Nas eleições de 2016, o eleitor de Vila Velha presenciou uma guerra de palavras entre os candidatos Max Filho (PSDB) e Neucimar Fraga (PSD). Naquele pleito, eles se enfrentaram no segundo turno e o tucano saiu vencedor. Em 2020, a dupla polariza, mais uma vez, a disputa pela prefeitura canela-verde. Prefeito e ex-prefeito apareceram liderando as intenções de voto na cidade em pesquisa Ibope divulgada em 15 de outubro.
A campanha dos dois concorrentes, contudo, desenha-se bem diferente, para não dizer morna, em relação à que foi travada há quatro anos. Faltando seis dias para o primeiro turno, Max e Neucimar têm se preocupado mais em exibir seus aliados e reforçar os feitos de suas gestões do que em atacar um ao outro.
Postura contrária tem sido adotada pelo vereador Arnaldinho Borgo (Podemos), que aparece como terceiro colocado na corrida eleitoral e briga por uma vaga no segundo turno. Sem alianças significativas, a principal arma de Arnaldinho tem sido o ataque ao que ele chama de "velha política".
Ao que tudo indica, a eleição em Vila Velha não será resolvida no dia 15 de novembro.
Max e Neucimar são políticos experientes, já passaram pelo Congresso Nacional e são conhecidos dos eleitores de Vila Velha. Isso, contudo, traz o ônus da imagem já desgastada, o que a pesquisa Ibope também revelou. Eles são os candidatos com maior índice de rejeição na cidade. Talvez, por isso, mas não só por isso, eles tenham adotado outras estratégias para tentar vencer o pleito deste ano.
Diferentemente da Capital, onde Fabrício Gandini (Cidadania) e Lorenzo Pazolini (Republicanos) protagonizam um duelo de ataques na disputa pela prefeitura, em Vila Velha isso não tem acontecido. Aliás, essa conduta dos candidatos é criticada por aqueles que disputam o pleito na cidade vizinha.
Neucimar, que em 2016 assumiu uma postura mais ofensiva em relação a Max Filho, admitiu que optou por uma campanha mais respeitosa e criticou a guerra que toma conta da corrida eleitoral em Vitória. "Não estou gostando não. Ultrapassou o campo político, virou algo pessoal", declarou.
Mantendo-se longe dos ataques, Neucimar aposta no apoio de um grupo de políticos tradicionais para somar votos e convencer o eleitor a optar pelo que seria uma gestão compartilhada na "retomada do desenvolvimento de Vila Velha".
O ex-prefeito está focado em mostrar que construiu um time de aliados, composto pelos deputados estaduais e médicos Doutor Hércules (MDB) e Rafael Favatto (Patriota), além do vice na chapa, o vereador Ricardo Chiabai (Cidadania). Os três chegaram a se anunciar pré-candidatos, mas recuaram para apoiar o ex-prefeito.
A julgar pelas redes sociais, parece até que Neucimar tem três vices, já que Favatto e Hércules também aparecem no material de campanha do candidato e participam de encontros com lideranças.
O emedebista é, inclusive, quem tem assumido a agenda eleitoral do ex-prefeito nesta reta final, após Neucimar e Chiabai terem sido diagnosticados com Covid-19. O deputado participou de encontros, caminhadas e desfilou pelas ruas da cidade em um trio elétrico, pedindo voto para Neucimar.
Chiabai retoma as atividades presenciais nesta segunda-feira (09). Já o candidato a prefeito só deve aparecer nas ruas na próxima quinta (12).
O prefeito Max Filho também foi diagnosticado com Covid, mas retomou as atividades no domingo (8), após ser liberado pelos médicos. Enquanto esteve em isolamento, Max intensificou sua presença nas redes sociais, e o vice, Jorge Carreta (PP), tomou conta da campanha na rua.
Nos últimos dias, Max usou bastante o espaço digital para mostrar ao eleitor as obras e os projetos que fez em Vila Velha, já que, durante os últimos quatro anos, essa divulgação ficou bem apagada, como ele mesmo admitiu.
