Em meio à queda de braço entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, provocada pelas discordâncias em relação às medidas propostas para conter a expansão do coronavírus no país, os deputados e senadores da bancada federal capixaba, hoje, são unânimes nos elogios à condução do ministro durante a crise, mas parte dos parlamentares evita fazer críticas mais contundentes à postura do presidente.
Nesta segunda-feira (6), a saída de Mandetta chegou a ser anunciada como um fato e repercutiu negativamente entre os parlamentares. Os congressistas do Espírito Santo também se colocaram contra esta possibilidade, por considerarem acertadas as medidas tomadas por ele durante a pandemia.
Para o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT), agora não é o momento para medir forças. "O ministro da Saúde tem sido muito responsável. Ele tem ouvido os técnicos que compõem sua equipe. E o presidente deve agir da mesma forma com ele. Assessor é para orientar, não é para fazer o que você manda. O presidente é o líder, mas é preciso que ouça a equipe que ele nomeou, ela que entende da área", avaliou.
O deputado Ted Conti (PSB) acrescentou que o ministro alcançou um respaldo também da sociedade. "Se ele, que tem se mostrado tão profissional, fosse demitido, seria sinal que estamos sendo mal direcionados pelo comando maior. O presidente, enquanto chefe, tem que dar os méritos. A postura dele é sensata, embasada na ciência. O presidente não pode colocar a saúde como a responsável pelo impacto na economia, e sim tentar fortalecer esses dois setores", opinou.
Para Felipe Rigoni (PSB), a possibilidade de retirar o ministro do governo durante a pandemia seria o maior erro da gestão Bolsonaro, e um erro provavelmente fatal, politicamente, para o presidente. "Mandetta é bem avaliado, está fazendo um excelente trabalho, com serenidade, base em evidências científicas, apesar dos desmandos do chefe."
O deputado já havia criticado, recentemente, a campanha feita pelo governo federal contra o isolamento, que acabou suspensa pela Justiça Federal. "O governo não pode gastar milhões para incitar a população a descumprir uma recomendação técnica da Saúde", disse, no Twitter.
Com elogios ao ministro da Saúde, o senador Fabiano Contarato (Rede) opinou que é insensato o desgaste político provocado pelo presidente, em meio a pandemia, ao travar uma disputa com aquele que ele próprio indicou.
"Mandetta age de modo técnico, observa a ciência e tem comando. Se saísse do governo neste momento, infelizmente, a vaidade e a disputa política no governo teriam prevalecido ao interesse público." Nas redes sociais, enquanto ainda especulava-se a possibilidade de uma demissão do ministro, o senador foi enfático. "Em vez de ajudar no trabalho dedicado e responsável de seu próprio Ministro, Bolsonaro, por inveja e ressentimento, prefere ameaçá-lo e desautorizá-lo publicamente. Resista, Mandetta", publicou.
Mesmo crítico do governo Bolsonaro, o deputado Helder Salomão (PT) também tem visto positivamente o trabalho do ministro. Já quanto ao presidente, manifestou indignação.
"O presidente demonstra insensibilidade, não está preocupado com a vida das pessoas, dá mal exemplo. As poucas medidas concretas anunciadas, como a liberação da renda básica, ele fica enrolando para pagar, enquanto o povo passa fome. Criou um enfrentamento com o ministro da Saúde, que está se posicionando em sintonia com as recomendações internacionais e das autoridades sanitárias. Assim, o presidente só mostra ser irresponsável e incompetente", frisou.
De volta ao Congresso após alguns meses de licença médica, a senadora Rose de Freitas (Podemos) considera que enquanto o ministro vem liderando o processo com equilíbrio, segurança e transparência, informando corretamente os brasileiros, Bolsonaro já teve atitudes na contramão. "Parece que eu vi um filme. O presidente no meio da rua, a despeito do que todos os cientistas disseram, a despeito do próprio sentimento popular. Enquanto isso, o povo se protegendo", lamentou.
Desde o início do governo, a grande maioria da bancada do Espírito Santo tem apoiado os projetos do governo Bolsonaro, com poucos membros atuando pontualmente na oposição, com a exceção do deputado Helder Salomão e do senador Fabiano Contarato. Apesar de algumas demonstrações sobre o isolamento de Bolsonaro, devido à falta de força política, parte dos membros da bancada capixaba ainda não mencionaram a retirada do apoio ao presidente.
Ao avaliar o trabalho do Executivo, o senador Marcos do Val (Podemos) ponderou que ainda são os primeiros passos, pois o país está diante de um desafio global desconhecido.
"A meu ver, as ações do governo federal estão sendo conduzidas de forma sistêmica, não só na saúde, mas na economia, na previdência social, o que é positivo. Recursos estão sendo liberados para a saúde para compra de equipamentos e insumos, há liberação de linhas de créditos para pessoas físicas e jurídicas e é nítida a preocupação e o cuidado com os informais, os desempregados. Quanto à atuação do Mandetta, considero como equilibrada, técnica e segura. Precisamos deixar os protagonismos e as vaidades de lado, deixar as desavenças políticas e entender que a atuação de um gestor não ameaça a de outro", afirmou.
Da Vitória (Cidadania) e Lauriete (PL) também declararam apenas que o ministro está tendo uma boa atuação na condução do enfrentamento ao coronavírus. Amaro Neto (Republicanos), cujo partido está na base de apoio do governo, também teceu elogios, sem apontar erros a Bolsonaro.
"O trabalho realizado pelo ministro Mandetta tem sido técnico e comprometido com a saúde dos brasileiros. Vejo que o governo federal como um todo tem se esforçado em realizar um trabalho de cooperação entre as áreas para que haja ações de apoio aos cidadãos neste momento de isolamento necessário."
Apoiadora de primeira ordem de Bolsonaro, a deputada Soraya Manato (PSL) classificou a postura do presidente como coerente e madura, e evitou criticar Mandetta. "É preciso que o governo federal tenha uma equipe que trabalhe em sintonia e alinhada com os princípios do gestor. Em alguns momentos, eles tiveram opiniões diferentes, o que é natural. O presidente sabe que o ministro tem um papel muito importante neste momento de crise e foi extremamente sensível a isso."
Os deputados Evair de Melo (PP) e Norma Ayub (DEM) não atenderam a reportagem.
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