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No ES, deputados novatos rejeitam rótulo de 'nova política'

No ES, deputados novatos rejeitam rótulo de "nova política"

Deputados federais Felipe Rigoni (PSB-ES), Luiz Lima (PSL-RJ) e Luísa Canziani (PTB-PR) falaram sobre a tramitação das reformas e poder dos partidos políticos

Publicado em 25 de outubro de 2019 às 20:33

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Felipe Rigoni, Andréia Sadi, Luísa Canziani e Luiz Lima no Encontro de Lideranças. (Carlos Alberto Silva)

Rejeitando o rótulo de representantes da “nova política”, os deputados federais Felipe Rigoni (PSB-ES), Luiz Lima (PSL-RJ) e Luísa Canziani (PTB-PR) debateram sobre o grande impacto de chegar em Brasília, iniciando o primeiro mandato e sendo lideranças jovens, mas cobrados por ações em reformas complexas, como a da Previdência e a tributária. Os deputados participaram do 14º Encontro de Lideranças, em Pedra Azul, nesta sexta-feira (25), em um painel mediado pela jornalista da TV Globo, Andréia Sadi.

Os parlamentares comentaram ainda sobre o termômetro do Congresso Nacional para a aprovação das próximas reformas defendidas pelo governo Bolsonaro, sobre a dificuldade na tramitação de projetos, a necessidade de modernização no funcionamento dos partidos tradicionais e as expectativas eleitorais para 2022.

Confira os destaques do debate:

NOVATOS EM BRASÍLIA

Luiz Lima (PSL-RJ): Eu sou fruto de uma polarização política, de uma nova oportunidade que fez com que 52% dos deputados federais novos tivessem a possibilidade de se eleger. Esse fenômeno aconteceu pela última vez nos anos 80, com Leonel Brizola, e eu acredito que uma janela dessa, de oportunidades, para novos candidatos, com baixíssimo custo de campanha, deve ocorrer em algumas décadas à frente. Sou um cidadão comum, que nunca sonhou em entrar para a política. Mas a chegada a Brasília é sempre uma surpresa. É um choque, é uma aula. Agora, é um novo governo, feito de pessoas não tão políticas, que estão aprendendo a viver a política, mas com compromisso de fazer a coisa certa.

Luísa Canziani (PTB-PR): Somos 47% de novos mandatários, e muitas vezes a gente escuta aquela expressão "nova política". Para mim, essa expressão não condiz, porque ela existe há mais de 1.500 anos. Existem práticas antigas e práticas novas. Tenho histórico familiar [na política], sou advogada e minha influência para seguir na área foi fruto do que eles são. Há um choque ao chegar em Brasília, principalmente pois ainda somos um número muito reduzido de mulheres, somente 77. Os novos parlamentares tem a oportunidade de trazer uma nova perspectiva de debate, pois a gente precisa resolver problemas ainda do século passado. Temos desemprego alarmante, mais da metade da população sem saneamento básico, 55% dos alunos de até 8 anos analfabetos e, ao mesmo tempo, temos que falar de inteligência artificial, de tecnologia, de big data, então essa é uma reflexão que me pega todos os dias, enquanto parlamentar mais jovem da legislatura. Essa bancada jovem, que vem com novas práticas, tem o dever de trazer essas questões para o debate.

Felipe Rigoni (PSB-ES): Não gosto da expressão "nova política", gosto da expressão "boa política", pois existem práticas ruins e práticas boas, e o primeiro sentimento que tive quando cheguei na Câmara é que tinha muito mais gente querendo ter novas práticas. Relacionando isso ao meu conflito com o PSB, não acredito que tenha sido questão de "caciquismo", mas o mais importante foi uma vontade nacional do partido de se colocar contra a reforma da Previdência, o que acho equivocado. Para além disso, os partidos estão começando a perceber que é muito mais a construção de consensos do que a imposição. Você vai conseguir trabalhar pessoas e instituições muito mais fortes quando tem consensos mínimos em matérias. Nossa principal função aqui é fugir da polarização e sentar na mesa para decidir que país a gente espera. As forças de centro vão precisar se juntar para construir o Brasil que a gente quer daqui para a frente.

FUNCIONAMENTO DOS PARTIDOS

Luiz Lima (PSL-RJ): É muito difícil aprovar alguma outra reforma ainda neste ano, não por causa do governo, mas por nossa estrutura política, que é muito presa a pouquíssimos deputados que tomam a decisão pelas suas bancadas. Temos 40 e poucos dias. Pela velocidade do Congresso, que só funciona terça e quarta... Se funcionasse, pelo menos, mais quinta. Eu fico impressionado com a morosidade do Congresso Nacional. Quando a gente vai votar um projeto de lei, o tempo que se perde para orientar, obstrução, destaques... Você perde uma hora e meia. Tem uma velocidade de lesma, por uma sociedade que pede mudanças rapidamente.

