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O papel de Casagrande nas eleições municipais no ES

O papel de Casagrande nas eleições municipais no ES

Apesar da disputa ser em âmbito municipal, o governador do Estado pode ser uma peça-chave para definir o comando das cidades pelos próximos quatro anos

Publicado em 30 de setembro de 2024 às 19:13

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O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), durante o Pedra Azul Summit
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), durante o Pedra Azul Summit. (Carlos Alberto Silva)

O governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), tem papel político-partidário importante nas eleições deste ano em território capixaba, seja pelas relações político-partidárias, seja pela força da máquina pública na realização de investimentos e obras nas cidades, conforme apontam especialistas ouvidos pela reportagem de A Gazeta.

Atualmente o mandatário abriga em sua base de aliados um conjunto diverso de partidos, que esperam que o apoio declarado a ele, na composição de sua base e na defesa de seus projetos, seja retribuído, de alguma forma, na disputa pelo comando das prefeituras nas cidades capixabas.

Da lista de nove partidos que compuseram a coligação que reelegeu Casagrande em 2022 e que até o momento permanecem na base de seu governo, apenas o Pros, legenda extinta após ser incorporada pelo Solidariedade, não tem candidatura majoritária, seja como prefeito ou vice, lançada no pleito municipal de 2024. PDT, MDB,  PP, PSB, Podemos e as federações Brasil da Esperança (PT/PC do B/PV)  e PSDB/ Cidadania, por sua vez, lançaram candidatos a cargos majoritários.

No início da corrida eleitoral, ainda no período de pré-campanha, Casagrande optou por manter a discrição acerca de sua manifestação de apoio na disputa pelas prefeituras. O socialista chegou a afirmar que, em municípios em que mais de um aliado estivesse cocorrendo ao cargo de prefeito, ele manteria a neutralidade e não se manifestaria. Entrentanto, logo após as convenções que confirmaram as candidaturas nos municípios, ele começou a sinalizar para que aliados declararia apoio e pediria votos nas eleições.

É o caso da disputa pelo comando da Prefeitura da Serra, onde dois partidos aliados de Casagrande integram a corrida eleitoral. O PDT, legenda do atual prefeito Sergio Vidigal, é aliada histórica do socialista e tenta emplacar Weverson Meireles (PDT), o ex-secretário de Estado do Turismo, à sucessão. Já o PT, que também é da base de Casagrande, aposta na candidatura do ex-deputado Professor Roberto Carlos, para chegar à administração municipal.

A concretização do apoio de Casagrande à campanha de Weverson Meireles na Serra, mesmo com outra legenda aliada no páreo, veio no último dia 12, quando o mandatário, do alto de um trio elétrico que rodou a rua do município, externou os motivos pelos quais o pedetista deveria ser eleito para governar a cidade.

"São raras as campanhas que eu participo porque, em muitos locais, eu tenho mais de um aliado que é candidato e eu tenho que preservar, proteger o governo. Mas aqui na Serra, desde o primeiro momento, ainda quando o prefeito Sergio Vidigal não tinha definido a posição dele, se ele seria candidato ou se indicaria o Weverson, eu já tinha manifestado a minha opinião de estar no projeto liderado pelo Vidigal", afirmou Casagrande na ocasião.

 Governador do Estado tem dois partidos aliados disputando a  Prefeitura da Serra, mas preferiu apoiar candidato indicado à sucessão pelo atual prefeito da cidade
Governador do Estado tem dois partidos aliados disputando a Prefeitura da Serra, mas preferiu apoiar candidato indicado à sucessão pelo atual prefeito da cidade. ( Divulgação/PDT)

Em Cariacica, o PT também lançou candidatura à prefeitura, tendo a professora Célia Tavares como a aposta para tentar barrar um provável segundo mandato de Euclério Sampaio (MDB) à frente da gestão municipal. O partido, assim como aconteceu na Serra, apesar da aliança firmada com Casagrande em 2022, ficou sem a declaração de apoio do socialista, que preferiu estar no palanque de Euclério.

