Um movimento de médicos a favor da democracia divulgou uma nota de repúdio nesta sexta-feira (28) após as declarações do candidato Carlos Manato (PL) de que a pandemia da Covid-19 foi uma farsa. A fala foi feita durante o último debate do segundo turno para o governo do Espírito Santo, promovido pela TV Gazeta na noite de quinta-feira (27).
Manato, que também é médico, defendeu o chamado “tratamento precoce”, com medicamentos não aprovados pela ciência no combate ao coronavírus, e declarou que o número de óbitos foi inflado para prejudicar o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).
“A pandemia não foi uma farsa, como dito pelo senhor Manato, em desrespeito às famílias em luto e aos que ainda guardam sequelas da doença”, pontuaram os médicos, que destacaram ainda que não falsificaram atestados, como alegou o candidato, e que ingressarão com um ação na Justiça para que Manato prove as acusações. (Confira a nota completa no final da matéria.)
Um dos médicos que assinaram a nota, Geraldo Queiroz classificou as falas de Manato como "criminosas", e declarou que foram um ato de má-fé que não pode ser confundido por ignorância.
“Ele cometeu um crime ao dizer que nós falsificamos atestados de óbito para artificialmente aumentar o número de pessoas com diagnóstico de Covid. É inadmissível imaginar que um médico seja capaz de falsificar um documento. Queremos que o candidato comprove que houve falsificação e que responda por um crime de acusação contra toda a classe médica. Se ele sabe de alguém que fez isso, como pessoa pública, deveria ter denunciado para que fosse punido. Agora vir e simplesmente acusar toda a classe… Se viesse de um leigo, poderíamos ainda dizer que se trata de falta de conhecimento. Mas ele também é médico. Agiu de má-fé.”
Durante o debate, o candidato à reeleição Renato Casagrande (PSB) foi criticado por ter suspendido cirurgias eletivas e rebateu dizendo que foi uma medida necessária para salvar vidas no auge da pandemia, quando houve superlotação de hospitais em função do grande número de internações por pacientes com complicações provocadas pela Covid-19.
Diante disso, Manato declarou: “Governador, a pandemia foi uma farsa que vocês fizeram. Se vocês (eleitores) tiverem acesso ao relatório da pandemia, vocês não vão acreditar o que aconteceu. Vocês sabiam que nos presídios morreram muito menos pessoas… no presídio, com aquele aglomerado de 22 mil pessoas… do que cidadãos comuns? Sabe por quê? Porque, no presídio, foi feito tratamento precoce.”
O candidato alegou ainda que “em Vitória, pegaram aquelas pessoas que tomaram tiro, que levaram facada, que foram atropeladas e levaram essas pessoas para dentro dos hospitais para aumentar a taxa de ocupação, para dizer que era com Covid, para fazer o lockdown.”
No final de março de 2021, quando o Estado ultrapassou 90% de ocupação de leitos de UTI, o governador Renato Casagrande decretou quarentena de 14 dias, impedindo o funcionamento de atividades de comércio e serviços não essenciais, e recomendou redução da circulação de pessoas.
Nas palavras de Manato, medidas foram adotadas “pra vender mais leitos”. O candidato do PL ao governo do Espírito Santo insistiu ainda que “o tratamento precoce funcionou maravilhosamente dentro dos presídios, mas o cidadão comum não teve esse acesso”.
Em resposta aos ataques, Casagrande declarou que era “inacreditável” que um médico defendesse tais pontos, indo “contra a ciência”.
“É inacreditável. É esse tipo de profissional formado que renega a ciência, que induz um tratamento que não tem eficácia, que diz que aquilo que aconteceu na pandemia foi uma farsa. Pergunta à família das 17 mil pessoas que perderam a vida (no Espírito Santo) se acham isso uma farsa. Não puderam nem fazer o sepultamento dos entes queridos, dos amigos.”
Manato acusou ainda o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta de ter errado ao orientar que as pessoas ficassem em casa no início da crise sanitária.
“Nós temos experiências maravilhosas em Porto Seguro, aqui em Aracruz. Todos, sem exceção, que fizeram o tratamento precoce salvaram vidas. Desses 17 mil, grande parte deles não foi Covid. Eles colocaram Covid. (...) Nós tivemos acesso a relatórios. Vocês vão ficar abismados com as coisas que aconteceram, como é que foi tramado tudo para fazer um lockdown. Vocês foram enganados por um secretário, um governo de esquerda, para prejudicar o nosso presidente Bolsonaro e chamá-lo de genocida.”
A reportagem procurou o candidato Carlos Manato no início da tarde desta sexta, mas a assessoria só retornou às 20 horas. O candidato não respondeu os pontos citados na nota de repúdio do movimento de médicos pela democracia. Como resposta enviou uma nota assinada por 38 médicos com críticas ao governo do Estado e que declaram "apoio irrestrito a Manato".
"Nós médicas e médicos abaixo assinados, que assistimos ao debate com os candidatos ao governo do Estado, viemos manifestar nosso repúdio e indignação com as declarações do candidato Manato. A maioria de nós esteve à frente ou lidou com casos na luta para salvar vidas durante a pandemia de Covid-19. Perdemos parentes, amigos e colegas para a doença, nesse enfrentamento. Tivemos ao nosso lado o conhecimento médico que pusemos à disposição dos pacientes, sem nos aventurar ao uso de tratamentos sem comprovação científica.
A pandemia não foi uma farsa, como dito pelo senhor Manato, em desrespeito às famílias em luto e aos que ainda guardam sequelas da doença.
Fomos acusados, durante o debate de ontem na TV Gazeta, de forma leviana, pelo senhor Manato, de termos falsificado atestados de óbito para aumentar de forma artificial o número de mortes pela Covid-19. Nós, médicos, não falsificamos documentos. Juramos salvar vidas e aliviar a dor e o sofrimento. Nosso pacto é com a vida. A informação médica segura e correta sobre eventos clínicos ou sobre desfechos fatais é absolutamente necessária para as eventuais providências no campo da saúde pública. Essas informações podem e salvam muitas vidas.
Atingidos em nossa dignidade, iremos ingressar na justiça para que o candidato prove as acusações que fez sobre a classe médica."
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