Marcos Venicio Moreira Andrade, assassino confesso do ex-governador Gerson Camata, era considerado um membro da família do político. Costumava participar de refeições e passar finais de semana na casa dos Camata. Foram mais de 20 anos como assessor do político, até acusações e processos tomarem o lugar da relação de confiança. O crime foi cometido na Praia do Canto, em Vitória, no dia 26 de dezembro.
As informações estão no depoimento prestado à 1 ª Vara Criminal de Vitória, na última segunda-feira (22), pela viúva do ex-governador, a ex-deputada federal Rita Camata (PSDB). A reportagem teve acesso à íntegra das declarações.
No início dos anos 2000, Marquinho, como o réu é conhecido, chegou a ser o presidente da Banestes Seguradora. Camata era senador e tinha forte influência política no Estado. Ao deixar a vida pública, não pôde manter o então aliado no cargo, algo que Marquinho exigia. Foi oferecida uma diretoria da entidade, mas ele não achou que o cargo estava à altura.
"Marquinho achou humilhante assumir uma diretoria após ter sido presidente. Marquinho continuou pressionando Gerson para que conseguisse o cargo para ele, mas Gerson não conseguiu nada. Marquinho então foi à imprensa e declarou que Gerson tinha usado dinheiro da campanha para outros fins e mais um rosário de calúnias e difamação", declarou Rita.
As denúncias do ex-assessor foram publicadas no dia 19 de abril de 2009 no jornal O Globo. Marcos Andrade disse, por exemplo, que o então senador do Espírito Santo recebeu mesadas de empreiteiras e que usou notas fiscais falsas na campanha eleitoral.
Após a publicação, as denúncias foram submetidas à Procuradoria-Geral da República e ao Senado. Em ambos, restou entendido que as acusações não possuíam lastro e tudo foi arquivado. Na sequência, Gerson Camata foi à Justiça, moveu processos contra o ex-assessor e pediu indenização por danos morais e a Justiça concedeu. Como resultado de uma das ações, cerca de R$ 60 mil foram bloqueados da conta de Marcos Venicio Moreira Andrade.
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"No processo relativo à indenização por danos morais foi feito um bloqueio de, num primeiro momento, R$ 20 mil e, depois da atualização, R$ 60 mil. O valor mencionado foi bloqueado diretamente da conta de Marquinho. Fui alertada por vários amigos em comum com o acusado de que ele estava dizendo que iria acabar com o Gerson, que 'esse italiano não era nada'. Essas notícias de ameaças chegaram há algum tempo, mas se intensificaram após o bloqueio. Com isso, Gerson mudou um pouco seus hábitos, passando a ficar mais em casa, com medo", disse a ex-deputada federal.
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Em uma das partes emocionadas do depoimento, Rita Camata lembrou que o marido deixou uma filha, de 34 anos, um filho, de 18, e uma neta. Aos dois anos de idade, a menina "era a paixão na vida" do ex-governador, lembrou Rita.
"Nunca viu uma pessoa com tanta mansidão no coração. Gostava de contar piadas e ver as pessoas rindo em torno dele. Após as mentiras ditas pelo acusado perante a imprensa, passou a ser uma pessoa triste e desgostosa da vida pública. Envelheceu nesse período. Mesmo assim, não chegou a demonstrar ódio pelo acusado, pois não sentia ódio por ninguém", disse Rita ao juiz Felipe Bertrand Sardenberg Moulin.
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