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Metade dos candidatos a prefeituras da Grande Vitória têm mulheres como vices

Metade dos candidatos a prefeituras da Grande Vitória têm mulheres como vices

Em Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica, 11 das 22 chapas têm candidatos a prefeito homens e vices mulheres; apenas duas mulheres são candidatas a prefeita. Especialistas explicam principais motivações

Publicado em 5 de setembro de 2024 às 12:01

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Metade das chapas da Grande Vitória têm mulheres como vices
Acesso a recursos e suavização de imagem de candidatos estão entre motivos para escolha de vices mulheres . (Vecteezy.com)

Exatamente a metade das 22 chapas que disputam as prefeituras de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica, os maiores colégios eleitorais do Espírito Santo, são encabeçadas por homens tendo mulheres como vices. Os registros das candidaturas junto à Justiça Eleitoral confirmam, na Grande Vitória, uma tendência que especialistas ouvidos pela reportagem de A Gazeta creditam a diversos motivos: complementariedade de perfis, requisitos ideológicos, suavização das imagens de candidatos homens e, sobretudo, acesso a mais recursos do Fundo Eleitoral.

Nas cidades citadas, apenas duas mulheres são candidatas a prefeitas e ambas têm homens como vices em suas chapas. Em Vitória, Camila Valadão (PSOL) tem como candidato a vice Macaciel Breda (Rede). Em Cariacica, formaram chapa Célia Tavares (PT) e Hudson Vassoler (PSOL). Outras nove chapas são compostas apenas por homens.

Onze chapas, portanto, são encabeçadas por homens com vices mulheres. Em Vitória, entre os seis candidatos, esse é o caso de três: Capitão Assumção (PL) e Mayra Marcarini (PL), João Coser (PT) e Priscila Manso (PV) e Lorenzo Pazolini (Republicanos) e Cris Samorini (Progressistas). Em Vila Velha, entre seis candidatos, é o caso de dois: Coronel Ramalho (PL) e Enfermeira Laryssa (PL), e Mauricio Gorza (PSDB) e Professora Daniela Torres (PSDB).

Na Serra, entre sete candidatos, quatro têm vices mulheres: Audifax Barcelos (PP) e Nilza Cordeiro (PSDB), Pablo Muribeca (Republicanos) e Magda Novaes (Republicanos), Professor Roberto Carlos (PT) e Cida Alves (PCdoB) e Weverson Meireles (PDT) e Delegada Gracimeri (MDB). Em Cariacica, é o caso de dois entre três: Euclerio Sampaio (MDB) e Shymenne de Castro (PSB) e Ivan Bastos (PL) e Pâmmela Fiorio (PRTB).

A escolha da vice do atual prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, foi uma das aguardadas com mais expectativa, especialmente devido ao seu afastamento da vice de seu primeiro mandato, Capitã Estéfane (então no Patriota, hoje candidata a vereadora pelo Podemos). Após uma trajetória de afastamento político entre os dois, a vice-prefeita acusou o atual chefe do Executivo de silenciá-la e restringir sua atuação no cargo, afirmando ter sido vítima de violência de gênero.

Ao longo da pré-campanha, alguns homens chegaram a ser cotados para ocupar o posto na chapa, como o empresário e ex-secretário Aridelmo Teixeira (Novo), o presidente da Câmara de Vitória Leandro Piquet (PP) e o presidente municipal do Progressistas Marcos Delmaestro. A vaga acabou sendo ocupada, de fato, pelo PP, mas com a ex-presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) Cris Samorini.

Metade dos candidatos a prefeituras da Grande Vitória têm mulheres como vices

"Nestas eleições, a gente observa que muitas dessas candidatas a vice não vêm de uma trajetória política. Como a Cris Samorini, que tem uma grande representação no campo da indústria, mas nunca disputou nenhum pleito. É uma escolha que suaviza o arranhão na imagem do Pazolini pelas brigas com a vice das últimas eleições, Capitã Estéfane. A estratégia de manter uma vice mulher e que representa o campo empresarial dá uma abertura para o diálogo, diferentemente do que a vice anterior significou para ele em 2020", analisa João Victor dos Santos, mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

No caso dos candidatos da direita bolsonarista, como Capitão Assumção e Coronel Ramalho, o especialista avalia que o papel das vices também é uma suavização das imagens, mas de outro tipo. "É uma questão do campo simbólico. Ter uma mulher compondo uma candidatura da direita conservadora centraliza um pouco o ambiente eleitoral. O Coronel Ramalho, por exemplo, trouxe uma mulher, enfermeira, com uma trajetória de vida interessante, de uma região pobre de Vila Velha. Ela carrega vários elementos simbólicos. Esses movimentos suavizam as imagens nos panfletos, nos discursos, ao dizer que se preocupam com as vidas e as pautas das mulheres".

João Victor dos Santos cita, ainda, o caso do ex-prefeito João Coser, que sinalizava a preferência por uma vice mulher antes mesmo da definição do nome específico, chegando a manifestar interesse em levar Capitã Estéfane para sua chapa. "No campo da esquerda, ele disputa com uma candidatura feminina [Camila Valadão, do PSOL]. Ele precisava ter uma postura para dialogar com esse público, captar o voto feminino. É um eleitorado crítico e ele seria cobrado por essa representação".

Santos ressalta, porém, que entre todos os fatores, o mais relevante diz respeito ao financiamento das campanhas eleitorais: os partidos políticos são obrigados a destinar no mínimo 30% dos recursos públicos, tanto do Fundo Partidário quanto do Fundo Eleitoral, para as candidaturas femininas. Ao incluírem mulheres como vices nas chapas, os candidatos também levam a possibilidade de acessar mais dinheiro para as campanhas.

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Não podemos perder de vista que existe essa estratégia. A cota de 30% de financiamento trouxe um aumento de candidaturas de mulheres, mas muito no campo da vice-prefeitura. A questão é: essa posição de vice é a posição ideal para as mulheres? A candidatura é financiada, mas a chapa continua sendo encabeçada por um homem

João Victor dos Santos
Mestre em Ciência Política pela Ufes
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Processo histórico

Para Antônio Carlos de Medeiros, pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science e colunista de A Gazeta, a tendência das vices mulheres reflete as mudanças demográficas do país. "Finalmente, o sistema político reconhece que as mulheres são maioria na população brasileira e têm um papel importante na gestão de negócios, da política e do mundo do trabalho".

Para ele, a candidatura da democrata Kamala Harris à presidência dos Estados Unidos após cumprir um mandato como vice-presidente de Joe Biden será uma referência também para as eleições locais mundo afora, inclusive no Brasil. "O momento é de ímpeto da candidatura dela e de crescimento do papel das mulheres por referência. A escolha de vice-prefeitas têm na essência uma tentativa de entender que as mulheres têm um papel importante a cumprir na política", analisou.

Quanto ao número ainda pequeno de mulheres encabeçando chapas, Medeiros considera que ainda está em curso um processo histórico. 

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À medida que forem tendo ascensão no mundo político, mais mulheres podem futuramente se candidatar a prefeitas, governadoras, presidentes. O andamento disso também depende de cada local. O Brasil é continental, tem diferenças regionais muito fortes. Mas ter mulheres nas chapas é, hoje, uma decisão importante para aumentar a capacidade dos candidatos de ganhar eleições

Antônio Carlos de Medeiros
Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science
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