As declarações e o descrédito gerados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre os dados, as queimadas e o aumento do desmatamento da Amazônia podem piorar a imagem do Brasil enquanto país agressor do meio ambiente, e, por consequência, espantar investimentos criando uma crise política e econômica, avaliam especialistas. Uma das falas mais polêmicas, que desencadeou reações negativas, foi a de que ONGs poderiam estar por trás do fogo na região. O presidente brasileiro disse também que governadores são "coniventes" com os incêndios, e que o presidente da França, Emmanuel Macron, "evoca mentalidade colonialista", ao se posicionar sobre o problema.
Para especialistas, como o comprometimento com as políticas de meio ambiente são hoje a agenda internacional, o país tem sua reputação afetada ao se colocar como negligente sobre o tema. "A gente já sabe que a Amazônia que não é a única responsável pelo ar limpo, mas ela gera equilíbrio ambiental neste momento de mudanças climáticas, que são a grande preocupação internacional. Bolsonaro faz críticas sem dados técnicos e põe em dúvida informações oficiais, como os do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mas nas relações internacionais, quando um presidente fala sobre algo, mesmo que seja sobre o que ele acha, passa a representar a visão daquele governo. Por isso ele está sendo cobrado", analisa a professora de Direito Internacional da Faesa, Stella Emery.
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A doutora em economia Arilda Teixeira considera que empresas podem passar a evitar se relacionar com o país. "O meio ambiente entrou para a agenda dos grandes conglomerados mundiais. As grandes organizações hoje entendem que têm que respeitá-lo, e não fazer negócios com quem não respeita."
HISTÓRICO
O comportamento de Bolsonaro sobre o meio ambiente tem o potencial de colocar em risco a reputação, negócios e biodiversidade do país. É a avaliação da professora do curso de Relações Internacionais da UVV, Viviane Mozine.
E ela completa: "O Brasil corre risco de bloqueio comercial, e o Espírito Santo pode ser muito afetado em alguns setores, em especial as commodities e o agronegócio. Ademais, há muitos que acreditam que é uma questão de tempo até produtos brasileiros sofrerem boicote internacional por causa do desmatamento da Amazônia".
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De acordo com a professora Stella Emery, além dos impactos nos acordos internacionais e nos investimentos, pode haver consequências no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, por conta dos contratos celebrados, que costumam ter cláusulas ambientais. "Fica a seguinte situação: saiu do Brasil, é sinônimo de fruto de desmatamento. Também pode dificultar os Estados da federação de fazer acordos fora daqui", afirma.
Ela acrescenta que um dos obstáculos que impedem uma discussão racional sobre o aumento de queimadas e desmatamento no Brasil está na baixa qualidade da informação, e o presidente precisa mudar de posicionamento para tentar minimizar esses impactos.
A professora Viviane Mozine elenca o que deveria ser feito: "Em primeiro lugar, o governo deveria reconhecer que há uma crise, provocada pelas queimadas. Em segundo lugar, elaborar um plano de atuação proporcional a questão, ou seja: em todas as esferas, municipal, estadual, federal e internacional para solucionar o problema, que a esta altura vai sair muito caro resolver. Em terceiro, planejar o futuro, no plano econômico e no plano operacional, para que na variação cíclica de novas queimadas, o governo esteja preparado para agir com a celeridade necessária."
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