As controversas atuações do governo federal e os recentes episódios envolvendo as Forças Armadas que, nesta terça-feira (10), promoveram um desfile de blindados em Brasília, no dia em que também seria apreciada a PEC do voto impresso, têm provocado debates sobre a proteção das instituições e, sobretudo, da democracia.
Na avaliação do ex-governador Paulo Hartung, é fundamental que a sociedade participe da defesa dos valores democráticos, papel que também deve ser sustentado pelos militares. Para ele, as Forças Armadas seguem em uma direção que compromete a imagem das próprias Forças, posição que não é boa nem para a instituição, nem para o país.
Com passagens pela Câmara Federal, Senado e até mesmo no período em que esteve à frente do Palácio Anchieta, Hartung teve a possibilidade de conviver com integrantes das Forças Armadas e falou dessa ligação e do cenário político atual em entrevista para o Papo de Colunista, de A Gazeta.
"Convivi com lideranças militares e tinha uma relação muito grande com as três forças (Exército, Marinha e Aeronáutica). Uma relação sempre de diálogo, cooperação", afirmou o ex-governador, atualmente na presidência da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ).
Hartung lembrou que as Forças Armadas passaram por um longo período de desgaste devido ao regime militar e, segundo ele, fizeram um grande esforço para recompor a sua imagem, operando de maneira profissionalizada nos marcos da Constituição Federal e, assim, retomaram uma posição importante. "Então, não é bom para eles nem para o país que todo esse trabalho seja desconstruído", opinou.
O ex-governador disse que esse é um ponto sensível e que provoca reflexões de praças a oficiais das Forças Armadas. Ele defendeu um processo de convencimento para mobilização das tropas na direção certa para que cumpram o papel constitucional de instituição de Estado, e não de governo.
Sobre o desfile militar desta terça-feira, Hartung o classificou como "impróprio" e questionou: "Foi bom para a imagem das Forças Armadas?", e ele próprio respondeu que não. Ele espera que toda a experiência do dia, inclusive a votação perdida para a retomada do voto impresso, sirva de aprendizado.
Hartung também comentou sobre o destaque na participação de militares no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), avaliando que há aspectos positivos, outros negativos. A gestão do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde foi um dos alvos de crítica. Ele argumentou que governar é mais difícil que comandar uma empresa privada e, além de técnica, é necessário sensibilidade política e social.
Questionado sobre o papel das instituições, tais como Supremo Tribunal Federal (STF) e Justiça Eleitoral, diante de ataques sistemáticos à democracia, Hartung também mencionou que há erros e acertos na atuação do Judiciário, do Legislativo e do Ministério Público. "Mas, na somatória, têm uma capacidade de resiliência e de defender a democracia do país."
Mesmo vislumbrando a sombra do autoritarismo em atos no cenário nacional, o ex-governador acredita mais na resistência da sociedade que faz frente às investidas contra a democracia.
Durante a entrevista, o ex-governador também falou sobre o processo eleitoral, embora ele sustente que não é o momento ideal e que os gestores públicos devem ter outras prioridades, tais como vacina contra a Covid-19 e a geração de emprego e renda, que é a preocupação da população.
De todo modo, questionado, ele fez uma análise da provável candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, junto a de Bolsonaro para a reeleição, polariza os debates no país. Hartung avaliou que há espaço para outros nomes, uma terceira via - ou uma "Avenida Brasil aberta", como brincou no bate-papo.
O ex-governador é considerado um conselheiro do apresentador Luciano Huck, que já teve o nome cogitado para concorrer à Presidência da República, mas nunca oficializou a sua intenção em participar da disputa. Hartung não citou nominalmente qualquer pré-candidato, mas observou que as pesquisas atuais demonstram que, pelos índices de rejeição aos principais nomes que hoje aparecem nos levantamentos – Lula e Bolsonaro – outros concorrentes são bastante viáveis.
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