Em um ano eleitoral ainda morno, com o país quase imerso em crise institucional, econômica e de saúde com o novo coronavírus, a principal candidata a reviravolta política da temporada no Estado, até agora, é a mudança de domicílio eleitoral do deputado federal Amaro Neto (Republicanos).
O parlamentar transferiu o título de eleitor de Vitória, onde disputou o cargo de prefeito em 2016, para a Serra, onde pode se candidatar em 2020. Com isso, o tabuleiro de xadrez de Vitória, Serra e Vila Velha foram chacoalhados.
Oficialmente, nem Amaro, nem seu partido confirmam a candidatura na Serra eles têm até agosto para definir , mas o gesto já foi suficiente para que alguns possíveis cenários se desenhem.
Um deles é o de que o atual prefeito do município, Audifax Barcelos (Rede), apoie o apresentador de TV, indicando um vice e garantindo mais competitividade na disputa contra o também deputado federal Sergio Vidigal (PDT). A análise é sustentada pelos próprios aliados de Audifax. Na visão deles, Vidigal ainda guarda uma boa parcela de votos entre os serranos principalmente entre as classes D e E , ainda que tenha perdido parte desses votos justamente para Amaro, em 2018, na eleição para deputado federal.
Amaro e Vidigal, no entanto, têm um histórico de parceria. Em 2016, o apresentador subiu no palanque do pedetista. Naquele ano, Vidigal perdeu a eleição para Audifax.
Outros candidatos no páreo, como os deputados estaduais Vandinho Leite (PSDB) e Bruno Lamas (PSB) tinham, na opinião do cientista político Fernando Pignaton, espaço para crescer, mas ainda precisam trabalhar a polarização do eleitorado entre Vidigal e Audifax. Com Amaro na disputa, esse crescimento fica ainda mais difícil.
"A Serra tem uma característica de eleitorado que valoriza políticos da cidade, até por conta dessa disputal local entre Audifax e Vidigal. Ao deixar Vitória para ir para a Serra, Amaro vai ter que vencer esse rótulo de forasteiro, que é uma crítica que vem sendo feita por seus adversários e que está ganhando corpo", analisou Pignaton.
Nos últimos dias, Vandinho criticou a mudança de Amaro, movimento que classificou como ato de circo.
Lamas, que deixou a Secretaria de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades) nesta quinta-feira (2), também engrossou o coro contra Amaro. "Para mim não muda nada (a possível candidatura de Amaro). É claro que todo candidato que entra divide votos, mas ele vai ter que explicar para o eleitor da Serra esse movimento brusco que fez", pontuou.
Por outro lado, a visão dos aliados de Audifax e Amaro é que a entrada do republicano no pleito garantiria um segundo turno na cidade. Eles sustentam ainda que a aproximação dos dois pode já apontar para 2022. O cenário seria de que Amaro, caso seja eleito prefeito, apoie uma possível candidatura de Audifax ao governo do Estado.
Para Pignaton, o maior beneficiário da saída de Amaro Neto do pleito de Vitória é o deputado estadual Lorenzo Pazolini, que deve decidir até o próximo sábado (4) a qual partido vai se filiar. O Republicanos, inclusive, é uma das siglas que abriram as portas para o delegado.
"Em tese, essa ala conservadora dos eleitores de Vitória, com muitos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, poderia ficar dividida entre Lorenzo, Amaro e, ainda, o Capitão Assumção (Patriota), caso ele se coloque na disputa também. Sem Amaro, Lorenzo ganha mais força", observou.
Também se fortalece o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), que ainda precisa conseguir na Justiça uma anulação da suspensão de seus direitos políticos para colocar seu nome nas urnas. O tucano poderia se beneficiar porque ele e Amaro foram os dois últimos candidatos que levaram o atual prefeito, Luciano Rezende (Cidadania), para o segundo turno e representam uma alternativa para quem não aprova a atual gestão.
Como publicou o colunista Vitor Vogas nesta quinta-feira (2), até o ex-prefeito João Coser (PT), que também é pré-candidato na Capital, está comemorando a saída de Amaro do pleito. Isso porque o petista acredita ter um potencial de votos maior entre as classes D e E, faixa que Amaro conseguiria atingir com maior facilidade.
A cidade canela-verde, onde Amaro também havia deixado a possibilidade de se candidatar em aberto, é a que menos sofreu impactos com a decisão do deputado federal.
Pignaton acredita que o maior beneficiado por lá seja o ex-prefeito Neucimar Fraga (PSD), que tem uma maior penetração na Região 5, composta pela Grande Terra Vermelha, Ponta da Fruta e Barramares, em comparação com outros candidatos. Nesses locais e em outros bairros com populações de menor renda, Amaro poderia tomar parte dos votos de Neucimar.
Da mesma forma, também se beneficiam candidatos mais conservadores, como o deputado estadual Danilo Bahiense (PSL), principal apoiador de Bolsonaro na disputa pela prefeitura da cidade. Pignaton, de uma maneira geral, afirma que Amaro Neto vem perdendo o grande capital político que conquistou, "mais como apresentador de TV do que como parlamentar", sofrendo desgaste por gerar expectativas em eleitores de várias cidades e não correspondê-las.
"Essa indefinição traz prejuízos a ele. Ao mesmo tempo em que se testa, deixando seu nome correr em municípios diferentes, ele cria um sentimento de decepção nesse eleitorado que o vê saindo de sua cidade ou flertando com outros municípios. Se ele tem um projeto de poder para o Estado, ele precisa administrar melhor esse capital político e impor menos desgastes", finalizou. Procurado pela reportagem de A Gazeta, Amaro não quis conceder entrevista sobre o assunto.
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