A saída do ex-juiz federal Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, anunciada por ele nesta sexta-feira (24) trouxe preocupação para os policiais federais do Espírito Santo. Segundo o presidente do sindicato da categoria no Estado, Marcus Firme, a mudança deixa os profissionais apreensivos e "de orelha em pé", já que Moro era o responsável pela política de segurança do governo.
O estopim da saída do ministro é a exoneração do diretor-geral da PF Maurício Valeixo. Bolsonaro disse a Moro, de acordo com o próprio ex-juiz, que queria alguém para quem ele pudesse telefonar e pedir informações sobre investigações, inclusive com acesso a relatórios de inteligência. "Avisei que seria uma interferência política e Bolsonaro disse que era mesmo, disse Moro.
Para Marcus Firme, o discurso de Moro coloca a categoria em alerta e avalia que, politicamente, a saída dele do cargo é muito ruim para a Polícia Federal.
Contudo, Firme acredita que a categoria está "amadurecida" e que tem consciência de que a Polícia Federal é um órgão de Estado e não de governo. "São policiais de nível superior, têm essa percepção e sabem qual é o papel da Polícia Federal. É difícil avaliar quem irá assumir, mas independentemente de quem ocupe o cargo, a Polícia Federal tem uma estrutura madura o suficiente para lidar com essa situação", analisa.
A saída de Valeixo e de Moro deve trazer mudanças também na Superintendência do Espírito Santo. É comum que, ao assumir, novos diretores coloquem nas superintendências estaduais nomes de sua confiança. O atual superintendente no Estado é Jairo Souza Silva.
Para os delegados da Polícia Federal no Espírito Santo, a saída de Moro também é preocupante. Vice-presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal no Estado, Fernando Amorim, afirma que mais uma vez a autonomia do órgão foi colocada à prova.
"Antes o sonho de qualquer um era pegar uma grande operação, hoje ao investigar nomes de políticos influentes nós já nos preocupamos se poderemos responder por algo lá na frente. Valeixo e Moro tiveram que se sacrificar para tentar manter a autonomia do órgão. Espero que o próximo a assumir o cargo esteja comprometido com isso", comenta.
O pronunciamento do ministro, para Amorim, foi assustador e surprendeu ao citar momentos em que o presidente agiu diretamente em investigações da polícia. Em meio a uma pandemia e a uma possibilidade de colapso econômico, o delegado acredita que Bolsonaro pagou um preço alto ao acirrar disputa com Moro.
Sobre o Espírito Santo, Amorim diz que a superitendência é uma escolha do diretor-geral que atende critérios técnicos, baseado no perfil que ele acha melhor para aquele estado. "No momento em que o presidente diz que a escolha começa a ser um critério político isso pode trazer prejuízo para as investigações no Espírito Santo e em outros estados. Preocupa também que muitos nomes ventilados são de delegados que tem nomes mais associados a grupos políticos do que ao trabalho na polícia federal", completa.
A entidade entende que o ministro Sérgio Moro cumpriu seu papel com dedicação e comprometimento, garantindo a independência da Polícia Federal durante todo o período que ocupou o cargo.
Com relação a Maurício Valeixo, havia uma situação de tensão que se arrastava desde 2019, com o anúncio de sua possível saída. Ainda assim, Valeixo, um profissional sério e dedicado à Polícia Federal, manteve seu compromisso com os policiais federais até sua exoneração.
Para a diretoria da entidade, independentemente de quem ocupe o Ministério da Justiça e Segurança Pública e a Direção-geral da PF, a Polícia Federal precisa manter sua linha de autonomia e independência nos trabalhos e investigação.
A Fenapef sempre defendeu que a Polícia Federal é uma polícia de Estado e não de governo e, por isso, acredita e defende que jamais a instituição deve ser atingida por interferências políticas.
Para o presidente da Fenapef, Luís Antônio Boudens, o presidente da República tem o direito de fazer alterações em sua equipe, mas isso não significa - e garantimos que não irá ocorrer - qualquer tipo de interferência nas investigações criminais da Polícia Federal.
Os quase 15 mil policiais federais, assim como toda a sociedade, esperam que as mudanças realizadas nesta sexta-feira, 24, não alterem os valores e a missão da Polícia Federal, que é exercer as atribuições de polícia judiciária e administrativa da União, a fim de contribuir na manutenção da lei e da ordem, preservando o estado democrático de direito.
Brasília, 24 de abril de 2020
Federação Nacional dos Policiais Federais
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