> >
O que está por trás da nova briga entre Bolsonaro e o PSL?

O que está por trás da nova briga entre Bolsonaro e o PSL?

Bolsonaro disse a apoiador para "esquecer" partido e afirmou que presidente da legenda está "queimado". Presidente pode deixar a sigla

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 09:31

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Jair Bolsonaro, presidente da República. (Isac Nóbrega/PR)

A fala do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que reacendeu o debate sobre uma eventual saída do PSL na última terça-feira (8) pode ser encarada como uma ação concreta para assumir a liderança do partido e como uma tentativa de se afastar da crise do chamado "laranjal do PSL". Nesta semana, Bolsonaro foi implicado por ex-assessor em suposto esquema de caixa 2, o que ameaça abalar sua reputação junto ao eleitorado mais fiel.

Em entrevista coletiva na noite desta quarta-feira (9), ele posicionou-se baixando o tom sobre a saída, mas sem deixar de fazer críticas à direção. "Por enquanto, eu continuo (no PSL). Não tem crise. Briga de marido e mulher, de vez em quando acontece. O problema não é meu. O pessoal quer um partido diferente, atuante. O partido está estagnado. Não tem confusão nenhuma", disse o presidente.

O cientista político e professor da Mackenzie, Rodrigo Prando, analisa que Bolsonaro faz este tipo de ameaça porque a fidelidade partidária jamais foi tratada como algo importante ao longo da trajetória do hoje presidente.

"O que poderia parecer falta de compromisso partidário ou incoerência, para alguns políticos, para ele significou um ponto positivo. Ficou uma impressão, para o eleitor, de que quando Bolsonaro via algo de ruim em um partido, ele saía. E se ele nunca prezou pela fidelidade nem quando era do baixo clero, não teria porquê agora", considera.

Além disso, o fato de o partido ter assumido uma característica personalista em torno de Bolsonaro deu condições para que ele queira mais espaço para ser protagonista, mudar integrantes da Executiva Nacional e atuar no controle da burocracia partidária por meio de aliados.

Hoje, o comando do partido está com Luciano Bivar, que preside o PSL desde 1998 e cujo mandato tem prazo para novembro deste ano. "O Bolsonaro se tornou maior que o PSL, assim como Lula se tornou maior do que o PT. Como passou a ter uma bancada robusta no Congresso Nacional, um dos pontos de disputa passou a ser sobre os recursos do partido. Bolsonaro pode considerar interessante recriar outro partido, em que ele seria o grande cacique e daria mais coesão ao seu projeto político", destaca Prando.

A crise entre o presidente e o PSL vem no momento em que o Ministério Público e a Polícia Federal apuram suspeitas de candidaturas-laranja, de fachada, do PSL em Minas Gerais e em Pernambuco. Este seria um ponto delicado, que pode apresentar riscos de retaliação vindos do atual controle da sigla contra os movimentos mais ousados pelo presidente.

"Figuras do PSL podem ter conhecimento de fatos que desabonem o governo, a chapa presidencial, que levem a mais investigações sobre as eleições de 2018", comenta o cientista político.

Este vídeo pode te interessar

Não está claro, no entanto, se uma eventual mudança de partido traria necessariamente impactos para a governabilidade. "O PSL não é um partido no sentido orgânico do termo. É muito mais uma conjugação de personalidades, que não tem socialização e formação política. Bolsonaro pode tentar organizar um partido mais orgânico, que seja 100% fiel a ele. No entanto, como ainda estamos muito distantes do período da janela partidária, haveria riscos de perda de mandato para os parlamentares. Eles só poderiam migrar caso a sigla escolhida seja uma nova", pontuou.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais