É difícil prever o que vai acontecer no país amanhã - um dia seguinte genérico - que dirá daqui a meses ou anos. Mas não faltam conjecturas sobre o futuro do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, após o vazamento das conversas que ele, quando juiz, manteve com o procurador da República Deltan Dallagnol.
O próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL) antecipou que pretende indicar Moro para o Supremo Tribunal Federal (STF) assim que surgir uma vaga. Celso de Mello, o ministro mais antigo na Corte, completa 75 anos no dia 1º de novembro de 2020. É a idade em que a aposentadoria é obrigatória. Aí surge a vaga.
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Mas não basta a indicação do presidente. O indicado tem que passar por uma sabatina no Senado, que precisa aprovar o nome. Moro já não é o ministro mais querido no Congresso. Há quem especule, também, que o ministro possa ter outros planos, eleitorais, e até rivalizar com Bolsonaro em 2022.
Será que as conversas que, de acordo com o site "The Intercept Brasil", mostram Moro orientando o Ministério Público, a acusação, sobre como agir na Lava Jato podem interferir no futuro do agora ministro?
O Gazeta Online ouviu a professora de Ciência Política da Unicamp Andrea Freitas e o professor de Ciência Política e Teoria do Estado da FDV Leonardo Barros Souza sobre o assunto.
VAGA NO STF
Andrea Freitas: "(O vazamento das conversas) Deve afetar uma indicação de Moro ao Supremo porque tem que passar pelo Senado. Antes, o Congresso, rejeitando a nomeação dele, poderia parecer estar dando uma espécie de troco em relação à Lava Jato. Agora eles têm um motivo para eventualmente não aceitarem a indicação".
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Leonardo Souza: "Não sei até que ponto isso pode prejudicá-lo. Como está muito longe (a abertura da vaga), pode não afetar em nada. Está muito distante. Mas vai ter uma pressão muito grande de membros da advocacia e até do Judiciário. Quem quer ter no STF um ministro que já demonstrou que não é muito obediente à Constituição?".
PROJETOS NO CONGRESSO
Andrea Freitas: "Imagino que essa relação (Moro e parlamentares), que já não é das melhores, deve piorar. Do ponto de vista político isso (o vazamento) afeta a capacidade dele de negociar as pautas do Ministério da Justiça".
POPULARIDADE
Andrea Freitas: "Tenho a impressão que isso não é afetado pelo vazamento, ao menos não por essa primeira parte. Pelas conversas já liberadas, quem o apoiava não deve ter motivos para deixar de apoiá-lo. Do ponto de vista popular as pessoas avaliam que ele fez o que era necessário para combater a corrupção e não sei o quanto as pessoas entendem a necessidade de separação entre Ministério Público e Judiciário e da imparcialidade do juiz".
Leonardo Souza: "Esse fato não influencia nada a percepção da opinião pública em relação ao Moro, inclusive reforça na visão do povo. 'Olha o que ele faz para combater a corrupção, olha como ele se arrisca'. É o super-herói, é o Batman. Colocam a capa do Superman nele (em protestos pró-governo, Moro foi representado pelo boneco do Supermoro), mas na verdade é o Batman, disposto até a agir à margem da lei. A bandeira do combate à corrupção está muito forte na sociedade. Para fins políticos eleitorais (se quiser ser candidato) ele ganha (em popularidade), mas para indicação ao STF não sei dizer".
GOVERNO BOLSONARO
Andrea Freitas: "Quem votou no PT de maneira convicta e acha que a prisão do Lula é injusta, tem em mãos ferramentas para argumentar. Quem apoiou a Lava Jato e o governo junto disso, vai achar que o importante é o combate à corrupção. O pessoal que não está nos polos é que, eventualmente, se estiver apoiando o governo pode mudar de opinião ou achar que o mais importante é o resultado e não a maneira como se chegou a ele. Só esse grupo é maleável. O governo não é muito afetado ainda, não por isso. Mas acumula uma série de desgastes. O caso isoladamente talvez não tenha influência negativa de pronto. Mas tem uma soma de outras notícias negativas e isso forma uma cauda de insatisfação".
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Leonardo Souza: "É um fato que tem muita potência política caso permaneça na pauta dos jornais, dos debates, caso tenha esse fôlego. Esse fato pode ser aproveitado pela oposição, ou por quem tem interesses de ocasião, para criar dificuldades para o governo. Mas o governo, e para mim isso é estratégico, não é por acaso, é altamente capaz de mudar a agenda da conversa a toda hora. Não sei se ele vai ter capacidade para mudar essa agenda, mas é possível, a gente tem que contar com isso".
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