Aliados de Max também avaliam que o que ocorre em Vitória, com embates duros entre alguns dos principais candidatos, "ficou feio" e veem a corrida em Vila Velha de um prisma diferente
O foco do prefeito tem sido a área de Educação, com destaque para as escolas inauguradas durante o mandato. Esse discurso é reforçado também em propagandas na TV e na rádio. Coincidentemente ou não, Neucimar também passou a relembrar seus feitos enquanto gestor da cidade no período de 2008 a 2012. Nisso, ele explora sua experiência ligada ao empreendedorismo.
Na tentativa de reverter a avaliação negativa na cidade 39% dos eleitores de Vila Velha classificam a administração do prefeito como ruim ou péssima, segundo o Ibope Max Filho parece depositar suas fichas no apoio obtido pelo governo estadual.
O PSB, partido do governador Renato Casagrande, faz parte da coligação do prefeito e Max explora essa situação a seu favor. Na propaganda eleitoral, o tucano frisa essa parceria e até colocou um dos secretários de Casagrande, Marcus Vicente (PP), para reforçar o discurso.
Marcus Vicente é presidente estadual do PP, partido de Carreta, que é vice de Max. Em vídeo divulgado pela campanha do prefeito, o atual secretário estadual de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano diz que é essa parceria que "ajuda a construir o futuro de Vila Velha''.
Max Filho pode até ter o apoio declarado de representantes do governo, como o de Marcus Vicente e da vice-governadora Jaqueline Moraes (PSB), que posou para fotos com o candidato. E não há dúvidas que isso seja uma vantagem. Mas o prefeito de Vila Velha não é, necessariamente, apoiado por Casagrande.
O governador se mantém afastado do pleito municipal e, caso Max vá para o segundo turno, nem mesmo dirigentes do PSB acreditam que o chefe do Palácio Anchieta mude a postura para ajudar o tucano a vencer.
Se as críticas à atual gestão estão tímidas por parte de Neucimar, Arnaldinho Borgo não tem poupado ataques. Max é, claramente, o rival do vereador. Nas redes sociais, Arnaldinho faz questão de divulgar vídeos dizendo que a cidade parou na administração do prefeito. Em uma dessas gravações, ele chama Max Filho de covarde e diz que o tucano não trabalha.
Na verdade, o candidato do Podemos tem criticado as gestões passadas da cidade e, nesse sentido, é possível considerar que faz uma crítica a Neucimar, que também já foi prefeito. Ele, contudo, não é citado nominalmente por Arnaldinho.
O vereador também tem batido na tecla da renovação e do combate à velha política. Essa, pode-se dizer, é uma das suas principais armas para conquistar o voto do eleitor. No entanto, por mais que Arnaldinho seja jovem e nunca tenha sido prefeito, ele não é um rosto novo. O candidato está em seu segundo mandato como vereador e concorreu a deputado estadual em 2018. Além disso, é filho de Arnaldo Borgo, que foi vereador na cidade.
A candidatura de Arnaldinho parece preocupar os adversários, principalmente os que lideram a corrida eleitoral. Isso porque, diante da alta rejeição de Max e Neucimar, o vereador é considerado, por articulares políticos, como uma opção para quem quer fugir da polarização na cidade. Ele já foi alvo de ataques indiretos e desinformação nas redes sociais.
Não é possível dizer se Arnaldinho terá tempo e força para crescer até o dia 15 de novembro e conquistar uma vaga no segundo turno. Mas, com Max e Neucimar em isolamento por causa da Covid-19, o vereador intensificou sua campanha nas ruas na última semana.
Ele também tem apostado na publicidade. Até o momento, Arnaldinho gastou cerca de R$ 100 mil com impulsionamento de conteúdo na internet e propaganda visual. O candidato já recebeu R$ 240 mil do fundo eleitoral do partido, sendo que quase metade desse dinheiro foi repassada após a divulgação das primeiras pesquisas eleitorais na cidade, que o apontaram em terceiro lugar.
Ao contrário de Max e Neucimar, exibir alianças não é o forte da campanha de Arnaldinho. Sua coligação conta apenas com outros dois partidos (Solidariedade e PTC), bem pequenos e sem muita expressividade. Além disso, o vereador não tem o senador Marcos do Val (Podemos) como aliado. O parlamentar é um dos principais representantes do Podemos no Estado, mas apoia o candidato Coronel Wagner (PL) em Vila Velha.