Renato Casagrande e Euclério Sampaio em ato de campanha do prefeito
Renato Casagrande e Euclério Sampaio em ato de campanha do prefeito. (Divulgação)

No caso de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), que disputa a permanência na prefeitura, foi o escolhido como o candidato do Palácio Anchieta na cidade canela-verde. O PSB, partido do chefe do Executivo estadual, inclusive emplacou Cael Linhalis, ex-presidente da Cesan, como vice na chapa de Arnaldinho.

Ainda estão na lista de nomes apoiados por Casagrande na disputa pelas prefeituras capixabas o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB); o atual prefeito de Viana, Wanderson Bueno (Podemos); a ex-secretária de Obras de Cachoeiro de Itapemirim, Lorena Vasques (PSB); e Dorlei Fontão (PSB), que tenta se reeleger em Presidente Kennedy.

Apoio pode ser cobrado em 2026

O cientista político e especialista em relações internacionais Leandro Consentino esclarece que, para entender a dinâmica por trás do apoio do governador a candidatos nos municípios é preciso saber, primeiro, como essas candidaturas são articuladas e construídas.

Ele destaca que os deputados federais e estaduais costumam participar diretamente dessas construções, principalmente em seus redutos eleitorais, em busca de garantir uma base sólidas para as eleições gerais, onde são eleitos deputados, senadores, governadores e o presidente da República.

Por isso, Consentino chama atenção para o fato de o apoio declarado por Casagrande às candidaturas municipais poder ser revertido em alianças para as eleições de 2026. Mesmo não podendo disputar o governo, por estar em seu segundo mandato consecutivo, o socialista deve tentar emplacar um nome à sucessão, bem como concorrer a uma cadeira no Senado, e vai precisar ter base de apoio consolidado nos municípios.

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Importante destacar que essa é uma via de mão dupla. Por exemplo, se nas eleições de 2024 algumas candidaturas construídas por articulação dos parlamentares estão recebendo o apoio do governo, essa ajuda será cobrada em 2026, quando ocorrem as eleições gerais

Leandro Consentino
Cientista político e especialista em Relações Internacionais
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O poder da máquina pública em candidaturas aliadas

Ao analisar o peso da presença do chefe do Executivo estadual nas eleições municipais, Paulo Baía, cientista político e sociólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que entre as várias maneiras de fortalecer candidaturas aliadas nas cidades, a máquina pública acaba sendo, segundo ele, a mais determinante.

Ou seja, nas palavras do especialista, o governador, por ser o responsável por autorizar a ida de recursos e investimentos para os municípios, além dos convênios que costumam ser firmados entre os Executivos estadual e municipal visando à realização de obras, por exemplo, pode ser usado pelos candidatos com quem mantém aliança político-partidária, como garantia de que as promessas de melhoria para as cidades serão cumpridas.

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O governador de um estado tem enorme importância nas eleições municipais, porque ele, através da máquina pública, pode fazer ações e intervenções nos municípios. E essas ações podem facilitar ou prejudicar candidaturas a vereador e a prefeito. Então, quando falamos do governador, não estamos falando de uma pessoa, mas de um elemento fundamental na estrutura federativa brasileira

Paulo Baía
Centista político e sociólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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Um exemplo ainda mais simples é o de um município em que os candidatos prometem que, caso eleitos, darão seguimento ou iniciarão as obras de construção de um hospital ou escola na cidade. Caso um desses empreendimentos dependa de parceria com o governo do Estado, o candidato com relação mais próxima com o chefe do Executivo estadual pode ter vantagem em comparação aos demais em busca do voto do eleitorado.

 Candidatos da base têm mais vantagem

Candidaturas visando à disputa municipal montadas por legendas que compõem a base governista na esfera estadual tendem a ter vantagem em relação às demais. A avaliação é do cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando.

"Dentro do Estado, é óbvio que a força do governador que tem o poder da caneta e de liberação de recursos faz  muita diferença para aqueles que são seus aliados e para os que não são. Então, aqueles candidatos a vereador e a prefeito que forem da base política de apoio, ou do partido do governador, terão vantagem competitiva e vão explorar isso de maneira muito evidente. Isso acontece desde que a política é política",  pontua.

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