Em visita ao Espírito Santo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), disse que uma possível interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição para presidência da Casa Legislativa, que acontece em fevereiro de 2021, pode deixar sequelas no relacionamento com os parlamentares.
Conforme publicou o jornal O Globo, na tentativa de derrotar Maia, Bolsonaro tem costurado apoio de partidos a candidatos do Palácio do Planalto em troca de espaços em ministérios.
"Os dois campos com mais chance de disputar essa eleição são campos que, na agenda econômica, convergem com a agenda do Ministério da Economia. Acho que o presidente interferir nesse processo não é bom para democracia, não é bom para ele e não é bom na relação do Executivo com o Legislativo. Aquele [grupo] que for derrotado, vai ter sequelas na relação do governo com o parlamento", afirmou.
Maia não citou nomes de candidatos que representariam os campos a que se referiu, mas é certo que um deles faz parte do grupo apoiado por ele, e o outro, pelo governo, que deve apostar suas fichas no deputado federal Arthur Lira (PP-AL).
Segundo informações de bastidores, Maia está articulando a candidatura do deputado federal Baleia Rossi, de São Paulo, presidente nacional do MDB e líder do partido na Câmara. No Congresso, o DEM de Maia tem muita proximidade com o MDB e o PSDB, em um campo hoje de centro-direita.
A visita do presidente da Câmara dos Deputados ao Estado foi para uma reunião agendada com o governador Renato Casagrande (PSB), a pedido do próprio Rodrigo Maia. O encontro durou cerca de duas horas.
Inicialmente, Maia participou de uma conversa com os deputados federais Felipe Rigoni (PSB), Ted Conti (PSB) e Lauriete (PSC). Eles trataram de projetos que têm urgência para serem votados, como é o caso do texto da regulamentação do Fundeb. Todos os 10 parlamentares da bancada capixaba foram convidados para o encontro, mas só os três participaram.
Em seguida, Maia se reuniu a sós com Casagrande, em uma conversa que durou mais de uma hora. Nos bastidores, a informação é que o presidente da Câmara veio tratar de articulações para a eleição da Mesa, em fevereiro. Ele tem visitado outros governadores, principalmente os filiados a partidos de esquerda, para tratar do mesmo assunto.
Maia, contudo, refutou que o assunto tenha feito parte da pauta.
"O Brasil tem tantos problemas, que a gente tem que se concentrar neles, no que tem de importante para votar este ano e a organização do orçamento para o próximo ano. Certamente essa deve ser nossa prioridade e como vamos combater essa pandemia", disse, reafirmando.
"Eu não venho tratar de sucessão porque não está na hora, esse tema deve entrar na pauta lá pelo dia 15 de janeiro, do meu ponto de vista. Qualquer antecipação desse debate só atrapalha as votações do Congresso."
O parlamentar tem dito que não pretende concorrer a um novo mandato. Pela Constituição, ele não poderia, já que a legislação não permite reeleição na mesma legislatura. Rodrigo Maia preside a Câmara desde 2016, quando chegou ao cargo após a queda de Eduardo Cunha (MDB). Foi reeleito duas vezes, em 2017 e 2019.
Uma ação, contudo, tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) para analisar a possibilidade tanto de Maia quando de Davi Alcolumbre (DEM), que preside o Senado, tentarem a reeleição. O julgamento começou na madrugada desta sexta-feira e quatro ministros já votaram favoráveis à reeleição.
Questionado se seria candidato à presidência, caso o STF lhe garantisse essa possibilidade, Maia se esquivou.
"Não trato desse assunto enquanto o julgamento estiver ocorrendo. Não seria correto da minha parte dar qualquer opinião neste momento", afirmou, encerrando a entrevista concedida à imprensa.
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