Estreantes no pleito de Vila Velha, Coronel Wagner (PL), Rafael Primo (Rede) e Dalton Morais (Novo) conseguiram conquistar o apoio de políticos conhecidos que integram a bancada capixaba em Brasília, mas não caíram no gosto do eleitor até então. Os dois primeiros são apadrinhados, respectivamente, pelos senadores Marcos do Val e Fabiano Contarato (Rede), enquanto Dalton é apoiado pelo deputado federal Felipe Rigoni (PSB).
Esses apoios, porém, não fizeram as candidaturas deslancharem até agora. De acordo com pesquisa Ibope divulgada em 15 de outubro, nenhum dos três teve mais de 2% das intenções de voto.
O candidato do Novo é o que menos usa a figura de um aliado a seu favor. Com pouco espaço no horário eleitoral, Dalton tem priorizado falar sobre sua carreira, propostas e o fato de não utilizar o dinheiro do fundo eleitoral em sua campanha.
No caso de Rafael Primo, o registro dele foi barrado pela Justiça Eleitoral por ausência na prestação de contas da campanha de 2018, quando foi candidato a deputado estadual. Enquanto recorre da decisão, ele tem intensificado a agenda nas ruas, contando com a presença de Contarato nos compromissos.
Coronel Wagner, por sua vez, tem focado a propaganda eleitoral em seu histórico profissional. Em quase todas as vezes que aparece na TV, destaca sua atuação como bombeiro militar e promete que vai "salvar" e "resgatar" Vila Velha do desastre.
Além de Marcos do Val, que já gravou vídeos de apoio à campanha do militar, o tenente-coronel também conta com a bênção do pastor Silas Malafaia e do ex-senador Magno Malta, presidente estadual do PL.
A proximidade ideológica com Magno Malta foi um dos motivos que levaram à filiação do tenente-coronel este ano. Ele também tem bandeiras que o aproximam do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O candidato, até o momento, não associou sua imagem ao presidente, mas se declara a favor de pautas como proibição do aborto e "ideologia de gênero" nas escolas. Nas redes sociais, em resposta a um eleitor, cravou: "apoio o governo federal". Sobre o governo estadual, quem perguntou ficou sem resposta.
Se o apoio a Bolsonaro não é tão explícito na candidatura de Coronel Wagner, dois candidatos brigam pelo título de bolsonaristas em Vila Velha: Amarildo Lovato (PSL) e Doutor Hudson (Republicanos).
Amarildo tem, desde o início, usado a figura do presidente em sua campanha, em cartazes, adesivos e na propaganda eleitoral. Já se declarou, por inúmeras vezes, o candidato do presidente e usa a hashtag #FechadocomBolsonaro. No entanto, em transmissões ao vivo em suas redes sociais, realizadas até esta segunda-feira (9), Bolsonaro não citou o nome de Amarildo como um dos concorrentes que ele apoia nas eleições municipais.
Hudson se mostra mais discreto em relação ao governo federal, mas também já declarou que representa Bolsonaro na cidade. Na Assembleia, o médico é um dos deputados que defende o uso da hidroxicloroquina, medicamento que não tem eficácia comprovada cientificamente no tratamento da Covid-19, mas que se tornou uma bandeira política do presidente.
Recentemente, Hudson divulgou um vídeo com o deputado estadual Danilo Bahiense (sem partido). Na gravação, Bahiense, que é bolsonarista, afirma que o colega é o verdadeiro candidato do presidente, "um homem conservador e de direita".
Vila Velha é reduto de bolsonaristas no Espírito Santo. Em 2018, Bolsonaro conquistou 63% dos votos no segundo turno na cidade. Em pesquisa Ibope divulgada em 15 de outubro, 40% dos eleitores disseram que o governo do presidente é bom ou ótimo. Por isso, ter a candidatura associada a Bolsonaro poderia ser uma vantagem para os candidatos.
Mas não é isso que tem se visto na corrida eleitoral. Amarildo aparece com 3% das intenções de voto e Hudso, 2%, de acordo com o Ibope.
Ainda participam da disputa em Vila Velha três candidatas: Mônica Alves (PSOL), Fernanda Martins (PV) e Cláudia Autista (PRTB). As três concorrem em chapas puro-sangue, sem coligações.
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