Em uma eleição que registrou recorde de candidaturas femininas, com 4.238 concorrendo no Espírito Santo, 92 mulheres foram eleitas no Estado em 2020. O número ainda é pequeno, e muito inferior ao de representantes masculinos, mas é 10% maior do que o alcançado em 2016, quando 83 candidatas se elegeram. Os dados foram disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O resultado obtido pelas mulheres nas urnas foi melhor nas Câmaras municipais. Das 92 eleitas, 91 serão vereadoras, sendo 30 delas negras. O crescimento é 15% comparado à última eleição, em 2016. Naquele ano, 79 mulheres conquistaram uma cadeira nos Legislativos.
O mesmo não se pode dizer sobre a disputa nas prefeituras. Apenas uma será prefeita em 2021, em São Domingos do Norte. Na última eleição, quatro se elegeram para Executivos municipais.
Os dados do TSE mostram que a maioria das Câmaras municipais no Estado terão, pelo menos, uma mulher. Dos 78 municípios, 57 elegeram vereadoras, grande parte para exercer o mandato pela primeira vez.
É o caso da Capital, onde duas estreantes foram eleitas para o Legislativo da cidade, algo que não ocorria desde 1989. Uma delas, Camila Valadão (PSOL), teve a segunda maior votação na cidade, com 5.625 votos.
O município de Vargem Alta é o que terá o Legislativo municipal com maior representatividade feminina. Em 2021, as mulheres vão ocupar quatro das 11 vagas na Casa, o que corresponde a 36%.
Há 21 cidades onde as Câmaras vão ser formadas apenas por homens. Em Cariacica, na Grande Vitória, não foram eleitas mulheres para a legislatura que começa em 2021.
Esse resultado positivo, contudo, não é encontrado nas prefeituras, já que o número de prefeitas diminuiu. Em 2016, quatro mulheres foram eleitas para comandar as cidades de São Gabriel da Palha, Montanha, Guaçuí e Presidente Kennedy. Nesta última, a prefeita Amanda Quinta (sem partido) foi afastada do cargo, por decisão judicial.
As outras três prefeitas não conseguiram se reeleger em 2020, e apenas São Domingos do Norte terá uma representante feminina à frente do Executivo, a prefeita eleita Ana Izabel Malacarne de Oliveira (DEM). A queda foi de 75%.
"As mulheres encontram menos espaço e mais dificuldade para ocupar cargos majoritários, como de prefeito, governador, presidente. Por serem muito disputados, os partidos dão preferência aos homens e investem em suas campanhas. Eles têm a ideia de que as mulheres são menos habilitadas para assumir cargos de liderança, acham que elas não são firmes, agressivas", analisa a mestre em Ciências Sociais pela Ufes Dayane Souza.
"Isso tudo faz parte do processo de construção social e de gênero que estamos inseridos. Aquela falsa ideia de que as mulheres não nasceram para ocupar espaços de poder, e que esta responsabilidade é do homem", reforça.
Apesar do crescimento da representatividade das mulheres, a política ainda é um espaço predominantemente masculino. Tanto é que a grande maioria das vagas disputadas neste ano no Estado vão ser preenchidas por homens em 2021.
Nas Câmaras municipais, eles ocuparão 90% das cadeiras. Já nas prefeituras, serão 98%.
"É claro que ter mais mulheres eleitas é sempre um resultado positivo, porque incentiva e permite que outras mulheres ocupem esses espaços. Mas para termos mudanças efetivas, esse crescimento precisa ser algo consistente. E isso só vai acontecer a partir do momento que se mexer nas estruturas dos partidos e nas políticas de cotas para as eleições", afirma Dayane.
"A cota que temos hoje, infelizmente, não garante que mulheres sejam eleitas. Além disso, há candidatas laranjas, apenas para preencher o percentual exigido pela Justiça Eleitoral. As candidaturas femininas precisam ser encaradas como prioridade."
A cota de gênero determina que no mínimo 30% das candidaturas de um partido sejam preenchidas por um gênero e no máximo 70% por outro. Em 2018, esse percentual passou a ser obrigatório também para a distribuição dos fundos partidário e eleitoral.
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