Felipe Rigoni (PSB-ES): Se tem uma reforma urgente e importante é a do Regimento Interno da Câmara.Se não houver, o Brasil não vai mudar. Ou então nós vamos permitir ao presidente da Casa de adiar sessão de forma indefinida, o tanto que precisar. Porque por regimento, ela só vai até 17 horas. Quando dá esse horário, cai a sessão. Aí começam todos os requerimentos, novo painel, leitura de ata, tempo de lideranças, tudo de novo. Só com essa mudança, a gente ganha 2 horas por dia. A gente está tentando conseguir 150 coautores para o projeto, para protocolar. O presidente já sinalizou que quer uma mudança, pelo menos nessa pequena parte, para que a gente transforme esse tempo de obstrução em tempo de discussão.

PRIVATIZAÇÕES DO GOVERNO FEDERAL

Luiz Lima (PSL-RJ): A gente não pode generalizar e querer privatizar tudo, de maneira igual, sem ter a percepção que pode estar afetando serviços no interior do país, como os Correios.

Luísa Canziani (PTB-PR): Falta um movimento um pouco maior, por parte do governo, de trazer essa pauta à tona. A gente sente a necessidade de haver uma melhor comunicação e agilidade nesses movimentos.

Felipe Rigoni (PSB-ES): Vejo com bons olhos o programa de privatizações, mas tem que alinhar a expectativa com a realidade. A comunicação no início do ano era: vamos resolver o déficit primário em um ano, vamos privatizar R$ 2 bilhões em outro. E não está nem perto de acontecer, porque é complicado. Não faz sentido a União ser dona de 650 mil imóveis no Brasil. Os Correios vão precisar de uma regulação muito forte, com sua privatização, cada uma, vai ter desafios específicos.

Felipe Rigoni, Andréia Sadi, Luísa Canziani e Luiz Lima no Encontro de Lideranças(Carlos Alberto Silva)

SEGUNDA INSTÂNCIA

Luísa Canziani (PTB-PR): Em paralelo à discussão do pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, estamos discutindo na Câmara a prisão após 2ª instância. O deputado Felipe Francischini (PSL-PR) pautou na CCJ esta matéria, e a gente sente um clima, se for motivado por um clamor popular, que a gente consiga avançar nessa questão, e resolva a questão de uma vez por todas. Teve um pedido de vista e, por enquanto, está suspenso. A gente sente, por parte do presidente da CCJ, que a gente encaminha essa questão.

Felipe Rigoni (PSB-ES): Com relação à 2ª instância, acho importantíssimo discutir na Câmara. Hoje, 40% da população carcerária brasileira não teve seu julgamento em 1ª instância. Estão tão preocupados se é injustiça ou não prender depois de julgamento em 2ª. É lógico que há os argumentos jurídicos, mas o mérito acaba em 2ª instância. Para mim, o que é importante é julgar quem foi preso em flagrante com 20 gramas de maconha na rua e está há 5 anos preso, sem julgamento. Muito mais do que uma pessoa com duas condenações, que pode ser considerada inocente depois.

ELEIÇÕES 2022

Luiz Lima (PSL-RJ): Acredito que Bolsonaro será o favorito, se tiver um governo positivo. Não vai haver grande troca de cadeiras no Congresso como em 2018. No PSL, houve 53 deputados, que não tiveram fundo eleitoral e que brigaram dentro de suas coligações. Aproveitamos a onda Bolsonaro, sim. E agora, esses candidatos que tiveram essa oportunidade entram dentro de um sistema político viciado e cada um vai receber R$ 2,5 milhões para campanha, e aquele cidadão que quer entrar para a política dificilmente vai ter acesso ao partido, e o sistema cai no vício de anos anteriores.

Luísa Canziani (PTB-PR): A eleição do presidente Bolsonaro retratou uma insatisfação de grande parte da população com a maneira como o país estava sendo administrado e com o aparelhamento da máquina pública. Espero muito que na próxima eleição não haja uma polarização tão grande, na minha visão isso não é bom para o país. Embora diferentes visões sejam importantes no aprimoramento do debate. Estive com o presidente Bolsonaro, o que não significa que estarei indo contra. Espero que a gente tenha uma postura dele e sua equipe de apaziguar os ânimos.

Felipe Rigoni (PSB-ES): Tem duas coisas que precisamos combater das eleições de 2018. Uma, a polarização, porque simplesmente acaba com o debate. Não fala do projeto em si e foca em uma ou outra frase de efeito, que não tem nada a ajudar. E uma consequência disso é o "outrismo": pode ser qualquer um, menos esse que está aí. Muita gente boa deixou de ser reeleita por conta disso. Tem que saber separar. Tem que reconhecer quem é bom para consolidar a democracia brasileira. E precisamos construir um projeto de país. O Bolsonaro não foi um projeto de país, foi uma vontade de não ter algo.

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