Desde o dia 1º de novembro, um grupo de manifestantes concentra-se em frente ao 38° Batalhão de Infantaria, na região do Parque da Prainha, em Vila Velha, insatisfeitos com a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas. Com a aglomeração de pessoas, moradores e comerciantes têm reclamado de prejuízos e transtornos, como queda nas vendas e barulho. Uma mostra de decoração que acontece no local chegou a criar uma entrada alternativa.
Nas redes sociais, há relatos de buzinaços, engarrafamentos, caixas de som ligadas após as 22h e bloqueios de garagens devido à aglomeração de carros e pessoas. Uma peixaria do local chega a amargar uma diminuição nas vendas de até 40%, principalmente no feriado de Finados, no dia 2, e no final de semana dos dias 5 e 6, quando mais manifestantes estavam na região.
“Tivemos redução de 20% a 30% do público, porque, mesmo com o trânsito não estando impedido, a aglomeração de pessoas dificulta a entrada dos carros. No sábado e domingo, o movimento foi muito fraco, deixei de faturar de 30% a 40%. Estamos tentando contornar a situação, mas está prejudicando bastante”, relata o proprietário da Brapesca, Adaías Viola.
O movimento que toma conta da Prainha acontece também em outros locais do país, com pauta antidemocrática. Além de contestarem o resultado das eleições, sugerem uma intervenção militar, o que é inconstitucional.
O perito da Justiça do Trabalho Américo Santana do Nascimento vai toda semana à Prainha para comprar pescado e conta que tem tido dificuldade nos últimos dias. Na última terça-feira (8), ele foi buscar dourado, quando conversou com a reportagem e lamentou não poder levar a neta aos finais de semana para brincar no parquinho da Prainha, como costuma fazer.
“Tenho acompanhando a praça tomada e isso traz um sério constrangimento. Eu trago minha netinha de dois anos para brincar no parquinho e estou impossibilitado por esse movimento, que não vai conduzir a nada”, opinou.
Quem também tem sofrido com a presença dos manifestantes e dos carros de som é o mecânico Paulo Verneck, que mora há 30 anos na Prainha, próximo ao 38° BI. Ele conta que votou em Bolsonaro, mas se diz contra o movimento que ocorre próximo a sua casa.
A preocupação de Verneck é com o pai, que tem 90 anos e precisa eventualmente ser levado para o hospital, o que pode ser dificultado com o bloqueio da sua rua. “Quando tem trio elétrico, o barulho incomoda. Antes ficavam até mais tarde, mas agora desligam às 22h”, conta.
Inaugurada no último dia 18 de outubro, a mostra de decoração Casa Cor Espírito Santo está sendo realizada neste ano dentro do 38°BI e também tem sido impactada pela presença dos manifestantes, com diminuição do público esperado. No dia 2 de novembro, o espaço foi fechado devido ao grande volume de pessoas, que impedia a passagem dos veículos.
Segundo Rita Tristão, franqueada da Casa Cor Espírito Santo, para facilitar a chegada dos visitantes foi feito um acesso alternativo por baixo da Terceira Ponte. "O feriado do dia 2 seria um dia de muito movimento e havia até ônibus vindo de Baixo Guandu, mas comunicamos que fecharíamos porque era impossível acessar. A manifestação com certeza está afetando o público da mostra. No fim de semana, algumas pessoas desistiram com o engarrafamento na ponte", disse.
O acesso alternativo foi inicialmente criado para o último fim de semana, mas deve continuar sendo usado pelos clientes. Para chegar até essa entrada, é preciso seguir pela avenida São Paulo em direção ao Morro do Moreno, seguindo pelo Canal da Costa (embaixo da Terceira Ponte). Ao chegar na Vila Militar, o acesso é feito à esquerda no portão verde.
O funcionário público estadual aposentado José Luiz Baptista é morador da Prainha e está participando desde a semana passada das manifestações em frente ao 38° BI. Ela diz que vai todos os dias durante um período para se juntar aos manifestantes, mas também sente os impactos do grande número de pessoas no bairro, onde mora há sete anos.
“Tenho participado por achar uma questão que envolve interesse nacional, mas há impacto na vida aqui. Na frente da minha casa mesmo tinha carro estacionando em frente ao portão, em cima da calçada. São coisas que me irritam, mas é por uma causa maior”, afirma.
Ele conta ainda que quase foi impedido de entrar na própria rua por conta dos bloqueios da Guarda Municipal, mas conseguiu ser liberado pois tinha no carro credenciais da Festa da Penha.
A aposentada Célia Vieira, que tem participado do movimento na Prainha, alega que o grupo não tem provocado impacto para os moradores. Ela disse que no domingo (5), por exemplo, cinco caminhões entraram no Batalhão sem dificuldades e outros caminhões também chegam ao estacionamento da Prainha.
“É como o mar vermelho abrindo para o povo passar, o movimento é lindo de se ver, totalmente organizado. Milhares de pessoas estão juntas e, se alguém perde telefone, carteira ou cartão, as pessoas entregam para quem está com megafone avisar”, disse.
O movimento ainda não tem data para sair do local. Manifestantes ouvidos pela reportagem ressaltam que não há uma organização formal por trás do movimento.
Segundo a prefeitura de Vila Velha, a Guarda Municipal está realizando ações no entorno para evitar descumprimento de legislações vigentes, seja de trânsito, seja de outras ordens. Equipes atuam em revezamento para evitar ou minimizar transtornos para munícipes e visitantes.
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