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Mussolini e Hitler: quem são os líderes europeus citados por bolsonaristas

Mussolini e Hitler: quem são os líderes europeus citados por bolsonaristas

As referências aos dois líderes autoritários europeus se tornaram frequentes no meio político, e o próprio presidente  Bolsonaro compartilhou frase do ditador italiano nos últimos dias

Publicado em 12 de junho de 2020 às 10:07

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Benito Mussolini e Adolf Hitler foram aliados durante a Segunda Guerra Mundial
Benito Mussolini e Adolf Hitler foram aliados durante a Segunda Guerra Mundial. (Getty Images)

As referências mesmo que indiretas ao italiano Benito Mussolini e ao alemão Adolf Hitler, líderes autoritários europeus do século 20, voltaram a fazer parte do cotidiano político brasileiro nos últimos tempos, principalmente pelos gestos e discursos feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e por seus apoiadores.

Apesar dessas menções, bolsonaristas negam ligação com qualquer ideia totalitária. No entanto, historiadores e outros especialistas consideram que é importante compreender por que o vocabulário da crise política nacional foi em direção a referências desses regimes e explicam o que eles representaram.

Na semana passada, Bolsonaro compartilhou um vídeo que contém uma frase atribuída ao líder fascista Benito Mussolini. "Melhor um dia como leão do que cem anos como ovelha."

Outro episódio foi o de um deputado estadual do Ceará, André Fernandes (PSL), apoiador do presidente, que publicou uma série de fotos enquanto retirava sua barba, em que aparece com o braço em riste, imitando uma saudação nazista, e com o bigode característico do ex-ditador alemão Adolf Hitler. Na legenda da foto, ele escreveu: "FDP genocida".

Com a colaboração do historiador Fernando Achiamé, A Gazeta fez um breve resgate histórico sobre os líderes totalitários europeus Mussolini e Hitler.

BENITO MUSSOLINI

Benito Mussolini foi quem liderou o Partido Nacional Fascista, o primeiro a chegar ao poder por meio de ideias totalitárias, e é apontado como principal responsável pela ascensão do fascismo na Europa. Ele governou a Itália de forma ditatorial entre 1922 e 1943.

Movimento político de massa originado na Itália no início do século 20, o fascismo é caracterizado por um Estado totalitário de partido único, pelo ultranacionalismo, pelo culto ao uso da força, pela perseguição à oposição, pelo controle estatal da sociedade. Há estudiosos, ainda, que entendem como uma ideologia de negação total da democracia.

Benito Mussolini fundou o fascimo na Itália
Benito Mussolini fundou o fascimo na Itália. (Getty Images)

O movimento inspirou inúmeros fenômenos semelhantes pelo mundo, inclusive o nazismo, do alemão Adolf Hitler, e ainda o integralismo brasileiro.

Mussolini fundou os "Fasci di Combatimento" (Grupo de Combate), em Milão, o primeiro grupo do "Partido Fascista", que pregava a abolição do Senado, a instalação de uma nova constituinte e o controle das fábricas por operários e técnicos.

Em 1924, através de eleições, o grupo ganhou a maioria no parlamento. No ano seguinte, Mussolini tornou-se "Duce" (o condutor supremo da Itália). Ele se definia como reacionário, antiparlamentarista, antidemocrático, antiliberal e antissocialista.

No início da década de 1930, em parceria com Hitler, Mussolini anexou ao território italiano parte do território da Iugoslávia. Mas durante a 2ª Guerra Mundial, foi capturado e preso pelas tropas dos Aliados – liderados por Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética, e acabou executado, na Itália.

ADOLF HITLER

Adolf Hitler havia sido membro do Exército alemão durante a 1ª Guerra Mundial, e no pós-guerra passou a integrar o Partido dos Trabalhadores Alemães, um partido conservador que tinha retórica nacionalista, antissemita e antimarxista, no qual tornou-se um dos pilares. O grupo se transformou no Partido Nazista quando Hitler incluiu "nacional socialista" ao nome.

Com sua eloquência e habilidade de manipulação, Hitler se tornou uma grande ameaça ao poder. O governo alemão o acusou de traição, prendendo-o em 1923. Foi no cárcere que elaborou o livro "Minha Luta", sobre sua vida, seus ideais arianos e seus planos para a Alemanha.

Adolf Hitler: Espírito Santo teve papel importante nos planos do Terceiro Reich
Adolf Hitler foi presidente da Alemanha. (Getty Images)

Depois, aproveitando-se da insatisfação do povo diante da pobreza causada pela depressão econômica alemã após a 1ª Guerra Mundial, Hitler conseguiu ser alçado ao cargo de chanceler, assumindo o poder de forma totalitária.

Uma vez no poder, Hitler começou a tomar as medidas para impedir o fortalecimento de uma coalizão democrática contrária ao Partido Nazista e iniciou a perseguição aos seus opositores. Comunistas e social-democratas começaram a ser presos em massa e muitos foram enviados para campos de concentração.

