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Pandemia faz eleitores do ES que moram fora desistirem de viajar para votar

Pandemia faz eleitores do ES que moram fora desistirem de viajar para votar

Medo de contágio pelo novo coronavírus, isolamento e baixa oferta de voos são alguns dos fatores para a desistência. Mas há quem faça questão de comparecer às urnas em 2020

Publicado em 13 de novembro de 2020 às 05:30

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O bancário Paulo Ginger vota em Cachoeiro de Itapemirim, mas terá que justificar devido à pandemia
O bancário Paulo Ginger vota em Cachoeiro de Itapemirim, mas vai justificar devido à pandemia de Covid-19. (Arquivo Pessoal)

Seja pelo vínculo com a cidade natal, seja em função da perda do prazo para transferir o título para o novo domicílio eleitoral, muitas pessoas precisam viajar para exercer seu direito de votar. Nas eleições de 2020, porém, a pandemia do novo coronavírus tem se mostrado um obstáculo e alguns desses eleitores  estão repensando ou já desistiram mesmo de comparecer às urnas no domingo (15).

Capixabas como o bancário Paulo Roberto Ringuer, que mora no Rio de Janeiro e vota em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, não vão votar devido aos riscos de contaminação e também aos problemas decorrentes da pandemia. No caso dele, pesaram a preocupação com o coronavírus, o possível trânsito nos 400 quilômetros de estrada e a escala apertada de voos em função da crise sanitária.  

Paulo, que se mudou de Cachoeiro de Itapemirim há mais de 10 anos, conta que chegou a visitar a cidade durante a campanha, ouviu as propostas de alguns candidatos, mas acabou desistindo de comparecer nestas eleições. Ele explica que continua votando no município por questões pessoais e diz se interessar por política.

"Os políticos fazem o lugar andar ou regredir. Por isso, é preciso se envolver e saber escolher porque as propostas geram impactos na sociedade e na economia", avalia. Mesmo com a intenção de retornar ao Espírito Santo, Paulo não deverá voltar a morar em Cachoeiro. O vínculo com a cidade, porém, será mantido como eleitor. 

A situação é similar à da cineasta Claudiana Braga, que saiu de Venda Nova do Imigrante, na região Serrana, para estudar em Vitória, em 2015. Ela revela que, devido à pandemia, é muito provável que não participe das eleições deste ano. “A minha avó tem 66 anos e, se eu for, tenho medo de deixá-la exposta”, argumenta.

O contato com a família era um dos motivos que incentivava Claudiana a fazer o trajeto de 111 quilômetros de ônibus até sua terra natal. Ela saía da Capital na sexta-feira à noite e ficava na sua antiga cidade até segunda pela manhã. No entanto, este ano a cineasta  está pensando em justificar a ausência para não colocar em risco a saúde de todos. “Estou desde janeiro sem visitar minha família; tenho receio de ir num período como este."

PRÁTICA É PERMITIDA

De acordo com o artigo 42 do Código Eleitoral (Lei 4.737/1965), o domicílio eleitoral é o lugar de residência ou moradia do requerente à inscrição para eleições.

No entanto, morar numa cidade e votar em outra é algo normal e, segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES), não se constitui um problema, uma vez que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já se manifestou em decisões que “uma pessoa pode votar no lugar em que tenha vínculos políticos, sociais, patrimoniais e de negócios."

O cientista político Paulo Edgar Resende, porém, avalia que o fato de votar significa escolher o destino daquele lugar e, por isso, é interessante que a pessoa seja impactada pelas políticas feitas na região. “É possível que a pessoa esteja bem informada, mas ela não será diretamente afetada pela decisão”, analisa.

Resende pondera ainda que o eleitor precisa avaliar a importância social do seu voto, se ele volta em um município diferente do que reside. “Se esse indivíduo pode melhorar as condições sociais daquela cidade, e analisa que são mais emergenciais que as do local onde vive, acho que o voto se faz de maneira assertiva”, ressalta.

