O governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), tem papel político-partidário importante nas eleições deste ano em território capixaba, seja pelas relações político-partidárias, seja pela força da máquina pública na realização de investimentos e obras nas cidades, conforme apontam especialistas ouvidos pela reportagem de A Gazeta.
Atualmente o mandatário abriga em sua base de aliados um conjunto diverso de partidos, que esperam que o apoio declarado a ele, na composição de sua base e na defesa de seus projetos, seja retribuído, de alguma forma, na disputa pelo comando das prefeituras nas cidades capixabas.
Da lista de nove partidos que compuseram a coligação que reelegeu Casagrande em 2022 e que até o momento permanecem na base de seu governo, apenas o Pros, legenda extinta após ser incorporada pelo Solidariedade, não tem candidatura majoritária, seja como prefeito ou vice, lançada no pleito municipal de 2024. PDT, MDB, PP, PSB, Podemos e as federações Brasil da Esperança (PT/PC do B/PV) e PSDB/ Cidadania, por sua vez, lançaram candidatos a cargos majoritários.
No início da corrida eleitoral, ainda no período de pré-campanha, Casagrande optou por manter a discrição acerca de sua manifestação de apoio na disputa pelas prefeituras. O socialista chegou a afirmar que, em municípios em que mais de um aliado estivesse cocorrendo ao cargo de prefeito, ele manteria a neutralidade e não se manifestaria. Entrentanto, logo após as convenções que confirmaram as candidaturas nos municípios, ele começou a sinalizar para que aliados declararia apoio e pediria votos nas eleições.
É o caso da disputa pelo comando da Prefeitura da Serra, onde dois partidos aliados de Casagrande integram a corrida eleitoral. O PDT, legenda do atual prefeito Sergio Vidigal, é aliada histórica do socialista e tenta emplacar Weverson Meireles (PDT), o ex-secretário de Estado do Turismo, à sucessão. Já o PT, que também é da base de Casagrande, aposta na candidatura do ex-deputado Professor Roberto Carlos, para chegar à administração municipal.
A concretização do apoio de Casagrande à campanha de Weverson Meireles na Serra, mesmo com outra legenda aliada no páreo, veio no último dia 12, quando o mandatário, do alto de um trio elétrico que rodou a rua do município, externou os motivos pelos quais o pedetista deveria ser eleito para governar a cidade.
"São raras as campanhas que eu participo porque, em muitos locais, eu tenho mais de um aliado que é candidato e eu tenho que preservar, proteger o governo. Mas aqui na Serra, desde o primeiro momento, ainda quando o prefeito Sergio Vidigal não tinha definido a posição dele, se ele seria candidato ou se indicaria o Weverson, eu já tinha manifestado a minha opinião de estar no projeto liderado pelo Vidigal", afirmou Casagrande na ocasião.
Em Cariacica, o PT também lançou candidatura à prefeitura, tendo a professora Célia Tavares como a aposta para tentar barrar um provável segundo mandato de Euclério Sampaio (MDB) à frente da gestão municipal. O partido, assim como aconteceu na Serra, apesar da aliança firmada com Casagrande em 2022, ficou sem a declaração de apoio do socialista, que preferiu estar no palanque de Euclério.
No caso de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), que disputa a permanência na prefeitura, foi o escolhido como o candidato do Palácio Anchieta na cidade canela-verde. O PSB, partido do chefe do Executivo estadual, inclusive emplacou Cael Linhalis, ex-presidente da Cesan, como vice na chapa de Arnaldinho.
Ainda estão na lista de nomes apoiados por Casagrande na disputa pelas prefeituras capixabas o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB); o atual prefeito de Viana, Wanderson Bueno (Podemos); a ex-secretária de Obras de Cachoeiro de Itapemirim, Lorena Vasques (PSB); e Dorlei Fontão (PSB), que tenta se reeleger em Presidente Kennedy.
Na reta final da campanha eleitoral, a menos de uma semana do primeiro turno das eleições, marcado para o próximo domingo (6), Casagrande fez uma série de novas manifestações de apoio a candidatos.
Receberam fala de apoio do governador socialista os candidatos Guerino Balestrassi (MDB), que tenta a reeleição em Colatina, no Noroeste do Estado; Enivaldo dos Anjos (PSD), que também tenta um novo mandato em Barra de São Francisco e Fabinho Trarbach, candidato a prefeito em Domingos Martins pelo PSD. As manifestações de Casagrande aconteceram por meio de vídeo e foram divulgas pelas assessorias dos candidatos.
O cientista político e especialista em relações internacionais Leandro Consentino esclarece que, para entender a dinâmica por trás do apoio do governador a candidatos nos municípios é preciso saber, primeiro, como essas candidaturas são articuladas e construídas.
Ele destaca que os deputados federais e estaduais costumam participar diretamente dessas construções, principalmente em seus redutos eleitorais, em busca de garantir uma base sólidas para as eleições gerais, onde são eleitos deputados, senadores, governadores e o presidente da República.
Por isso, Consentino chama atenção para o fato de o apoio declarado por Casagrande às candidaturas municipais poder ser revertido em alianças para as eleições de 2026. Mesmo não podendo disputar o governo, por estar em seu segundo mandato consecutivo, o socialista deve tentar emplacar um nome à sucessão, bem como concorrer a uma cadeira no Senado, e vai precisar ter base de apoio consolidado nos municípios.
Ao analisar o peso da presença do chefe do Executivo estadual nas eleições municipais, Paulo Baía, cientista político e sociólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que entre as várias maneiras de fortalecer candidaturas aliadas nas cidades, a máquina pública acaba sendo, segundo ele, a mais determinante.
Ou seja, nas palavras do especialista, o governador, por ser o responsável por autorizar a ida de recursos e investimentos para os municípios, além dos convênios que costumam ser firmados entre os Executivos estadual e municipal visando à realização de obras, por exemplo, pode ser usado pelos candidatos com quem mantém aliança político-partidária, como garantia de que as promessas de melhoria para as cidades serão cumpridas.
Um exemplo ainda mais simples é o de um município em que os candidatos prometem que, caso eleitos, darão seguimento ou iniciarão as obras de construção de um hospital ou escola na cidade. Caso um desses empreendimentos dependa de parceria com o governo do Estado, o candidato com relação mais próxima com o chefe do Executivo estadual pode ter vantagem em comparação aos demais em busca do voto do eleitorado.
Candidaturas visando à disputa municipal montadas por legendas que compõem a base governista na esfera estadual tendem a ter vantagem em relação às demais. A avaliação é do cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando.
"Dentro do Estado, é óbvio que a força do governador que tem o poder da caneta e de liberação de recursos faz muita diferença para aqueles que são seus aliados e para os que não são. Então, aqueles candidatos a vereador e a prefeito que forem da base política de apoio, ou do partido do governador, terão vantagem competitiva e vão explorar isso de maneira muito evidente. Isso acontece desde que a política é política", pontua.
Essa matéria foi atualizada após o governador do Estado ter manifestado apoio a candidaturas aliadas nas cidades de Barra de São Francisco, Colatina e Domingos Martins. Até o fechamento da versão anterior desta matéria, o mandatário havia se mantido neutro em seu posicionamento político nesses municípios.
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