A partir de 1934, Hitler passou a consolidar a sua ditadura sobre a Alemanha. Os partidos políticos (inclusive os de direita) passaram a ser perseguidos. O Partido Nazista ficou sendo o único em funcionamento no país. Além disso, nesse ano, o então presidente Paul Von Hindenburg faleceu, o que deu a Hitler os poderes de presidente e chanceler.

Ele promoveu um processo de remilitarização no país e intensificou sua violência contra os judeus, criando leis discriminatórias que reduziam os direitos civis dessa comunidade e tornavam-na alvo de violência constante pelas tropas a serviço do nazismo.

Comandando as tropas alemãs na 2ª Guerra, com o avanço sem trégua dos soviéticos em Berlim, ele se refugiou em seu bunker sob a chancelaria. Sem chances de vencer, o ditador teria se suicidado com sua companheira, Eva Braun.

O QUE ESSES LÍDERES SIGNIFICAM

Numa interpretação política mais ampla, segundo especialistas, o vídeo postado pelo presidente pode ser um recado na guerra que Bolsonaro trava com o Supremo Tribunal Federal (STF), com reclamações de que a Corte não o deixa governar.

Mas quando observado em perspectiva histórica, pode ganhar conotação mais complicada, se colocado no contexto da crise brasileira, repleto de ameaças de ruptura institucional.

Eles destacam que a carreira política do presidente foi construída em torno de um discurso extremista, que atacava minorias e defendia abertamente a ditadura por duas décadas. Há uma parcela da população que não vê esse extremismo como um problema grave, e prefere destacar a agenda econômica do governo, liberalizante, comandada por Paulo Guedes, alegando a força das instituições brasileiras.

A discussão sobre o risco que Bolsonaro representa deve-se à classificação dele como um político que faz parte de populismo de extrema-direta que cresce no mundo, mas que ainda não pode ser comparado ao fascismo, na avaliação do cientista político e doutor em Sociologia, João Gualberto Vasconcellos.

"Ele não tem a densidade autoritária dessas pessoas. Está tomando emprestado gestuais neonazistas para fortalecer o contato com a base autoritária que ele tem, para animar sua torcida. Apesar de ele ter citado Mussolini, o fascismo italiano é um sistema totalitário que tem início, meio e fim, foi uma doutrina", explica.

Ele acrescenta que Bolsonaro representa uma diferente modalidade de um autoritarismo.

"Ele é alguém que chega ao poder em um momento que a sociedade está muito insatisfeita com a política, e ele tenta ir engessando as instituições. Paralelamente, vai fazendo o Executivo ficar forte, e vai estimulando uma militância com esses sinais neonazistas. Assim como na Venezuela, Turquia, Rússia e outros países", afirma.

TENTATIVA DE ASSOCIAÇÃO

Para o mestre em História Social das Relações Políticas, Rafael Simões, o presidente tenta resgatar elementos de unidade que existem daquele momento histórico do fascismo e do nazismo.

Primeiramente, o nacionalismo, que era muito proeminente; segundo, uma visão de uma comunidade orgânica, que se liga ao elemento do nacionalismo. Nele, cada membro é como uma célula de um corpo, que deve cumprir a sua função, e aquelas que não funcionam como esperado são encaradas como inimigas, que devem ser expelidas, porque provocam o enfraquecimento do corpo.

O terceiro elemento é o poder central hipercentralizado, que foge aos controles tradicionais da democracia liberal. Querem o poder governamental forte para agir, há um antiliberalismo, e antiparlamentarismo, explica.

"É enganosa essa interpretação de que ele não sabe o que faz. Por mais tosco que seja, ele consegue articular essa visão, há pessoas na sociedade que se sentem representadas, que veem coerência no que ele faz, reforçando uma polarização", analisa.

CONTEXTO HISTÓRICO E ECONÔMICO

O historiador Fernando Achiamé ressalta que o século 20 assistiu à ascensão e à derrocada de diversos regimes totalitários: o primeiro momento, de extrema-esquerda com a União Soviética, em 1917.

O segundo, da extrema-direita, com o fascismo de Mussolini, o regime nazista de Hitler na Alemanha, o salazarismo em Portugal e o franquismo na Espanha. Na Ásia, o regime militarista do Império do Japão.

Nesse contexto, houve o fortalecimento do capitalismo e da ideologia do liberalismo, que predomina no mundo nos últimos 200 anos, aponta ele.

"Mas ela também se apresentou nas suas versões radicais – extremismos de esquerda e direita caracterizados por ações populistas, nacionalistas, conservadoras, reformistas, de mobilização popular. No entanto, quase todos esses regimes políticos totalitários desapareceram, substituídos por sistemas mais ou menos democráticos, em que predominam os ideais do liberalismo capitalista", complementa.

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