Se ver a memória de um pai preso por motivo político e desaparecido quando o filho tinha apenas dois anos de idade atacada pelo presidente da República já causou revolta e indignação nos que consideraram inadequada e desrespeitosa a conduta de Jair Bolsonaro (PSL), pessoas que de alguma forma sentiram o peso da ditadura militar na pele manifestaram repúdio ainda mais contundente.
Bolsonaro disse saber o que aconteceu com Fernando Augusto Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. Em seguida, afirmou que Fernando acabou morto por "terroristas" de grupo de esquerda contrários à ditadura.
Documentos oficiais de Aeronáutica e Marinha contradizem Bolsonaro. Os arquivos mostram que o Estado manteve Fernando Augusto, preso em 23 de fevereiro de 1974, sob custódia. Um delegado da ditadura também apresentou informações que não condizem com as do presidente.
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Trata-se de Cláudio Guerra. Mineiro de Espera Feliz, o hoje pastor da Assembleia de Deus disse em mais de uma oportunidade ter sido o responsável por incinerar corpos no Rio de Janeiro. Entre eles, o do pai do atual presidente da OAB. Guerra tem forte ligação com o Espírito Santo, onde atuou como policial, teve filhos e ainda vive, aos 79 anos.
Outra possível versão para o sumiço de Fernando é o enterro em cova rasa, como indigente, no cemitério Dom Bosco, em São Paulo. Ao contrário do que sugeriu Bolsonaro, não há nenhuma evidência de que ele possa ter sido morto por ex-colegas de militância ou mesmo de que tenha aderido à luta armada. Questionado sobre de onde providenciou a versão, disse que ela foi baseada em seu "sentimento".
A ligação com o movimento estudantil fez o fotógrafo Humberto Capai ser preso e torturado aos 20 anos. Hoje com 68, viu com o espanto os comentários de Bolsonaro.
"Insanos. Transmite para o país um sentimento de insegurança, de vergonha. É um presidente que desmerece a ciência, a universidade, a escola. Remete o país a uma insegurança, uma vergonha internacional. É inadmissível e inacreditável para todos que acompanhamos a História do Brasil", disse.
Nesta terça-feira (30), Bolsonaro também lançou dúvidas sobre o trabalho da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que encerrou os trabalhos de jogar luz sobre violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988.
A CNV era composta, também, por integrantes das Forças Armadas. Elas admitiram à comissão, pela primeira vez na história, torturas e mortes durante a ditadura. Ao desmerecer a CNV, Bolsonaro desrespeitou o próprio Exército, opina o jornalista e cineasta Luiz Tadeu Teixeira.
Ele não chegou a ser preso ou torturado, mas precisava submeter seus trabalhos artísticos à censura e prestar esclarecimentos à Polícia Federal.
"Conheci pessoas que foram presas e torturadas. O presidente está desmerecendo a CNV, que foi uma coisa que tinha militares. Ele vai contra documento da Aeronáutica (sobre a prisão de Fernando Augusto). Nega uma informação que veio dos próprios militares. Ele está debochando", disse Tadeu.
Ex-secretário de Estado,
Perly Cipriano
ficou preso por cerca de 9 anos e 10 meses na ditadura. Diz que o presidente "negou a verdade" ao falar sobre o pai do presidente da OAB, de quem Perly conheceu mãe e tios.
"O que ele está fazendo é negar a verdade. Fez uma acusação criminosa. Nem na ditadura marechais, coronéis e generais faziam defesa tão aberta e pública da tortura. Vivemos período de extrema gravidade", afirmou.
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