A defesa do ex-assessor e ex-diretor do Banestes Seguros Marcos Venicio Moreira Andrade, réu confesso do assassinato do ex-governador Gerson Camata, sustentou que o crime não foi premeditado, ao contrário do que aponta o Ministério Público do Espírito Santo (MPES). O principal argumento feito ao júri para sustentar essa versão é que o assassino foi preso a poucos metros do local do crime e que não tinha um plano de fuga traçado.
A tese sustentada pelo advogado de defesa, Homero Mafra, é que, caso Marcos Venicio tivesse planejado matar Gerson Camata, seria de se pensar que parte deste "plano" teria um "plano de fuga", como é característico em crimes cometidos com essa natureza. No entanto, o fato do réu não ter fugido e, segundo testemunhas, ter ficado atordoado após o crime, demonstra, para o advogado, que ele não havia premeditado o homicídio.
A versão contraria a denúncia feita pelo Ministério Público, que aponta que Marcos Venicio planejou seus atos e que destacou que testemunhas confirmaram em juízo que o réu havia feito ameaças antes da morte de Camata e dizia que "poderia fazer uma besteira” contra o ex-governador.
Marcos Venicio foi preso cerca de uma hora após o crime, a um quarteirão da banca onde atirou contra Camata.
"A maior prova de que não foi um crime premeditado é que Marcos não fugiu da cena do crime. As testemunhas disseram que o viram atordoado e nervoso, no sentido de estar trêmulo. Alguém que planeja um crime, vai traçar uma rota de fuga, não iria deixar a arma na primeira loja de um conhecido que visse pela frente. Muito menos voltar depois para pegar a arma de volta”, sustentou Homero Mafra perante o júri, que vai decidir o desfecho do caso.
Mafra também argumentou que a motivação do réu não foi por um motivo torpe, ou seja, banal, como alega a acusação. Para ele, Marcos Venício matou Gerson Camata movido por uma frustração de ter perdido um laço de amizade que, segundo testemunhas, era equivalente a um laço familiar.
O advogado defendeu que no dia do crime, Marcos procurou o ex-governador para tentar uma reconciliação e que, diante de uma reação negativa por parte de Camata, foi “movido por forte emoção” que o levou a atirar contra o ex-governador.
"Foram 20 anos de serviços prestados a ele e, na cabeça do Marcos, por mais que isso não fosse uma expectativa real, havia a possibilidade de que os dois se reaproximassem. Ao ver o ex-governador sorrindo e fazendo um gesto, que pode ter sido para o Marcos ou pode ter sido para outra pessoa, mas que foi interpretado por Marcos como um gesto para ele, o réu sentiu que poderia abordá-lo para falar sobre a fatídica reportagem e que esses laços de amizade pudessem ser reatados. As testemunhas disseram que Marcos contou que queria envelhecer ao lado de Gerson Camata. Ao falar com o ex-governador, com a recusa em ouvi-lo, veio um sentimento de frustração. Perceba, a defesa reconhece que a conduta de Marcos foi injusta e não justifica o crime, mas a motivação não era fútil, não era torpe", apontou.
Os dois estavam rompidos há nove anos, desde que Marcos deu uma entrevista, em 2009, acusando o ex-governador e ex-senador de ter praticado crimes de caixa dois e rachid – quando um político em cargo eletivo subtrai parte do salário de assessores. As acusações não foram comprovadas e Camata moveu uma ação por danos morais contra Marcos, que foi condenado a indenizá-lo. Por conta disso, o réu teve os bens bloqueados na época, cerca de R$ 60 mil, e, segundo a acusação, isso teria motivado o crime, algo que é considerado um motivo torpe.
Após os debates entre acusação e defesa, o júri vai responder ao menos quatro perguntas, cujas respostas devem ser sim ou não.
- Houve o crime?
- Se sim, quem matou?
- O réu deve ser absolvido?
- Se não, a tese da defesa deve ser aceita?
- Pode haver ainda uma quinta pergunta, sobre condicionantes do crime, mas isso o juiz deve definir depois.
O crime ocorreu no dia seguinte ao Natal, em 26 de dezembro de 2018. Gerson Camata havia acabado de comprar um livro e cumprimentava conhecidos em uma calçada na Praia do Canto, em Vitória, quando foi abordado por Marcos Venicio. Aos 77 anos, o ex-governador foi morto com um tiro, um crime que chocou o Espírito Santo.
Em 2019, o ex-assessor confessou o crime em interrogatório prestado ao juiz Felipe Bertrand Sardenberg Moulin, da 1ª Vara Criminal de Vitória. Na ocasião, afirmou que não premeditou o crime e que saber que tirou a vida do ex-chefe é uma “tortura diária”. "O presídio é muito duro, mas mais duro ainda é saber que tirei a vida dele", disse Marcos Venicio, de acordo com a transcrição das declarações prestadas por ele em juízo, na época.
Marcos Venicio foi detido em flagrante horas depois do assassinato e, no dia seguinte, a prisão foi convertida em preventiva. Ele é mantido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana II.
Assessor de Camata por 20 anos, Marquinhos, como é conhecido, foi denunciado pelo MPES pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.
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