) teve 5; Miqueias Fiscal do Povo (PSC), 6; Van Brasil Coletivo ES (PSDB), 8, e Marlucia Almeida (DC), 9. Todos foram candidatos a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado.
Procurados pela reportagem de A Gazeta para entender o porquê dos poucos votos recebidos, os candidatos não responderam ao contato até o fechamento desta matéria. Já representantes dos partidos alegaram falta de recursos para bancar as campanhas e a preferência, na distribuição da verba, às candidaturas de deputado federal.
Dos quatro que não receberam nem 10 votos, três deles não tem nenhum recurso recebido declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até o momento, apenas Marlucia Almeida (DC) declarou ter recebido R$ 13.295,03 — 99,9% do partido e o restante de doação de pessoa física.
Doutora em Ciência Política e professora de Teoria Política e Política Internacional da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Mayra Goulart observa que a distribuição de recursos se dá de acordo com o potencial de eleição do candidato e a proximidade com as lideranças dos partidos, e que a falta de dinheiro pode justificar a baixa quantidade de votos.
"Quando você erradica o financiamento privado ou quando diminui muito esse financiamento, proibindo a doação de empresas para as campanhas eleitorais, você acaba reduzindo a influência dos atores econômicos no processo político, mas aumentando a influência dos chefes partidários que distribuem esse dinheiro conforme as suas preferências", destaca. "É importante saber que numa nominata, nem todos os candidatos vão receber muitos votos. Tem muitas pessoas que entram mesmo somente para compor", completa.
Pelas regras atuais, sem as coligações, partidos e federações puderam lançar chapas com até 31 candidatos a deputado estadual e 11 postulantes a deputado federal. No entanto, as siglas costumam concentrar dinheiro e tempo no horário eleitoral em candidatos que têm mais chances de receber mais votos.
Mayra Goulart reforça que a legislação eleitoral incentiva a concentração dos investimentos, sobretudo em candidatos à Câmara dos Deputados, a fim de ultrapassar as cláusulas de barreira e, assim, garantir um desempenho bom o suficiente para continuar tendo acesso a benefícios como recursos do fundo partidário e tempo de propaganda na TV e no rádio.
Em 2022, os partidos deveriam eleger ao menos 11 deputados federais em nove estados diferentes ou obter 2% dos votos válidos para a Câmara, sendo 1% dos votos válidos em nove unidades da federação, no mínimo. Das 32 siglas registradas no TSE, apenas 13 conseguiram cumprir as exigências de desempenho. Entre os 19 que não superaram as cláusulas de barreira, vários discutem a fusão com outras legendas para sobreviver e ter alguma chance de sucesso nas próximas eleições.
A doutora em Ciência Política Mayra Goulart chama a atenção para a quantidade de candidaturas de mulheres e pessoas negras no ranking dos menos votados. Isso porque esses candidatos têm que ter uma reserva do fundo de eleitoral distribuído pelos partidos na mesma proporção que eles ocupam na lista de candidaturas. "Então, se de 100 candidatos há 70 mulheres, elas têm que receber 70% dessa verba", explica.
A votação baixa, para a cientista política, pode ser resultado de um esvaziamento da regra de distribuição do fundo eleitoral. "Tem uma regra que diz a importância de se distribuir recursos entre candidaturas de mulheres e de negros e muitas vezes esses candidatos não tiveram nem redes sociais fazendo campanha. Isso continua concentrando os investimentos de partidos em candidatos que já são mais conhecidos", acrescenta.
Neste ano, pela primeira vez, os candidatos, partidos políticos e coligações ou federações precisaram informar seus endereços nas redes sociais à Justiça Eleitoral. Isso porque a propaganda eleitoral paga na internet deve ser feita somente nos perfis oficiais.
Entre os candidatos que receberam menos de 100 votos no Espírito Santo, apenas 16 declararam suas redes sociais ao TSE. Destes, apenas 8 fizeram algum tipo de campanha, divulgando santinho ou o número da urna. Nenhum deles realizou propaganda eleitoral paga.
Beatriz Heleodoro é aluna do 25º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo teve a supervisão da editora Gisele Arantes.
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