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Pandemia vai afastar ainda mais as mulheres da política

Pandemia vai afastar ainda mais as mulheres da política

Avaliação foi feita por especialista, em evento realizado pelo TRE para discutir a efetividade dos instrumentos de equidade de gênero nas eleições

Publicado em 5 de março de 2021 às 15:55- Atualizado há 4 anos

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Evento reuniu estudiosas do Direito para discutir a baixa representatividade de mulheres na política brasileira
Evento reuniu estudiosas do Direito para discutir a baixa representatividade de mulheres na política brasileira. (Reprodução/Youtube TRE-ES)

Se a representatividade feminina nos espaços políticos já é baixa, a previsão é que, com a pandemia de Covid-19 e a adoção do modelo de trabalho em casa, a baixa participação se torne ainda mais evidente. O fim da divisão entre espaço público e privado, o adoecimento por excesso de carga horária de trabalho – ainda mais difícil de fiscalizar na atividade remota – e a responsabilidade das múltiplas tarefas de casa podem afastar ainda mais as mulheres da política. 

A constatação foi feita pela pós-doutora em Direito e doutora em Filosofia, Bruna Vincenzi, durante uma mesa redonda organizada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), nesta sexta-feira (5). O evento debateu a "eficácia dos instrumentos de equidade de gênero e o resultado das eleições 2020", e marcou o lançamento do Comitê Gestor de Incentivo à Participação Feminina e Equidade de Gênero, presidido pela juíza membro do Pleno do TRE-ES Heloísa Cariello.

A pós-doutora observou que, como a medida mais eficaz para evitar o contágio por coronavírus é o distanciamento social, a sociedade foi tirada do espaço público e precisou levar para dentro de casa o ambiente de trabalho. Embora a mudança tenha afetado a todos, as mulheres têm propensão a exercer "em um percentual muito maior" a carga de trabalho doméstico e, principalmente, o ensino e cuidado com os filhos durante o isolamento.

Como resultado, as mulheres tendem a se sentir mais sobrecarregadas e desencorajadas a entrar no ambiente competitivo, e majoritariamente ocupado por homens, que é a política. 

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No futuro, vamos ver mais mulheres desistindo de reeleição e participação nos pleitos. Não porque elas não queiram ou não são capazes, mas simplesmente por estarem sobrecarregadas no momento de pandemia

Bruna Vincenzi
Pós-doutora em Direito e doutora em Filosofia
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Ana Cláudia Santano, doutora em Direito e membro fundadora da Academia Brasileira de Direito Eleitoral, reforça a preocupação, relacionada especialmente ao ambiente que as mulheres encontram ao entrar para partidos políticos e disputar eleições. Além de ter dificuldade em conseguir viabilizar candidaturas competitivas, principalmente por falta de financiamento, existe também um ambiente hostil: críticas da própria sociedade e, na grande maioria das vezes, relacionadas ao gênero, aparência e até de baixo calão, diferente do que costuma acontecer com os homens.

Prova disso, ressalta Santano, é que pesquisas apontam que 60% das prefeitas eleitas no Brasil não querem se reeleger porque não querem mais fazer parte "desse universo". 

As especialistas apontaram exemplos, como os ataques feitos a prefeitas negras eleitas em 2020 por todo país e até a Dilma Rousseff (PT), única mulher a ocupar a cadeira de presidente da República na história do país. "Existe o agravador dos comentários de baixo calão; me parece uma prática brasileira. Além de diminuir a capacidade específica da mulher, se é para gestora ou para legislar, de agregar um comentário pejorativo sexual. Há a necessidade de ofender, até mesmo vindo de pessoas do alto escalão", pontuou Vincenzi.

COMITÊ PARA INCENTIVAR A PARTICIPAÇÃO FEMININA NOS ESPAÇOS PÚBLICOS

Ao perceber a baixa representatividade, o TRE-ES instalou o Comitê Gestor de Incentivo à Participação Feminina e Equidade de Gênero, presidido pela juíza Heloísa Cariello e composto por mais três integrantes: Aigline de Menezes Paes Vervloet, da  55ª Zona Eleitoral de Vila Velha; Letícia Bertolo dos Santos Rosemberg, da 3ª Zona Eleitoral de Castelo; e Aline Cândida Mendonça, da Corregedoria.

"O comitê tem como objetivo promover ações que possam fomentar o aumento da representatividade feminina, não só na política estadual mas também nos diversos setores da sociedade", aponta Cariello. A magistrada destaca que, apesar de ser maioria no eleitorado capixaba, apenas 5% de mulheres são votadas para os cargos eletivos. 

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Nosso desejo é que ele (o comitê) possa jogar uma luz nessa sub-representatividade, por meio de discussões e ações afirmativas sobre esse problema de representação, e quem sabe aumentar o número de candidaturas no Estado

Heloísa Cariello
Juíza membro do Pleno do TRE-ES
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