O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) faz uma operação, nesta quarta-feira (3), contra o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) e o ex-vice-governador do Distrito Federal Tadeu Filippelli (MDB). São cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em quatro Estados, entre eles o Espírito Santo, onde o alvo é ex-motorista de Cunha, capixaba apontado como "homem da mala" do ex-deputado.
Cunha e Filippelli são suspeitos de integrarem um esquema de propina pago por companhias áreas para reduzir impostos de combustível para aviação na capital federal, entre 2012 e 2014. Além de Espírito Santo e Distrito Federal, também há busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPDFT, recebeu apoio no Estado da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo (PMES) e do Gaeco, do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
No Estado, de acordo com pessoas envolvidas na investigação, os agentes estiveram em um imóvel ligado a Altair Alves Pinto, em Muqui, no Sul do Estado, cidade natal do ex-motorista de Cunha. O capixaba foi citado por delatores como o "homem da mala" de ex-parlamentar, figura responsável por fazer o transporte de propinas pagas ao emedebista. De acordo com o MPDFT, não houve prisão. O processo está sob sigilo.
As investigações que resultaram na Operação Antonov – nome do maior cargueiro de asa fixa do mundo – começaram a partir a delação premiada do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, firmada com a Procuradoria Geral da República (PGR) em 2017.
De acordo com as apurações, Filippelli e Cunha, que era deputado federal pelo Rio de Janeiro, teriam recebido propina para alterar uma lei distrital e reduzir a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do querosene da aviação de 25% para 12%. A alteração teria sido feita por Filippelli quando ele assumiu o cargo de vice-governador do Distrito Federal em 2013.
Há indícios de pagamento de propina pelas empresas Gol e Latam, na época Tam.
Ao jornal O Globo, a defesa do ex-deputado Eduardo Cunha classificou a operação de "pirotecnia" e disse que foi "fabricada politicamente".
"A operação de hoje é um retorno ao famigerado período das pirotecnias acusatórias. Não há dúvida de que se trata de algo fabricado politicamente com o intuito de retaliar, de forma injusta, alguém que vem cumprindo rigorosamente todas as condições que lhe foram impostas pela Justiça ao conceder a prisão domiciliar", diz a nota enviada ao jornal pelos advogados elos advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso e Délio Lins e Silva.
Também para o Globo, o advogado Alexandre Queiroz, responsável pela defesa de Filippelli, informou que só vai se manifestar após ter acesso aos autos. A Latam informou em nota que "irá colaborar com as autoridades competentes". A empresa Gol não foi alvo de mandados de busca e apreensão.
Essa não é a primeira vez que Altair é alvo de uma operação que investiga indícios de corrupção supostamente cometida por Eduardo Cunha. Em maio de 2017, Altair teve a casa dele no Rio de Janeiro como um dos alvos em uma das fases da Operação Lava Jato.
"Seu Altair", como era conhecido no meio político, foi motorista de Cunha e era apontado como o "homem da mala", responsável pelo transporte das propinas pagas ao peemedebista. Cunha e Altair se conheceram nos anos 1980, em boates do Rio de Janeiro.
Na ação da PF em 2017, um táxi com placa de Nilópolis foi encontrado na garagem de Cunha. O Touareg, cujo valor de um novo é de cerca de R$ 200 mil, estava no nome de Altair. Ele foi motorista de Cunha nas campanhas, segundo pessoas que acompanharam a peregrinação por votos. A prestação de contas de 2014 mostra que ele ganhou R$ 28,7 mil por ter alugado carros para o parlamentar.
Empresas no nome de Altair e de parentes dele fecharam contratos na obra do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, onde há indícios de que o ex-deputado tenha recebido propina durante a construção. Documentos encontrados pela Operação Lava Jato na casa de Altair revelam que duas empresas de sua família forneceram mármores para a concessionária Porto Novo, responsável pela execução do projeto de revitalização do Porto do Rio. A descoberta reforça as suspeitas da ligação de Cunha com o empreendimento.
O primeiro pedido de fornecimento de mármore, no valor de R$ 91 mil, é endereçado à Guarujá Mármores e Granitos. O segundo, em torno de R$ 500 mil, à Indústria Aladim. Os sócios das empresas são o próprio Altair, sua esposa e filhas. As duas empresas funcionam no mesmo endereço, na Fazenda Portal do Guarujá, em Muqui.
O texto foi atualizado para acrescentar que Altair Alves Pinto, ex-motorista do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, foi o alvo, em Muqui, da operação realizada nesta quarta-feira (3). A informação foi obtida após a publicação da primeira versão desta reportagem.
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