O professor Paulo Sérgio Vargas já está exercendo a função de reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A nomeação, feita pelo presidente Jair Bolsonaro, aconteceu na noite desta segunda-feira (23) e eram esperados alguns protocolos até a posse. Contudo, em virtude das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a solenidade será a distância e o eleito assumiu o cargo nesta terça-feira (24).
"Em contato com o Ministério da Educação (MEC), foi informado que a posse se dará a distância, devido à impossibilidade de deslocamentos. A nomeação é válida para que o professor Paulo Vargas já assuma suas funções como reitor a partir de hoje (terça-feira). Portanto, ele já está no exercício da função", informou a Ufes, por meio de nota da assessoria.
A nomeação de Paulo Vargas, que era diretor do Centro de Artes e professor do Departamento de Arquitetura, surpreendeu a comunidade acadêmica, uma vez que a antiga vice-reitora, Ethel Maciel, havia recebido a maioria dos votos do Conselho Universitário. Ela obteve a preferência de 26 conselheiros, enquanto Vargas e o professor Rogério Faleiros, empatados, receberam 16 votos cada.
O nome dos três compôs a lista tríplice enviada ao MEC, que depois foi repassada à Presidência da República para que Bolsonaro pudesse escolher o novo reitor. Também participaram da disputa a professora Gláucia de Abreu, que recebeu 12 votos, e Surama Freitas, com uma indicação.
Historicamente, os presidentes conduzem o mais votado ao comando das universidades federais. Ethel, além do apoio da maioria do conselho, apareceu também como preferida em uma consulta informal, na qual recebeu 67,5% dos votos de professores, alunos e servidores. Paulo Vargas não participou desta avaliação e apoiou Ethel. Segundo informações à época das eleições, ele era aliado da vice-reitora e apenas entrou na disputa oficial para reduzir as chances de candidatos com viés político mais à direita de assumir o comando da instituição.
A estratégia era dividir os votos do colégio eleitoral entre o grupo, composto também por Faleiros. Isso porque a professora Surama seria ligada ao bolsonarismo, pois se identifica em suas redes como parte de grupos de direita na universidade e projetos como o "Future-se".
A nomeação de Paulo Vargas, no último dia do prazo, foi feita depois do MEC anunciar que professor mais antigo de conselho da Ufes iria ficar interinamente no cargo. A decisão não durou seis horas.
A não indicação de Ethel Maciel causou reações, como a da diretoria executiva do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Por meio de nota, a entidade fez considerações sobre a forma como o presidente Jair Bolsonaro tem conduzido sua relação com as universidades.
"A nomeação à reitoria, em sua tradição democrática, sempre se deu em processos de consultas à comunidade acadêmica, que eram utilizadas de base para a construção da lista tríplice pelo Colégio Eleitoral. Ao ser encaminhada ao MEC, se nomeava aquele que encabeçasse a lista. Em 14 nomeações feitas em 2020, Bolsonaro só escolheu o primeiro colocado da lista tríplice para reitor em oito universidades. Em seis (43%), optou por candidatos menos votados, chegando a nomear postulante que teve 600 votos contra mais de 7 mil do primeiro colocado", pontua.
E acrescenta: "nesse momento, o DCE Ufes reafirma que permanecerá na defesa dos resultados da pesquisa informal paritária de votos de estudantes, técnicos e docentes, que é o mais importante indicador não vinculante, e por tradição e respeito ao Colégio Eleitoral de nossa Universidade ao programa eleito. Assim, compreendemos que a centralidade da luta deve ser contra o nosso maior inimigo: o Governo Bolsonaro, que desrespeita a democracia e autonomia das universidades públicas."
Depois, em nota em que, além do DCE, também assina a Associação dos Docentes da Ufes (Adufes), foi manifestada a " indignação com a não nomeação da primeira colocada da lista tríplice para a reitoria" e o apoio e solidariedade à Ethel.
"Revolta-nos profundamente que, ao longo da história brasileira, nenhum governo tenha efetuado a contento as mudanças nas leis relativas à nomeação de dirigentes das instituições de ensino a fim de tornar o processo eleitoral a expressão da vontade da comunidade acadêmica. O resultado disso, diante de um governo autoritário, que diariamente insulta a educação e a trata de forma ultrajante, é o desrespeito ao desejo da coletividade da universidade", diz parte da nota.
Formado pela Ufes e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Paulo Vargas foi procurado nesta manhã para falar sobre sua nomeação e projetos para a instituição, mas ainda não deu retorno. Assim que ele se manifestar, esse texto será atualizado.
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