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No ES, Guedes critica empréstimo para mais pobres e teto de gastos

No ES, Guedes critica empréstimo para mais pobres e teto de gastos

Durante palestra em Vitória, ministro da Economia também contradisse Bolsonaro sobre faixa de isenção do Imposto de Renda. Enquanto o presidente prometeu isentar quem ganha até R$ 6 mil, Guedes fala em isenção até R$ 2,6 mil

Publicado em 26 de outubro de 2022 às 20:50

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Fazenda Santo Antônio do Muqui, do Barão de Itapemirim.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante palestra na Fucape. (Carlos Alberto Silva)
Ednalva Andrade
Repórter / [email protected]

Em palestra na Fucape em Vitória, no Espírito Santo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou a realização de empréstimos para pessoas mais pobres, mas ao ser questionado sobre o incentivo do governo federal aos empréstimos consignados concedidos a quem recebe Auxílio Brasil, tergiversou. Durante o evento realizado na tarde desta quarta-feira (26), Guedes também afirmou que "o teto de gastos foi mal construído".

Ao comentar sobre descontos de até 90% concedidos aos estudantes que contrataram financiamento estudantil (Fies) para cursos superiores, Guedes afirmou que estava acontecendo com estudantes brasileiros situação similar a que ocorre nos Estados Unidos, onde muitos terminam o curso endividados e desempregados.

"Família é mais frágil, vulnerável? Não adianta você dar um empréstimo. O garoto daqui a pouco vai ter que trabalhar num lugar que não interessa pra poder pagar de qualquer jeito. Fica desesperado. É família pobre, o menino tem mérito. Passou no exame? Dá o voucher. Eu sou produto de voucher. Eu tive voucher a vida toda. Eu tirava nota boa na escola", acrescentou o ministro.

Indagado em entrevista coletiva sobre a contradição entre a crítica a respeito da concessão de empréstimo do Fies a pessoas vulneráveis enquanto o governo federal possibilitou e tem incentivado que os beneficiários do Auxílio Brasil façam empréstimos consignados, Guedes não respondeu a questão, voltou a falar sobre voucher para estudantes, mas reiterou que "empréstimo é para a classe média".

No ES, Guedes critica empréstimo para mais pobres e teto de gastos

"Eu acho que devia ter bolsa de estudos quando a família é frágil financeiramente. O empréstimo é franquia de classe média, média alta, para o menino que tá fazendo Medicina, que é uma carreira que depois compensa e a família tem recursos, pode tomar um empréstimo. Agora, família mais frágil, família de gente que às vezes está no próprio auxílio emergencial, no Auxílio Brasil, prefiro o sistema de voucher. Eu prefiro, é uma preferência", disse o ministro, sem explicar o incentivo ao consignado para os beneficiários do programa de transferência de renda.

TETO DE GASTOS E ORÇAMENTO SECRETO

Sem poupar críticas a quem está alinhado ao adversário de Bolsonaro na disputa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Guedes aproveitou a palestra para criticar o teto de gastos. Para o ministro da Economia, o "teto foi muito mal construído".

Sem citar o nome do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), que apoia Lula no segundo turno, Guedes comentou que "o teto foi tão mal construído que o cara está chegando agora dizendo que vai furar o teto". "Passou três anos xingando a gente que a gente estava furando o teto, mas acabou de declarar hoje que vai ter que furar o teto".

O ministro ressaltou que o objetivo do teto era não deixar o governo se hipertrofiar, crescer muito, mas, ao mesmo tempo, acabou limitando o uso de recursos obtidos pelo governo para investir em outras áreas, criar novos programas, incluindo distribuição de renda aos mais pobres, ao longo do período em que o teto está valendo. O teto de gastos foi aprovado em 2016 e limita o aumento de gastos do governo federal por 20 anos.

Se de um lado criticou o teto de gastos, de outro o atual ministro defendeu o orçamento secreto.  Para ele, "em qualquer democracia do mundo, os orçamentos são construídos organicamente, o governo e a sua base" e a indicação de emendas do relator, popularmente chamadas de orçamento secreto, estão em fase de "aprendizado político".

Ao concluir sua resposta a um estudante sobre o assunto, Guedes ainda disse que basta o encontro entre deputado com dinheiro do orçamento secreto e sem causa, e um ministério do governo que está precisando fazer algum alguma coisa e que não tem grana. "Essa é a construção da política. Construção da política é justamente esses pleitos que vêm dos representantes do povo acharem o seu espaço no orçamento. E o orçamento ser consequentemente um reflexo dessa representação popular", sustentou o ministro.

IMPOSTO DE RENDA

Já quando questionado em relação à correção da tabela do Imposto de Renda (IR), cuja faixa de isenção hoje atinge quem ganha até  R$ 1.903,98, o ministro da Economia contradisse a promessa feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em seu programa de governo de que essa faixa passaria para quem recebe cinco salários mínimos, equivalente hoje a R$ 6.060. 

"O presidente tem sonho há muito tempo, já nos pediu para subir e a ideia é ir subindo isso. Nós já tínhamos feito cálculos que tornava possível subir de R$ 1,9 mil  para R$ 2,5 mil ou R$ 2,6 mil. Isso aí dava. Agora, no contexto de uma reforma tributária mais forte, pode ser até que possa subir um pouco. Vamos ver, vamos examinar", assegurou Guedes.

Durante a palestra, o ministro afirmou que estudo sobre retirada de deduções de despesas com saúde e educação do Imposto de Renda foi abandonado e descartado há dois anos, quando se discutia a reforma tributária. Ele voltou a atribuir o retorno do assunto durante o período eleitoral a vazamentos propositais de "petistas" infiltrados no Ministério da Economia que vazam as informações para "jornalista militante". 

Guedes ainda reiterou, ao longo da palestra, declarações que fez à imprensa nacional de que vai manter o aumento do salário mínimo de acordo com a inflação, como previsto na Constituição.

"Se durante a pandemia corrigimos o salário mínimo, as aposentadorias e pensões pela inflação, por que agora que acabou a pandemia nós não faríamos isso? Nós vamos subir até um pouco acima da inflação", garantiu.

TROPEÇO

Apesar de a organização alegar que o evento não teria cunho político, Guedes entrou no auditório dando um pequeno tropeço. Ao se recuperar rapidamente, logo fez com as duas mãos o gesto usado na campanha para pedir votos a Bolsonaro, ao lado do organizador do evento e empresário Aridelmo Teixeira (Novo) e do deputado federal Evair de Melo (PP).

Paulo Guedes faz palestra na Fucape
Paulo Guedes fez palestra na Fucape. (Carlos Alberto Silva)

O gesto de Guedes provocou reação na plateia formada majoritariamente por estudantes e professores da Fucape Business  School, além de empresários e políticos, que falaram o número de urna do presidente e candidato à reeleição.

Ao longo do discurso, direcionado a essa plateia que a todo momento batia palmas de forma efusiva para ele, Guedes aproveitou para questionar propostas de Lula, adversário de Bolsonaro no segundo turno, além de fazer piadas envolvendo indiretamente o candidato petista à Presidência da República. Para isso, citou Millôr Fernandes dizendo que "toda vez que o Brasil tá certinho, vai dar certo, aparece um fantasma do passado para esculhambar tudo de novo".

O candidato ao governo do Estado pelo PL, Carlos Manato, chegou no final do evento, durante as perguntas, e acompanhou do palco o restante da palestra.

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