Líder do movimento "Eu Escolhi Esperar", que prega a abstinência sexual até o casamento, o pastor e empresário Nelson Junior (Avante) não planeja levar essa bandeira para o Congresso Nacional. Candidato ao Senado Federal, ele tratou do assunto em sabatina conduzida pela colunista de Política de A Gazeta, Letícia Gonçalves, na noite desta quinta-feira (15).
Nelson Junior ressaltou a importância do movimento criado no âmbito religioso e reconheceu que, ao extravasar para o meio político, com pauta similar na Câmara de Vitória, acabou provocando polêmica. Mas ele afirmou que no Legislativo municipal a proposta foi mal interpretada.
De todo modo, Nelson Junior defendeu que o Espírito Santo tenha no Senado Federal outras pautas. "O papel do senador é representar o Estado e, dentro da unidade federativa, temos muitas necessidades, como economia, saúde, educação, infraestrutura, turismo, lazer. Nosso Estado necessita de cuidados especais em muitas outras áreas. A tarefa do senador é muito mais ampla do que defender uma ou duas bandeiras. Exige do senador uma versatilidade, sensibilidade, uma entrega de trabalho e de resultado para representar bem."
Ainda na pauta de costumes, Nelson Junior foi questionado sobre como votaria no Senado Federal, caso seja eleito, se algum projeto propuser dificultar a realização de aborto nos casos em que hoje já são previstos em lei — estupro, risco de vida para a gestante e fetos anencéfalos — e ele foi enfático em dizer que é pró-vida, portanto, contra o aborto. Mas não esclareceu como atuaria sendo um legislador porque acredita que o assunto precisa de discussão no parlamento.
O debate também é necessário, na opinião do candidato, para outros temas sensíveis, como "saidinha de presos" — benefício concedido a presidiários com bom comportamento e que cumprem uma série de critérios — e redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos.
O pastor ainda foi perguntado sobre a criminalização da homofobia, cuja jurisprudência foi criada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou o Congresso Nacional omisso nessa pauta.
Nelson Junior, entretanto, argumentou que primeiro é preciso que haja uma definição mais clara sobre o que é homofobia porque, segundo ele, líderes religiosos estão sendo acionados pela Justiça pelo crime por não quererem celebrar uniões homoafetivas, que atingem suas convicções doutrinárias.
"Se um líder religioso entende que aquilo fere os seus valores, isso não é homofobia. Eu entendo que há preconceito, mas precisa primeiro definir o que é homofobia, que tem sido usada muitas vezes de forma banalizada", opinou.
Disputando a sua primeira eleição, Nelson Junior afirmou que recebeu muitos convites para participar do processo eleitoral e, usando como referência o nome do movimento que lidera, disse que não haveria motivos para esperar para disputar o Senado e começar na política por cargos proporcionais.
"Eu escolhi o Senado porque entendi que o capixaba não se sentia muitas vezes representado no voto. Para termos um cardápio variado, para termos uma opção variada. Lamento que somos apenas nove candidatos. Por que não temos uma variedade? Para que o eleitor verdadeiramente vote não no menos pior, que é o que percebo muito, mas que vote por identificação. Eu vim para o Senado entendendo que o momento pedia isso. Com todo o respeito aos demais candidatos ao Senado, eu entendo que o perfil que eu represento está aliado ao anseio que muita gente busca", ressaltou.
Com perfil semelhante ao do ex-senador Magno Malta (PL), que se apresenta também como conservador, Nelson Junior acabou sendo alvo de críticas do pastor Silas Malafaia. Para o candidato do Avante, nenhum problema. Ao contrário, o líder religioso, que apoia Malta, acabou dando visibilidade ao concorrente.
"Esse vídeo fez com que muitas pessoas que não sabiam que eu era candidato viessem me procurar. Todos temos maneira de nos expressar. Alguns acharam ofensivo, mas recebi com muita naturalidade. Eu já estava esperando porque no processo político, a partir do momento que você assume um lado, fica, digamos assim, mais vulnerável. Mas eu verdadeiramente defendo a democracia e a liberdade. E quando as pessoas se ofenderam por mim, eu disse: 'gente, eu sou defensor da liberdade'. Não pode quem é a favor da liberdade, querer tirar o direito do outro se expressar. Não me ofendi até porque a percepção dele é equivocada."
Sobre a eleição presidencial, antes de declarar seu apoio a Jair Bolsonaro (PL), pelos valores que defende, Nelson Junior disse que não tem político de estimação e que, se for eleito senador, vai trabalhar pelo Espírito Santo, independentemente dos resultados das urnas para a presidência.
Foram convidados a participar das sabatinas os candidatos de partidos que têm ao menos cinco parlamentares no Congresso Nacional. As entrevistas seguem ordem de pontuação na última pesquisa Ipec, divulgada no dia 2 de setembro.
A primeira entrevista foi feita com Rose de Freitas (MDB), depois Erick Musso (Republicanos) e, nesta sexta-feira (16), Gilberto Campos (Psol) será sabatinado. O ex-senador Magno Malta não aceitou o convite para participar.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta