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"Não foi premeditado, ele não fugiu", diz defesa de assassino de Camata

"Não foi premeditado, ele não fugiu", diz defesa de assassino de Camata

Advogado de defesa aponta que Marcos Venicio permaneceu nos entornos do local do crime e que não tinha plano de fuga, o que indicaria que o crime não foi planejado, como apontou o MPES

Publicado em 4 de agosto de 2021 às 16:06

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Segundo dia do julgamento de Marcos Venicio Moreira Andrade, assassino de Gerson Camata
Homero Mafra, advogado do réu, Marcos Venício, chegando ao fórum. (Rodrigo Gavini)

A defesa do ex-assessor e ex-diretor do Banestes Seguros Marcos Venicio Moreira Andrade, réu confesso do assassinato do ex-governador Gerson Camata, sustentou que o crime não foi premeditado, ao contrário do que aponta o Ministério Público do Espírito Santo (MPES). O principal argumento feito ao júri para sustentar essa versão é que o assassino foi preso a poucos metros do local do crime e que não tinha um plano de fuga traçado.

A tese sustentada pelo advogado de defesa, Homero Mafra, é que, caso Marcos Venicio tivesse planejado matar Gerson Camata, seria de se pensar que parte deste "plano" teria um "plano de fuga", como é característico em crimes cometidos com essa natureza. No entanto, o fato do réu não ter fugido e, segundo testemunhas, ter ficado atordoado após o crime, demonstra, para o advogado, que ele não havia premeditado o homicídio.

A versão contraria a denúncia feita pelo Ministério Público, que aponta que Marcos Venicio planejou seus atos e que destacou que testemunhas confirmaram em juízo que o réu havia feito ameaças antes da morte de Camata e dizia que "poderia fazer uma besteira” contra o ex-governador.

Marcos Venicio foi preso cerca de uma hora após o crime, a um quarteirão da banca onde atirou contra Camata.

"A maior prova de que não foi um crime premeditado é que Marcos não fugiu da cena do crime. As testemunhas disseram que o viram atordoado e nervoso, no sentido de estar trêmulo. Alguém que planeja um crime, vai traçar uma rota de fuga, não iria deixar a arma na primeira loja de um conhecido que visse pela frente. Muito menos voltar depois para pegar a arma de volta”, sustentou Homero Mafra perante o júri, que vai decidir o desfecho do caso.

Mafra também argumentou que a motivação do réu não foi por um motivo torpe, ou seja, banal, como alega a acusação. Para ele, Marcos Venício matou Gerson Camata movido por uma frustração de ter perdido um laço de amizade que, segundo testemunhas, era equivalente a um laço familiar.

O advogado defendeu que no dia do crime, Marcos procurou o ex-governador para tentar uma reconciliação e que, diante de uma reação negativa por parte de Camata, foi “movido por forte emoção” que o levou a atirar contra o ex-governador.

"Foram 20 anos de serviços prestados a ele e, na cabeça do Marcos, por mais que isso não fosse uma expectativa real, havia a possibilidade de que os dois se reaproximassem. Ao ver o ex-governador sorrindo e fazendo um gesto, que pode ter sido para o Marcos ou pode ter sido para outra pessoa, mas que foi interpretado por Marcos como um gesto para ele, o réu sentiu que poderia abordá-lo para falar sobre a fatídica reportagem e que esses laços de amizade pudessem ser reatados. As testemunhas disseram que Marcos contou que queria envelhecer ao lado de Gerson Camata. Ao falar com o ex-governador, com a recusa em ouvi-lo, veio um sentimento de frustração. Perceba, a defesa reconhece que a conduta de Marcos foi injusta e não justifica o crime, mas a motivação não era fútil, não era torpe", apontou.

Os dois estavam rompidos há nove anos, desde que Marcos deu uma entrevista, em 2009, acusando o ex-governador e ex-senador de ter praticado crimes de caixa dois e rachid – quando um político em cargo eletivo subtrai parte do salário de assessores. As acusações não foram comprovadas e Camata moveu uma ação por danos morais contra Marcos, que foi condenado a indenizá-lo. Por conta disso, o réu teve os bens bloqueados na época, cerca de R$ 60 mil, e, segundo a acusação, isso teria motivado o crime, algo que é considerado um motivo torpe.

Rita Camata chega com a família e o assistente de acusação Ludgero Liberato(Rodrigo Gavini)

O QUE AS JURADAS VÃO DECIDIR

Após os debates entre acusação e defesa, o júri vai responder ao menos quatro perguntas, cujas respostas devem ser sim ou não.

As questões, resumidamente, são:

- Houve o crime? 
-  Se sim, quem matou?
O réu deve ser absolvido?
-
 Se não, a tese da defesa deve ser aceita?
- Pode haver ainda uma quinta pergunta, sobre condicionantes do crime, mas isso o juiz deve definir depois.

ENTENDA O CRIME QUE CHOCOU O ES

O crime ocorreu no dia seguinte ao Natal, em 26 de dezembro de 2018. Gerson Camata havia acabado de comprar um livro e cumprimentava conhecidos em uma calçada na Praia do Canto, em Vitória, quando foi abordado por Marcos Venicio. Aos 77 anos, o ex-governador foi morto com um tiro, um crime que chocou o Espírito Santo.

Em 2019, o ex-assessor confessou o crime em interrogatório prestado ao juiz Felipe Bertrand Sardenberg Moulin, da 1ª Vara Criminal de Vitória. Na ocasião, afirmou que não premeditou o crime e que saber que tirou a vida do ex-chefe é uma “tortura diária”. "O presídio é muito duro, mas mais duro ainda é saber que tirei a vida dele", disse Marcos Venicio, de acordo com a transcrição das declarações prestadas por ele em juízo, na época.

Marcos Venicio foi detido em flagrante horas depois do assassinato e, no dia seguinte, a prisão foi convertida em preventiva. Ele é mantido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana II.

Assessor de Camata por 20 anos, Marquinhos, como é conhecido, foi denunciado pelo MPES pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.

Plenário do fórum criminal onde acontece o julgamento de Marcos Venicio Moreira Andrade(Rafael Silva)

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