A Câmara de Vitória é uma das que vai contar com uma renovação significativa após os resultados das urnas nas eleições de 2020. Das 15 cadeiras disputadas, apenas cinco serão ocupadas por parlamentares que se reelegeram. Mesmo com 10 novos vereadores, no entanto, já é dado como certo que a eleição da Mesa Diretora, que será realizada no dia 1º de janeiro, vai alçar o veterano Davi Esmael (PSD) ao comando da Casa pelos próximos dois anos.
O vereador caminha para o terceiro mandato e seu nome é aprovado pela ampla maioria dos colegas, tanto entre os que se reelegeram quanto os que estão chegando. Para alguns dos novatos ouvidos por A Gazeta, mesmo quando há interesse de concorrer à presidência, a decisão de consenso será mais importante e Davi é visto como alguém mais experiente.
A preferência por ele, no entanto, também pode ser explicada pela proximidade do parlamentar com o prefeito eleito, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Pazolini e Davi são amigos, conforme registrou a coluna Vitor Vogas. Embora a maioria dos vereadores reeleitos não tenha apoiado o republicano no primeiro turno, todos se aproximaram e pediram votos para ele durante a campanha para o segundo.
Para esses, colocar um de seus aliados na presidência do Legislativo poderia ser, portanto, uma forma de se "redimir" por não ter apoiado a candidatura de Pazolini desde o início.
No cenário atual apenas três vereadores estão fora do "grupão" formado por parlamentares que já se posicionam na base de Pazolini: Camila Valadão (PSOL), Karla Coser (PT) e Aloísio Varejão (PSB).
A candidatura de Davi é abençoada e incentivada, principalmente, pelo vereador Denninho Silva (Cidadania), reeleito com o maior número de votos (7.213) nas eleições municipais. Foi em um almoço organizado por ele, segundo os parlamentares, que as conversas para formação de chapa começaram a ser feitas.
Apenas os vereadores da base estiveram no almoço. "Fizemos um grupo com 12 vereadores para conversar sobre a formação da chapa, acho que dia 27 vamos oficializar um nome, mas meu candidato é o Davi Esmael", afirmou Denninho. Questionado se a oposição foi convidada para o grupo, respondeu que "praticamente a oposição é formada só pelas duas vereadoras" e garantiu que elas foram procuradas.
Karla e Camila, no entanto, negam que tenham sido convidadas para a confraternização. Camila relata, ainda, que as duas foram excluídas de conversas relacionadas à distribuição das comissões que existem na Casa. "Pela primeira vez Vitória elege duas mulheres e o que os vereadores fazem? Se reúnem, sem elas, para definir o local onde vão ficar. Que eles se reuniriam para formar chapa nós já sabíamos, mas essa divisão das comissões não vamos aceitar", pontuou.
Karla confirma que, no início, as duas foram excluídas do diálogo, mas pondera que nos últimos dias passou a ser procurada pelos parlamentares para "conversar" sobre suas "comissões de interesse". Nenhuma conversa, no entanto, foi feita a respeito da formação de chapa para a Mesa Diretora.
"Em um primeiro momento houve, realmente, um almoço para o qual não fomos convidadas. A conversa era de que eles teriam dividido as comissões entre eles e o que sobrasse ficaria com a gente. Mas acho que eles estão revendo essa posição e buscando nós duas para conversar. Eu falei que a posição deles não tinha sido tão democrática e acho que agora estão mais dispostos a conversar", pondera.
Apesar de vislumbrar um possível diálogo, as duas vereadoras, que são representantes da esquerda, não têm esperanças de compor a Mesa e também percebem, pelas movimentações, que a chapa já está definida. "Para nós já era muito nítido que nós estaríamos em uma oposição muito minoritária. O que obviamente dificulta muito o nosso trabalho", aponta Camila, segunda vereadora mais bem votada nas eleições, com 5.625 votos.
O favoritismo de Davi, no entanto, não significa que ele é o único interessado na cadeira. Dentro do grupo há outros nomes que se colocaram à disposição, como Dalto Neves (PDT) e Delegado Piquet (Republicanos), por exemplo. Mas ambos preferem seguir o consenso e podem ser alocados, na mesma chapa, para outros cargos que serão disputados.
"Fui muito bem acolhido pelo grupo e estaria faltando com meu compromisso se não me colocasse à disposição para presidência ou mesmo uma secretaria. Mas Davi é um amigo pessoal, de plena confiança, eu acompanho o consenso", assinalou Piquet, único representante do Republicanos, legenda do prefeito eleito, na Casa.
Davi Esmael é formado em direito pela FDV, graduado no mesmo ano que Pazolini. Ele foi reeleito nas eleições municipais com 3.408 votos. No primeiro turno, seu colega de partido Mazinho dos Anjos disputou a prefeitura, sem sucesso. Livre para apoiar quem quisesse no segundo turno, Davi esteve com Pazolini, de quem é amigo pessoal e parceiro político.
O vereador é evangélico e de direita. Entre suas principais bandeiras, de acordo com a sua biografia na Câmara, está a "defesa e o fortalecimento das famílias", o que o aproxima ainda mais da base eleitoral do prefeito eleito, também formada, em sua maioria, por eleitores mais conservadores. Ele foi um dos autores da lei que tornou igrejas e templos de culto atividades essenciais, para funcionar mesmo em meio à pandemia de Covid-19.
A reportagem tentou contato com o parlamentar, por telefone, diversas vezes. Até o momento da publicação deste texto, no entanto, não teve respostas.
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