Em visita ao Espírito Santo nesta quinta-feira (27), para pedir votos para o ex-presidente Lula (PT) e para o governador Renato Casagrande (PSB), a ex-senadora, ex-ministra do Meio Ambiente e deputada federal eleita por São Paulo Marina Silva (Rede) criticou o uso político da religião por candidatos.
Ela observou que há uma demanda legítima de participação de todos os segmentos da sociedade no espaço político, e com evangélicos, por exemplo, não seria diferente, inclusive porque há uma grande número de religiosos entre a população brasileira. Embora o desejo de participação seja considerado legítimo, ela reforçou que o Estado é laico, e deveria ser tratado como tal.
“Nós somos um Estado laico e no Estado laico, tem política pública para todas os segmentos da sociedade. Você, quando pensa a política pública, faz para quem crê, para quem não crê, para quem é evangélico, para quem é católico, para quem tem uma fé de confissão de matriz africana. (...) Deus não faz acepção (predileção) de pessoas. O Estado laico também não faz acepção de pessoas.”
Marina, que é frequentadora da Assembleia de Deus, também rebateu as falas de que Lula pretende fechar igrejas, lembrando que o candidato do PT à Presidência assinou um compromisso nesse sentido, para tranquilizar fieis, mesmo nunca tendo havido um plano fechar templos religiosos, como afirmado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição.
“Agora, o que mais desmistifica essas mentiras e calúnias é que se a gente for fazer uma pesquisa da quantidade de vezes em que os mesmos que estão dizendo agora que o presidente Lula vai fechar a igreja, são aqueles que iam no palácio orar com o presidente, se encontrar com o presidente e sancionar o Dia do Evangélico, a lei da liberdade religiosa. E, obviamente, o que mais defende a nossa liberdade religiosa para todas as pessoas é a nossa Constituição.”
Durante entrevista, a deputada federal eleita, que chegou a se candidatar à Presidência da República três vezes — a última em 2018 —, declarou que a democracia tem estado ameaçada, e que é preciso preservá-la e defender o direito às diferenças.
“Este país está vivendo uma situação que nós jamais imaginamos que iria acontecer depois de conquistarmos a nossa democracia. Nós hoje temos que lutar por algo que nós já imaginávamos que estava consolidado. De repente vem o Bolsonaro e quer tirar do povo brasileiro a possibilidade de soberanamente eleger seus representantes.”
E complementou: “Nós aprendemos a lição. Quando a democracia está ameaçada, a gente precisa de todo mundo para fazer essa travessia. Quando ela estiver preservada, nós vamos continuar conversando. Nós precisamos de todo mundo. Queremos um movimento de reconciliação. Do Brasil consigo mesmo. Do Brasil com as outras pessoas. Do Brasil com a gente mesmo.”
Para a ex-ministra, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), está “desesperado” e, por isso, alega ter sido prejudicado em propagandas de rádio que correspondem a menos de 1% do total.
“A entrevista que ele deu pareceu um discurso antecipado de derrota. Se ele achou que as Forças Armadas iam agir para evitar as eleições do segundo turno… Espero que o alto oficialato jamais entre numa aventura como esta.”
Rodando o país em eventos de apoio à campanha de Lula, Marina Silva, que já foi ministra do Meio Ambiente, disse que, nesse momento, não há qualquer conversa sobre retornar ao cargo em um eventual governo petista e declarou que o período de campanha não é o momento para pleitear cargos, e sim defender propostas.
“Estamos fazendo um debate programático. O que o presidente Lula tem dito é que ele vai criar o ministério dos povos indígenas, que ele vai retomar a Secretaria Nacional de Defesa dos Direitos das Mulheres, e, nesse momento de ódio e violência contra as mulheres, é mais do que apropriado. E que vai continuar as políticas de combate ao racismo, à desigualdade racial.”
Marina, que esteve afastada politicamente de Lula em anos anteriores, comentou ainda sobre a reaproximação recente. Destacou, entretanto, que o laço pessoal entre ambos nunca foi rompido.
“Nunca rompemos o nosso laço pessoal. Mas por divergência política estávamos afastados. No dia 11 de setembro, nós tivemos uma longa conversa pessoal. E conversa pessoal é conversa pessoal. Mas eu posso dizer que foi uma conversa pessoal tão boa que gerou uma conversa pública onde ele se comprometeu com o que há de mais avançado de política ambiental na América Latina para um projeto de desenvolvimento sustentável que combate desigualdade, que fortalece a democracia e protege as bases naturais do nosso desenvolvimento.”
Em Vitória, a redista recebeu uma carta-compromisso assinada por representantes de organizações não-governamentais, entre outros entes, em apoio às ações de preservação ambiental.
Durante a passagem por Vitória nesta quinta-feira (27), Marina Silva também comentou sobre a desfiliação de Audifax Barcelos da Rede Sustentabilidade. O ex-prefeito da Serra, que concorreu ao governo do Estado pelo partido, mas não foi eleito, decidiu apoiar Carlos Manato (PL) no segundo turno da disputa.
“O Audifax foi um excelente prefeito de Serra e eu costumo dizer que a gente não deve reescrever a história das pessoas. Uma coisa não deixa de ser bonita porque foi feita por alguém que eu discordo. Uma coisa não deixa de ser justa porque foi feito por alguém que eu discordo. Eu não costumo reescrever a história. Foi um excelente prefeito de Serra. Tivemos divergência em relação a essa questão (de saída da Rede, do apoio a Manato). E em função dessa divergência, ele entendeu (que era melhor) se desfiliar da Rede e, para nós, isso tem um custo, mas é o custo de preservar a coerência.”
Após entrevista, Marina seguiu para a Praça dos Desejos, na Capital, onde participou do “LulaDay”, evento promovido pela coordenação de campanha do petista no Espírito Santo, no mesmo dia em que Lula faz aniversário de 77 anos.
A deputada federal eleita participou de um ato ecumênico com lideranças religiosas cristãs evangélicas e católicas, e logo após, no mesmo local, de um ato político da campanha de Lula, que contou com um coro de parabéns para o candidato, e pedidos de votos para ele e o candidato à reeleição no Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB).
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