O Espírito Santo é, no momento, o Estado com o melhor quadro de enfrentamento à Covid-19 no Brasil, de acordo com um ranking elaborado pela organização CLP-Liderança Pública. O estudo é publicado quinzenalmente, em parceria com o jornal "O Estado de S. Paulo", e leva em consideração nove critérios, entre eles a curva de evolução de contágio e mortalidade provocada pelo novo coronavírus, a evolução de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), a transparência nos dados da doença e a taxa de isolamento social.
Há apenas um mês, o Estado ocupava o penúltimo lugar, com uma das piores notas. A melhora na curva de contágio da Covid-19 e a queda nas taxas de SRAG influenciaram o resultado, mas de acordo com a instituição, a liderança capixaba tem muito a ver, também, com a piora dos dados em outros Estados, principalmente após a reabertura do comércio em lugares que, até agora, ocupavam os primeiros lugares da lista, como Santa Catarina, que caiu para a oitava posição.
"Sinceramente, no cenário de hoje, ser o melhor não quer dizer que a situação está boa. Quer dizer, apenas, que o Estado é, no momento, o menos pior dos 27 para lidar com a pandemia", assinala o head de competitividade do CLP, José Henrique Nascimento.
Os critérios avaliados pelo ranking são: a proporção de casos confirmados, a evolução dos casos (em relação a semana anterior), e a taxa de mortalidade ocasionada pela Covid-19, com dados do SUS, os mesmos indicadores para Síndrome Respiratória Aguda Grave, fornecidos pela Fiocruz, o índice de Transparência da Covid-19, da Open Knowledge Brasil, e os dados de isolamento social, fornecidos pelo Google, que fazem uma comparação baseada com a presença das pessoas em espaços públicos em relação ao período pré-pandemia. O CLP avalia cada critério e faz uma média, quanto menor a nota, melhor a colocação.
De acordo com Nascimento, o ranking busca analisar os números de cada Estado para identificar o nível e a tendência da doença em cada local. Fazendo a comparação, o estudo busca avaliar como as unidades da federação têm enfrentado a pandemia. O objetivo seria incentivar que os governadores tomem decisões pautadas, exclusivamente, em dados.
Esses dados, explica o head de inteligência técnica Daniel Duque, demonstram a ligação direta entre as políticas públicas tomadas e a situação da pandemia em cada Estado. "O que vai conseguir reduzir ou acelerar a contaminação da Covid-19 são as políticas públicas adotadas. Cada vez mais estamos vendo que existe a associação entre as políticas adotadas e a situação que os Estados se encontram", aponta.
Quando começou a ser feito, em abril, o estudo buscava elencar os melhores Estados no combate à pandemia, mas de acordo com os representantes da organização, o cenário atual é caótico em todo o país. "Não adianta mais tentar combater, ela já se espalhou e interiorizou", afirmam.
O CLP leva em consideração em seus estudos as taxas relativas à Covid-19, mas também aos casos de SRAG. A estratégia, de acordo com Nascimento, é para tentar diminuir a diferença causada pelas subnotificações.
"Consideramos os dados de SRAG de pessoas que fizeram o teste de Covid e das que não fizeram. Diminuindo os casos que foram positivos dos que deram negativo e somando com os casos em que não foi realizado o teste, chegamos a um número que pode abranger grande parte da subnotificação no país", sustenta. Nascimento destaca, ainda, que em todo país o número de casos de SRAG aumentou até 1.000% em relação aos anos anteriores.
O principal fator que pesou na penúltima colocação do Estado, no estudo do dia 15 de junho, foram as taxas de evolução e mortalidade de SRAG. Na ocasião, o Espírito Santo tinha a pior taxa de mortalidade do país, com 40%. Em entrevista ao "Estadão", a organização destacou que o aumento ocorreu após a reabertura do comércio em maio.
Nesta semana, a queda nesse fator foi expressiva. O Estado saiu do último lugar (com a pior taxa de mortalidade por SRAG) para o terceiro, com uma taxa de 5,12%. Também colaboraram a melhora na curva de contágio e de mortalidade pela Covid-19 e a boa colocação no ranking de transparência nos dados da pandemia, organizado pela OKBr.
A variação do isolamento social não tem sido muito expressiva. Em uma escala feita pelo Google, que compara a presença de pessoas em espaços públicos em relação ao período pré-pandemia, o Estado ocupa a quinta colocação. Em uma escala que vai de 0 a -100, sendo 0 o pior isolamento e -100 o melhor, o Espírito Santo está em -34. Sergipe tem a melhor taxa, com -38, o que significa que todos Estados estão com dificuldades de manter o isolamento.
"O Espírito Santo tem, hoje, o quinto melhor isolamento do país. Mas isso não é um elogio, simplesmente demonstra o quanto a situação está complicada em todos os Estados", aponta José Henrique. Como o ranking avalia tendências, o head de competitividade ressalta que se o governo estadual relaxar, pode acontecer como em locais que flexibilizaram a abertura do comércio, a exemplo de Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal, que agora integram os cinco piores Estados na lista divulgada esta semana.
O CLP é uma organização sem fins lucrativos que atua "na defesa de causas que fortaleçam a democracia e melhorem o funcionamento do Estado brasileiro". É a mesma instituição que elabora o Ranking de Competitividade entre os Estados e usa a mesma metodologia para elaboração do Ranking Covid-19 desde abril. Os resultados são publicados quinzenalmente em parceria com o "Estadão".
O secretário da Saúde, Nésio Fernandes afirmou que a queda dos outros Estados e a boa colocação do Espírito Santo se dá pelo fato de que houve uma estratégia de expansão e reorganização da rede de saúde enquanto a curva ainda estava em crescimento lento. "O risco que os outros Estados correram é que consideraram que já haviam vencido a doença quando os números estavam baixos e não prepararam uma estrutura de leitos como nós preparamos", aponta.
Mesmo com a boa colocação, o secretário acredita que o ranking erra ao comparar os dados de todos os Estados, sendo que a doença está em diferentes estágios em cada região. "Todo ranking precisa comparar equivalentes para não haver injustiças. Se comparar nossos dados com o de Estados que viveram os mesmos estágios da doença, como Rio de Janeiro, por exemplo, todos os nossos índices serão melhores", sustenta o secretário.
Nésio Fernandes também fez críticas ao fato de o CLP contabilizar os casos de SRAG. "Eu agradeço ao ranking pelo reconhecimento, mas não posso deixar de ser sincero. Houve essa queda nas curvas da SRAG porque o comportamento dessa doença é sazonal, todo ano, não só nesse. Tivemos o pico em meados de junho e agora a queda é natural e esperada. O ranking está avaliando uma doença que é sazonal por si só", finalizou.
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