EXERCÍCIO DA DEMOCRACIA

Mas, mesmo com a pandemia de Covid-19, há quem ainda faça questão de exercer o direito ao voto. Gutierri Andreza tem tudo organizado para visitar Itaoca Pedra, distrito de Cachoeiro de Itapemirim, no fim de semana da eleição. Ele mora em Vitória há 12 anos e já tem como hábito sair de onde estiver para depositar o voto na cidade onde cresceu. Para ele, votar em seu município é como manter um vínculo afetivo.

Gutierri, que também é bancário, conta que os planos para votar já foram feitos. Nesta sexta-feira (13), ele e uma amiga sairão de Vitória rumo a Itaoca. Até o dia das eleições, eles pretendem organizar um churrasco na casa da tia e visitar os antigos amigos da cidade. Já a volta está programada para depois que forem divulgados os vencedores.

Mesmo na pandemia, Gutierri Andreza sairá de Vitória até o distrito de Itaoca da Pedra para votar
Mesmo na pandemia, Gutierri Andreza sairá de Vitória até o distrito de Itaoca Pedra para votar. (Arquivo Pessoal)

Ele destaca que faz pesquisas sobre os candidatos que estão na disputa e questiona seus projetos nas transmissões virtuais, especialmente nesta campanha. Ele foi chefe de zona eleitoral e diz ver o dia do pleito como uma festa.

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Eleições em lugares pequenos sempre são um evento. A cidade fica movimentada, todo mundo na expectativa. E sempre vejo alguém que não encontrava há muito tempo

Gutierre Andreza
Bancário
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Já Pedro Henrique, que reside em Vitória e tem título registrado em Nova Venécia, no Norte do Estado, vai votar nessas eleições por uma coincidência. Morador de Vitória, o cineasta já havia planejado uma visita aos pais para novembro. Ele conta que não vê a família desde janeiro e o feriado da Proclamação da República, que cai justamente no domingo do primeiro turno, foi a data encontrada para o retorno à cidade natal. 

Pedro Henrique mora em Vitória desde 2015, quando ingressou na universidade. Por morar em república e não ter emprego fixo, sempre teve dificuldades financeiras para se deslocar e participar das eleições. São 251 quilômetros até Nova Venécia.

Por coincidência, o cineasta Pedro Henrique estará em sua cidade no dia das eleições e irá votar
Por coincidência, o cineasta Pedro Henrique estará em sua cidade no dia das eleições e irá votar. (Arquivo Pessoal)

A rotina corrida, de faculdade e estágio, acabou sendo um obstáculo para a troca do domicílio eleitoral. Pedro revela que votou nas eleições de 2018, no segundo turno, mas que em  outros pleitos, inclusive municipais, acabou justificando a ausência.

Mesmo estando distante, Pedro diz que as discussões com a família o ajudam a conhecer e escolher os candidatos de sua cidade de origem. Mas, como não tem pretensões de voltar a morar em Nova Venécia, o cineasta pretende mudar o título para Vitória por entender a importância de participar da decisão da cidade na escolha dos governantes.

JUSTIFICATIVA E TRANSFERÊNCIA

Para aqueles que não poderão comparecer aos locais de votação, o TRE-ES informa que neste ano, devido à pandemia, a justificativa de voto para esses eleitores pode ser realizada pelo aplicativo “e-Título”.

Para as próximas eleições, quem desejar alterar a cidade de votação deve comparecer aos cartórios eleitorais a partir de 30 de novembro, ou seja, primeiro dia após o segundo turno.

SERVIÇO

  • 1º turno das eleições 2020: 15/11, das 7h às 17h
  • 2º turno das eleições 2020 (para cidades com mais de 200 mil eleitores e que nenhum candidato tenha conseguido 50% +1 dos votos válidos): 29/11, das 7h às 17h
  • Transferência de título: pode ser solicitada a partir de 30 de novembro em qualquer cartório eleitoral.

* Israel Zuqui é aluno do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob supervisão do editor Geraldo Campos Jr. e de Aline Nunes

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