O nível de abstenção na votação deste domingo (2) pode ser fator decisivo para garantir ou não um segundo turno na disputa presidencial. Essa é a avaliação das campanhas dos líderes na corrida pelo Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), após a divulgação da pesquisa Datafolha da última quinta-feira (29).
Os números mostram que Lula mantém 50% dos votos válidos e que Bolsonaro oscilou um ponto para cima, chegando a 36%. Com isso, o levantamento indica como real a possibilidade de que Lula vença ainda no primeiro turno. Já considerando os votos totais, em que se contabilizam brancos, nulos e indecisos, o petista marcou 48% das intenções de voto, oscilando um ponto para cima. Bolsonaro também subiu um ponto, chegando a 34%.
Para integrantes da campanha do chefe do Executivo, se a abstenção for alta, o petista pode sair como maior prejudicado. O motivo é que a fatia do eleitorado em que a abstenção costuma ser maior é entre eleitores de baixa renda, segmento que apoia majoritariamente Lula.
Por outro lado, aliados de Bolsonaro dizem que é importante trabalhar para que a população mais idosa compareça às urnas neste domingo (2). A avaliação de bolsonaristas é que o apoio do mandatário é maior nesse grupo.
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Além do que se chama de abstenção passiva, que é quando a pessoa sequer vai votar, há também a abstenção ativa, quando o eleitor vota em branco ou nulo. E, segundo o Datafolha, o percentual de eleitores que pretendem votar em branco, nulo ou se abster é de 3% , um ponto a menos que na pesquisa anterior. Indecisos são 2%.
Nas eleições de 2018, quando o atual presidente foi eleito, 20% dos eleitores aptos a votar não compareceram às urnas, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Espírito Santo, foi de 19%. Já os brancos e nulos foram 8,8% dos votos em nível nacional e 7,9% no Estado.
No entanto, para a cientista política Luciana Tatagiba, é difícil tomar 2018 como parâmetro, pela natureza atípica daquela eleição. Ainda assim, ela observa uma tendência de manutenção do índice de abstenções próximo a 20%, com possibilidade de queda. Essa percepção se deve ao estímulo promovido por grupos antibolsonaristas para que as pessoas não deixem de votar.
Segundo Tatagiba, duas variáveis constantes que motivam as abstenções são, justamente, a idade avançada e a baixa renda. A especialista explica que o alto índice entre idosos é um reflexo da dependência de familiares para conseguirem se deslocar às urnas, enquanto entre as pessoas mais pobres deve-se às dificuldades de deslocamento até o local de votação e a problemas de infraestrutura.
De acordo com o portal de estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2018 as faixas etárias em que a abstenção foi maior foram as acima de 70 anos, que vai de 45% de abstenções até 83%, na faixa de 85 a 89 anos. Já a faixa com maior comparecimento foi a de 50 a 59 anos.
O TSE não possui estatísticas específicas sobre a abstenção por faixas de renda, mas é possível ter uma dimensão desse cenário de acordo com os dados de escolaridade. Entre os analfabetos, o índice ficou em 46%, e entre os que apenas sabem ler e escrever foi de 28%. Entre os que possuem desde ensino fundamental incompleto até superior completo, os dados variaram de 18% a 25%.
“Nas democracias, de uma maneira geral, o fenômeno da abstenção acompanha o que a gente vem chamando de crise das democracias contemporâneas”, pondera Tatagiba, que acrescenta: “Isso acompanha um cenário de erosão das democracias, de descrença nas instituições, de crise de representação”.
Segundo a especialista, o receio da violência política também pode pesar no cálculo: “O eleitor tem que sair da sua casa e chegar na urna. Esse caminho não diz só respeito a uma questão de vontade ou de possibilidades infraestruturais, mas também a outras variáveis que estão fora do campo político-eleitoral específico, como a violência política, principalmente em territórios mais conflagrados”.
Contudo, a especialista reconhece que a natureza plebiscitária desta eleição, que se concentra em grande medida sobre ser a favor ou contra Bolsonaro e Lula, traz um ingrediente novo e imprevisível, que pode estimular o voto. “É uma eleição apaixonada. A gente pode dizer que temos duas lideranças de perfil populista, sem nenhum juízo de valor, com forte apelo popular”, reflete.
“Historicamente, a extrema-direita tem se beneficiado desses níveis de abstenção altos, que estão associados a esse cansaço da democracia e do sistema representativo”, explica Luciana Tatagiba. Contudo, para ela, há possibilidade de ambos os lados obterem vantagem das abstenções, que podem ser decisivas a depender de qual grupo terá uma ausência maior.
Ainda assim, a cientista política acredita que a onda de apoios recentes a Lula e a sua disparada nas últimas pesquisas devem levar a um maior comparecimento dos apoiadores do petista, junto a um desincentivo para os eleitores de Bolsonaro. “A gente sabe que muitos eleitores vão votar em quem eles acham que vai ganhar”, observa.
Porém, também existe a possibilidade de os bolsonaristas se sentirem ameaçados pela oportunidade de derrota já no primeiro turno e, com isso, se mobilizarem para votar, enquanto os apoiadores de Lula podem considerar que a eleição já está ganha e que não precisam sair de casa no domingo.
Um último fator que, para Tatagiba, pode ser preponderante é a decisão dos eleitores que não querem Lula nem Bolsonaro. Para ela, existe a possibilidade desses eleitores votarem em outros candidatos, como Ciro Gomes e Simone Tebet, mas também de se desmotivarem e se absterem ou então migrarem para o voto útil. No fim, segundo a cientista política, tudo depende de “qual parcela da população vai se dedicar a votar efetivamente”.
*João Vitor Castro é aluno do 25º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo teve a supervisão das editor as Gisele Arantes e Fernanda Dalmacio
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