Uma herdou da mãe o gosto pela política, outra se inspirou no pai para seguir o mesmo caminho. Há também incentivo que veio do marido e de outras lideranças, ou, simplesmente, a vontade de fazer a diferença. Independentemente das razões, as trajetórias de Cláudia, Ilza, Nágila, Rose e Vitória se cruzaram e, agora, elas formam a bancada feminina da Câmara Municipal de Ponto Belo, único município do Espírito Santo a eleger mais mulheres do que homens nas Eleições 2024.
Cidade do Norte capixaba com população estimada de menos de 7 mil habitantes, Ponto Belo elegeu nove vereadores, dos quais cinco são mulheres. Para cada uma, a política surgiu de uma maneira, mas elas têm em comum a ideia de que podem contribuir com o município em várias áreas e, particularmente, com demandas femininas.
Com a segunda maior votação, Roze Guese (PDT) teve o apoio de 340 eleitores. Na política há 20 anos, a pedetista lembra, quando ainda era adolescente, da mãe "Maria de Alemão" como vereadora em Mucurici — cidade da qual Ponto Belo se emancipou em 1994 — e, mais tarde, como a primeira mulher a presidir a Câmara Municipal do município recém-criado. "Meu primeiro voto foi para ela", recorda-se.
Inspirada pela mãe, Roze candidatou-se pela primeira vez em 2004, mas não se elegeu. Naquela época, contudo, percebeu que tinha afinidade com questões sociais e passou a atuar nessa área. Nas duas disputas seguintes, conquistou uma cadeira no Legislativo. Em 2016, compôs a chapa com Murilo Coelho (PSDB) e foi eleita vice-prefeita. No pleito de 2020, tentou assumir o comando da cidade, porém o adversário ganhou.
A corrida eleitoral naquele ano foi mais difícil, não só porque era para o Executivo, mas porque o pai de Roze estava hospitalizado. Ele morreria em fevereiro de 2021 e, poucos meses depois, a mãe foi internada. Ela precisou ficar afastada da cidade e da política por um longo período devido aos problemas de saúde na família. Ainda assim, neste ano, o nome de Roze voltou a ser cogitado para a disputa majoritária, porém ela optou por concorrer à Câmara e venceu.
Sobre o papel da mulher na política, a vereadora eleita acredita que o olhar feminino é diferenciado ao se voltar para os mais carentes. "Quando converso com a população, não sou a Roze só da política. Trabalho o tempo inteiro; a gente não para e isso faz a diferença", sustenta.
Com o pai e o marido na política, a participação de Cláudia Rocha (PSDB) no debate público aconteceu naturalmente. Mas foi em 2012, quando o companheiro Murilo Coelho abriu mão de ser vereador e resolveu concorrer como vice-prefeito, que ela se candidatou pela primeira vez para a Câmara Municipal na tentativa de ocupar a vaga que seria aberta. E ganhou. Desde então, participou de todas as disputas no Legislativo, sempre bem-sucedida.
Para Cláudia, a eleição é resultado de diversos fatores, mas ela afirma que é muito atuante na Câmara e legisla com responsabilidade. "Temos um compromisso de analisar muito bem as leis, pensar na construção de cada projeto que possa melhorar a qualidade de vida das pessoas".
O fato de Ponto Belo ter se destacado com a maior bancada feminina do Espírito Santo é, na avaliação de Cláudia, reflexo da credibilidade que as mulheres têm passado. A vereadora observa que o município sempre teve, pelo menos, três representantes do gênero feminino na Câmara. A partir de 2025, serão cinco.
Reeleita para o quinto mandato, a missionária Irmã Ilza (PP) começou na política de maneira inesperada. Técnica de Enfermagem e com um projeto social na cidade com foco em mulheres, ela foi incentivada pela deputada estadual Janete de Sá (PSB) a concorrer pela primeira vez por "gostar de gente".
Se o início foi involuntário, a caminhada tem sido de dedicação e muita articulação. Ilza afirma que está sempre em busca de apoio, tanto para as ações sociais quanto para o seu mandato, para obter recursos estaduais e federais para a cidade. Atualmente, é a presidente da Câmara Municipal.
Mas todas as conquistas não significam que a caminhada tem sido fácil.
Filha do ex-prefeito Edvaldo Rocha Santana, a enfermeira Nágila Rabelo (MDB) não tinha pretensões políticas, mas resolveu atender a um pedido do pai para dar continuidade à história da família no município. Candidatou-se pela primeira vez nas Eleições 2024 e conquistou 225 votos.
Com 20 anos de experiência profissional, Nágila pretende direcionar sua atuação legislativa para a área da saúde, contemplando a população mais desassistida pelo poder público.
Na avaliação da vereadora eleita, a população de Ponto Belo confia nas mulheres e, por isso, se destaca de outros municípios nesse aspecto. "Eu espero que o meu mandato seja um diferencial aqui na cidade", planeja.
Outra estreante na política é a advogada Vitória Nina (PDT). A diferença é que ela não "herdou" de nenhum familiar o interesse pela área. Foi sua própria experiência profissional que a levou para a Câmara Municipal, na qual tem atuado como controladora interna. Ao conhecer a dinâmica do Legislativo, avaliou que poderia contribuir mais com o município se tivesse um mandato. Candidatou-se pela primeira vez e foi eleita.
Entre suas bandeiras, a juventude e políticas públicas voltadas ao esporte. Ela estima que 90% dos jovens tiveram que deixar a cidade por falta de oportunidades de emprego e renda. Vitória Nina espera que, com o desenvolvimento de iniciativas para esse público, ninguém mais precise sair do município e, quem se mudou, poderá retornar.
Aos 27 anos, a vereadora eleita analisa o pleito. "Culturalmente, no país, vota-se mais em homens. E isso pode ser uma dificuldade para enfrentar uma eleição. Mas eu pensei muito nisso de que, se eleita, poderia ser a porta para outras jovens mulheres que gostam de política, que gostam de estudar. Com a eleição, como as pessoas ficaram felizes pela representatividade feminina. Eu penso que dá um gás para outras tentarem também", conclui.
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